http://blogdoski.blogspot.com.br/2016/04/o-diario-de-um-sonho.html
Mais surpresas.
Assim como minha
noiva havia me pedido, não falava mais nada a respeito do carro para ela, até
que um dia ela mesma me pediu para falar como estava à restauração do carro,
pois estava cansada de ouvir informações fragmentadas de uma ou outra pessoa,
mas mesmo ela me pedindo, ainda achei que deveria falar somente o necessário,
sem muita empolgação.
Já estávamos no dia 08 de outubro de 2005 e tínhamos que correr contra o tempo para conseguir ir para a praia com esse carro, o Tonhão já estava terminando a instalação elétrica do carro todo e o próximo passo seria a colocação dos vidros e principalmente do para-brisa.
O carro já estava pronto para funcionar normalmente e o Tonhão estava terminando a parte elétrica do farol, depois disso, o carro voltaria para a oficina do Português para fazer mais um polimento na pintura e ao mesmo tempo, levaria os vidros que haviam ficado no sótão da oficina do Português para a vidraçaria dentro do carro. O Tonhão trabalhava bem, mas como em todas as outras oficinas, meu carro não era o único que ele tinha para trabalhar e por não ser um carro de uso diário e nem de trabalho, ele trabalhava nele quando podia.
Aproveitando que o carro estava fazendo a parte elétrica no Tonhão, pedi ao Tito (da oficina que instalou o motor), que convertesse o motor do carro para Flex e o Tonhão faria a ligação da parte elétrica. Aproveitaria que o tanque de combustível ainda estava vazio, para abastecer somente com álcool o que seria mais econômico, já que meu pai trabalhava em uma usina e podíamos abastecer o carro na bomba de combustível dessa usina, sendo descontado o valor do abastecimento direto do salário dele (se ele tivesse salário depois que o carro começasse a rodar normalmente).
Meu pai passou durante a semana na vidraçaria para avisar o Paulinho que no sábado iríamos levar o carro para a colocação dos vidros e que poderia deixar o para-brisa pronto para colocar no carro, mas quando cheguei em casa à noite, a noticia que recebi foi desanimadora. O para-brisa havia sido retirado da caixa e estava todo estilhaçado, havia trincas que o percorriam de um lado ao outro. Disse o Paulinho que deve ter sido a têmpera do vidro, pois desde que o mesmo chegou da fábrica, havia ficado fechado dentro da caixa, sem que ninguém tivesse mexido, nem na caixa, nem nele (fato comprovado pelo meu pai que foi o primeiro a abrir a caixa).
Para piorar ainda mais a situação, a empresa que havia fabricado o para-brisa, havia fechado e os moldes estavam nessa empresa.
Já estávamos no dia 08 de outubro de 2005 e tínhamos que correr contra o tempo para conseguir ir para a praia com esse carro, o Tonhão já estava terminando a instalação elétrica do carro todo e o próximo passo seria a colocação dos vidros e principalmente do para-brisa.
O carro já estava pronto para funcionar normalmente e o Tonhão estava terminando a parte elétrica do farol, depois disso, o carro voltaria para a oficina do Português para fazer mais um polimento na pintura e ao mesmo tempo, levaria os vidros que haviam ficado no sótão da oficina do Português para a vidraçaria dentro do carro. O Tonhão trabalhava bem, mas como em todas as outras oficinas, meu carro não era o único que ele tinha para trabalhar e por não ser um carro de uso diário e nem de trabalho, ele trabalhava nele quando podia.
Aproveitando que o carro estava fazendo a parte elétrica no Tonhão, pedi ao Tito (da oficina que instalou o motor), que convertesse o motor do carro para Flex e o Tonhão faria a ligação da parte elétrica. Aproveitaria que o tanque de combustível ainda estava vazio, para abastecer somente com álcool o que seria mais econômico, já que meu pai trabalhava em uma usina e podíamos abastecer o carro na bomba de combustível dessa usina, sendo descontado o valor do abastecimento direto do salário dele (se ele tivesse salário depois que o carro começasse a rodar normalmente).
Meu pai passou durante a semana na vidraçaria para avisar o Paulinho que no sábado iríamos levar o carro para a colocação dos vidros e que poderia deixar o para-brisa pronto para colocar no carro, mas quando cheguei em casa à noite, a noticia que recebi foi desanimadora. O para-brisa havia sido retirado da caixa e estava todo estilhaçado, havia trincas que o percorriam de um lado ao outro. Disse o Paulinho que deve ter sido a têmpera do vidro, pois desde que o mesmo chegou da fábrica, havia ficado fechado dentro da caixa, sem que ninguém tivesse mexido, nem na caixa, nem nele (fato comprovado pelo meu pai que foi o primeiro a abrir a caixa).
Para piorar ainda mais a situação, a empresa que havia fabricado o para-brisa, havia fechado e os moldes estavam nessa empresa.
Não cheguei nem mesmo
a ver o estado do para-brisa de tão desanimado que havia ficado, parecia que
tudo estava contra mim, o trabalho cada vez mais corrido, meu curso técnico
cada vez mais exigente e minha noiva ainda com indícios de depressão e bulimia,
pedindo para ficar junto a ela.
Estava cansado e acabei parando com a academia, pois estava indo dormir lá pela 01:30h da manhã devido a pesquisas referentes a minha apresentação final do projeto do curso técnico e acordava as 05:30h para ir a academia, com isso consegui mais 01:00 h de sono pela manhã, se bem que do jeito que estava, não tinha nenhuma vontade nem motivação para sair da cama.
Chegamos ao dia 22 de Outubro de 2005 e tinha que conseguir um novo para-brisa para o carro, mas não tinha nem mesmo uma empresa em vista para fazer esse trabalho e ninguém nunca tinha ouvido falar em um carro parecido com esse em ferro velhos para que pudesse comprar um para-brisa, mesmo que usado.
Agora tinha um novo recurso nas mãos e poderia utilizá-lo para pesquisar e procurar peças, sendo assim a minha maior aliada nesse período foi à internet.
Pesquisando na internet, encontrei uma Plymouth 1957 preta para venda em São Paulo e entrei em contato com o proprietário, pois o carro estava bastante avariado, mas o vidro parecia estar intacto. Engano meu, pois o proprietário me enviou algumas fotos desse carro e percebi que havia um pequeno buraco no para-brisa, como se fosse um buraco provocado por uma pedra.
Estava cansado e acabei parando com a academia, pois estava indo dormir lá pela 01:30h da manhã devido a pesquisas referentes a minha apresentação final do projeto do curso técnico e acordava as 05:30h para ir a academia, com isso consegui mais 01:00 h de sono pela manhã, se bem que do jeito que estava, não tinha nenhuma vontade nem motivação para sair da cama.
Chegamos ao dia 22 de Outubro de 2005 e tinha que conseguir um novo para-brisa para o carro, mas não tinha nem mesmo uma empresa em vista para fazer esse trabalho e ninguém nunca tinha ouvido falar em um carro parecido com esse em ferro velhos para que pudesse comprar um para-brisa, mesmo que usado.
Agora tinha um novo recurso nas mãos e poderia utilizá-lo para pesquisar e procurar peças, sendo assim a minha maior aliada nesse período foi à internet.
Pesquisando na internet, encontrei uma Plymouth 1957 preta para venda em São Paulo e entrei em contato com o proprietário, pois o carro estava bastante avariado, mas o vidro parecia estar intacto. Engano meu, pois o proprietário me enviou algumas fotos desse carro e percebi que havia um pequeno buraco no para-brisa, como se fosse um buraco provocado por uma pedra.
Vendo as fotos dessa
Plymouth 1957 tinha certeza de que o sonho de ter um carro desses não era
apenas meu, imagine quantas pessoas no Brasil não procuraram por uma Plymouth
Fury ou Belvedere 1958 e só encontraram modelos de 1957?
Não sabia mais onde conseguir um novo para-brisa, pois mesmo que encontrasse outro carro para venda, dificilmente o proprietário venderia apenas o para-brisa, mas como já disse no início, sou um comprador assíduo de revistas de carros antigos, tanto que nem sei mais a quantidade de revista que possuo, pois depois que passou o número de 1.000 revistas, nunca mais contei! E foi exatamente numa dessas revistas que encontrei um anúncio de uma empresa de São Paulo para fazer um novo para-brisa para o carro e por uma enorme coincidência, foi nessa mesma edição da revista que estava anunciada para venda duas Plymouth 1957, uma azul e branca, quatro portas com coluna e outra vermelha e preta coupê, ambas no Sul do Brasil.
Já havia visto em um número anterior da revista, uma Plymouth Savoy quatro portas 1957 amarela para venda e até então, não tinha me interessado muito por esse anúncio, mas sinceramente esse anuncio da Plymouth Savoy 1957 vermelha e preta duas portas sem coluna, mexeu comigo, havia me despertado aquele sentimento antigo, aquele sonho de ter um Plymouth 1957 ou 1958, mas agora que estava quase terminando meu carro, tinha que me dedicar exclusivamente a ele, sentia que tinha que terminá-lo, além do mais, ainda tinha a minha parte da promessa que fiz para minha noiva para cumprir, pois mesmo ela tendo depressão e todos os outros problemas que foram aparecendo, até agora, ela estava cumprindo com a sua parte da promessa de esperar o quanto fosse possível o término da restauração do Dodge, agora já imaginou se resolvo quase no final da restauração, trocar de carro?
Mas como perguntar não é crime, liguei no número do anúncio para saber qual o valor pedido pelo carro e pedi para o proprietário me enviar fotos do mesmo (finalmente a tecnologia chegou em minha vida, agora possuía um e-mail). O proprietário me disse que já havia vendido o carro para São Paulo, mas mesmo assim ele me enviou algumas fotos do carro por e-mail.
Por acaso, acabei descobrindo que quem comprou essa Plymouth 1957 vermelha e preta, foi o mesmo proprietário da Plymouth 1957 preta (aquela, com um pequeno buraco no para-brisa) que me enviou fotos para ver o estado do para-brisa e veja só como o mundo é pequeno, pois a Plymouth 1957 Savoy amarela quatro portas que tinha visto para venda na revista, também era dele.
Não sabia mais onde conseguir um novo para-brisa, pois mesmo que encontrasse outro carro para venda, dificilmente o proprietário venderia apenas o para-brisa, mas como já disse no início, sou um comprador assíduo de revistas de carros antigos, tanto que nem sei mais a quantidade de revista que possuo, pois depois que passou o número de 1.000 revistas, nunca mais contei! E foi exatamente numa dessas revistas que encontrei um anúncio de uma empresa de São Paulo para fazer um novo para-brisa para o carro e por uma enorme coincidência, foi nessa mesma edição da revista que estava anunciada para venda duas Plymouth 1957, uma azul e branca, quatro portas com coluna e outra vermelha e preta coupê, ambas no Sul do Brasil.
Já havia visto em um número anterior da revista, uma Plymouth Savoy quatro portas 1957 amarela para venda e até então, não tinha me interessado muito por esse anúncio, mas sinceramente esse anuncio da Plymouth Savoy 1957 vermelha e preta duas portas sem coluna, mexeu comigo, havia me despertado aquele sentimento antigo, aquele sonho de ter um Plymouth 1957 ou 1958, mas agora que estava quase terminando meu carro, tinha que me dedicar exclusivamente a ele, sentia que tinha que terminá-lo, além do mais, ainda tinha a minha parte da promessa que fiz para minha noiva para cumprir, pois mesmo ela tendo depressão e todos os outros problemas que foram aparecendo, até agora, ela estava cumprindo com a sua parte da promessa de esperar o quanto fosse possível o término da restauração do Dodge, agora já imaginou se resolvo quase no final da restauração, trocar de carro?
Mas como perguntar não é crime, liguei no número do anúncio para saber qual o valor pedido pelo carro e pedi para o proprietário me enviar fotos do mesmo (finalmente a tecnologia chegou em minha vida, agora possuía um e-mail). O proprietário me disse que já havia vendido o carro para São Paulo, mas mesmo assim ele me enviou algumas fotos do carro por e-mail.
Por acaso, acabei descobrindo que quem comprou essa Plymouth 1957 vermelha e preta, foi o mesmo proprietário da Plymouth 1957 preta (aquela, com um pequeno buraco no para-brisa) que me enviou fotos para ver o estado do para-brisa e veja só como o mundo é pequeno, pois a Plymouth 1957 Savoy amarela quatro portas que tinha visto para venda na revista, também era dele.
Plymouth
1957 coupê, meu sonho sobre rodas anunciada numa revista especializada em
carros antigos.
Acima e abaixo, Plymouth Savoy 1957 que estava anunciada numa revista especializada em carros antigos.
Acima e abaixo,
Plymouth Savoy quatro portas 1957 amarela também anunciada na mesma revista
especializada em carros antigos.
Estava
impressionado com a internet, vasculhando pela rede mundial de computadores,
fiquei admirado com a quantidade de Plymouth 1957 que estavam aparecendo para
venda no Brasil, Num site de vendas de carros antigos, por exemplo, descobri
mais duas Plymouth 1957 para venda, ambas da cor azul e branca, só que uma era Savoy
quatro portas com coluna e a outra, uma Belvedere 1957 duas portas sem coluna,
muito avariada e faltando muitos detalhes.
Fiz questão de entrar em contato com o proprietário, que me enviou mais fotos dos carros por e-mail.
Fiz questão de entrar em contato com o proprietário, que me enviou mais fotos dos carros por e-mail.
Acima e abaixo, ambas as
Plymouth 1957 eram do mesmo proprietário, uma coupê...
E outra quatro portas ambas a venda na Internet.
Também encontrei na
Internet para venda, três De Soto 1957, um era coupê, mas restava somente a
lataria, sem detalhes, outro um verde quatro portas com coluna, aparentemente
em melhor estado e outro quatro portas preto, do qual também restava somente a
lataria para venda. Eles estavam todos para venda em um ferro velho próximo a
São Paulo e também encontrei um De Soto 1958 totalmente original, ainda com
câmbio por botões, todos para venda na internet. Mas sem dúvida a que mais me
chamou a atenção e acendeu novamente uma esperança de encontrar uma Plymouth
Fury 1958, foi uma Plymouth Fury 1957 vermelha e preta, que ficou anunciada num
site da internet para venda por quase dois meses.
Acima e abaixo um carro que pensava até então
nunca ver anunciado para venda no Brasil...
Plymouth Fury 1957...
À venda na
internet...
Para restauração.
Acima, De Soto
1957 quatro portas à venda na Internet, assim como o Dodge 1957, sua carroceria
também era igual a da Plymouth 1957.
Também
encontrei para a venda, duas carrocerias já bem deteriorada, sendo uma de um De Soto 1957
coupê (acima) e outra de um De Soto 1957 quatro portas (abaixo), ambas no mesmo estabelecimento.
Parece que quanto mais eu vasculhava a internet a procura de um para-brisa, mais Plymouth 1957 estavam aparecendo, alguns sites estavam se especializando em venda de carros usados e ali era possível encontrar um pouco de tudo, desde carros da década de 20 até os clássicos dos anos 50, mas sinceramente, o que eu mais procurava, eram modelos da Chrysler da década de 50 e acredito que os que mais encontrei foram Plymouth do ano de 1957, mesmo que procurasse um modelo de 1956 ou 1958, não havia nenhum disponível na internet, assim como coincidentemente, não encontrava nenhum Dodge 1957 para venda, não importando o modelo, só se via anúncios de Plymouth 1957 e alguns De Soto de 1957 e 1958 para venda.
Entrei em contato com cada um dos proprietários das Plymouth e dos De Soto anunciados, alguns por e-mail, outros por telefone mesmo, trocamos muita informações úteis para ambos, como onde encontrar peças e etc, mas infelizmente, nada de um para-brisa.
Confesso que de todos os carros que estavam para a venda na internet, apesar de serem todos raros (e, diga-se de passagem, meu sonho de consumo desde criança) o único que estava muito original e mais “inteiro” era o De Soto 1958 que além de ter o motor 6 cilindros original, também tinha o câmbio por botões original no painel. Era sem dúvida o mais barato de todos, se comparando por exemplo com o valor pedido apenas pelas latarias dos dois De Soto 1957, citados acima. Esse De Soto 1958 estava quase que de graça. Isso dava uma noção de como os vendedores de carros antigos estavam ciente das raridades que tinham em mãos e também de que os valores desses carros estavam disparando, mesmo alguns não valendo nem metade do que estavam cobrando por eles.
De todos os carros
para venda na Internet, este De Soto 1958 era o mais original e o que estava em
melhor estado para restauração.
Para falar a verdade,
depois de ver tantas Plymouth 1957 para venda na internet, estava até
arrependido de ter comprado um carro tão difícil e complicado de se restaurar
como o Dodge, não pelo modelo, mas pelo seu estado de conservação. Ficava
pensando comigo mesmo. E se eu tivesse esperado? Ou economizado? Ou mesmo
investido esse dinheiro em outras coisas como terrenos ou imóveis, quem sabe
hoje não estaria com o carro dos meus sonhos pronto ou com uma casa pronta, ou
até mesmo não teria passado por todos esses problemas que estava passando até
então. Estava começando a achar que minha noiva tinha razão, mas ao mesmo tempo
ficava pensando, e os meus sonhos? Se eu
tinha à oportunidade, não poderia tentar realizá-los?
Com isso refleti muito e cheguei à conclusão de que tudo que passei, tinha que ter passado por algum motivo, tinha que ser assim e não adiantava fica me lamentando, o que podia fazer era correr atrás do prejuízo, ou melhor, correr contra o tempo.
Entramos em contato com a empresa que encontrei na revista para fazer outro para-brisa e o proprietário pediu para ver o carro antes de fazer o molde, o preço do novo para-brisa estava mais barato do que os outros até então cotados e depois de ver o carro, ele levou o antigo para-brisa estilhaçado para fazer um molde. A única exigência dele era exatamente o contrário do que estava planejando! Ele só pediu um pouco de tempo, pois estava com muitos outros trabalhos já em andamento.
Apreensivo, concordei e encaminhei o carro para fazer a forração de teto na tapeçaria do Nardinho, outro conhecido do mundo dos carros antigos, por trabalhar com interiores em couro e também por ter na época um Fusca todo transformado com direito a lanterna modernas e até mesmo teto rebaixado.
Com isso refleti muito e cheguei à conclusão de que tudo que passei, tinha que ter passado por algum motivo, tinha que ser assim e não adiantava fica me lamentando, o que podia fazer era correr atrás do prejuízo, ou melhor, correr contra o tempo.
Entramos em contato com a empresa que encontrei na revista para fazer outro para-brisa e o proprietário pediu para ver o carro antes de fazer o molde, o preço do novo para-brisa estava mais barato do que os outros até então cotados e depois de ver o carro, ele levou o antigo para-brisa estilhaçado para fazer um molde. A única exigência dele era exatamente o contrário do que estava planejando! Ele só pediu um pouco de tempo, pois estava com muitos outros trabalhos já em andamento.
Apreensivo, concordei e encaminhei o carro para fazer a forração de teto na tapeçaria do Nardinho, outro conhecido do mundo dos carros antigos, por trabalhar com interiores em couro e também por ter na época um Fusca todo transformado com direito a lanterna modernas e até mesmo teto rebaixado.
Na
tapeçaria do Nardinho, um Ford Landau (acima) e um Maverick (abaixo), que só demonstrava que o antigomobilismo veio para ficar.
Acima uma Pick-up
Ford
Acima, Fusca do próprio Nardinho ainda em processo de montagem.O carro ficou durante algum tempo na oficina do Nardinho, e nesse tempo, estavam lá também um Ford Maverick e outro Ford, um Landau, além é claro do Fusca do Nardinho, o qual era o carro mais chamativo de sua tapeçaria.
Meu pai “decidiu” (sem me perguntar), que seria melhor diminuir a largura do banco dianteiro, pois estava muito grande no carro e acabava raspando nas colunas, dificultando para colocar os cintos de segurança, o Nardinho retirou a capa dos bancos e levou as ferragens para cortar numa outra oficina, na hora da montagem ele percebeu que o descanso de braço central do banco, havia ficado muito para traz de sua posição original e retirou novamente a capa e pediu para ajustar novamente o encosto e mesmo assim, quando ele montou o banco, o descanso de braço ainda estava longe da sua posição original, mas devido ao tempo em que ficou guardado, a capa do banco não suportaria ser desmontada novamente, caso contrário, teria que ser trocado toda a sua forração, pois o mesmo já estava muito frágil.
O Nardinho me deu duas opções, montar o banco assim mesmo ou fazer um novo! E devido ao pouco tempo e dinheiro que tínhamos, preferi montar assim mesmo, pretendendo futuramente trocar toda a cor do interior do carro por vermelho e preto, pois devido ao tempo que ficou parado sem ser limpo, a cor branca acabou manchando e ficou com manchas amarelas.
Já estávamos em Novembro e finalmente o proprietário da vidraçaria me ligou, dizendo que havia feito um molde na forma do vidro que havia estilhaçado e que em dez dias entregaria o vidro na vidraçaria do Paulinho e ele mesmo seria o responsável por colocar o vidro no carro.
Com a tapeçaria pronta, o carro foi novamente levado à funilaria do Português, para um novo polimento e também já sairia dali com os vidros laterais e o vidro traseiro dentro do carro, mas ainda faltavam alguns detalhes dentro do carro, como por exemplo, os varões de abertura das portas dianteiras, que simplesmente desapareceram, obrigando o carro a ficar mais alguns dias na oficina, para que fizessem dois novos varões no formato do original.
Conversando com o pintor Marcelo, ele achou melhor deixar o polimento para depois que colocássemos os vidros, pois assim eliminaria todas as graxas e sujeiras que ficassem na lataria, achei uma boa idéia e acabei concordando. No sábado seguinte, levei o carro até a vidraçaria para colocar os vidros laterais e traseiros.
No caminho até a vidraçaria, achei que o carro estava falhando um pouco, achei normal, pois precisava fazer uma revisão no motor antes de viajar.
Ao chegar, deixamos o carro na área de entrada da vidraçaria, que depois de aberta todas as portas, deixava o carro bem visível em frente a uma movimentada avenida, o que chamava muito a atenção de curiosos. Pedi ao Paulinho para tomar cuidado com esses curiosos, pois parece que muitos têm os olhos nas mãos, não sabem simplesmente admirar um carro com os olhos, tem que por a mão aqui, puxar um emblema ali para ver se sai entre outras coisas.
Teve até um rapaz que curioso, foi ver o emblema dianteiro que havia sobre o capô do carro e este depois de cromado ficou com uma ponta muito afiada, a qual chegou até a cortar a mão do rapaz.
O carro
já com a tapeçaria pronta, volta para a oficina do Português. Reparem nos
bancos dianteiros desalinhados e o encosto de braço muito para traz, detalhes
que seriam reparados mais tarde.
O carro
na vidraçaria, onde estavam sendo colocados os vidros.
Como todo ano, nossa
viajem estava marcada para dia 23 de Dezembro, e agora já se passava do dia 10
de Dezembro quando o proprietário da vidraçaria trouxe o novo para-brisa para
colocar no carro. Os vidros laterais novos e o vidro traseiro já estavam
colocados, mas ainda faltavam os frisos de toda a lateral da borracha do vidro
traseiro além de ter de calafetar com massa própria, toda a lateral da borracha
do vidro traseiro e dianteiro.
Meu pai acreditava que ainda daria tempo de terminar o carro para viajar e trabalhávamos durante alguns dias da semana até depois do expediente, pedindo para o Paulinho nos deixar ficar para terminar o carro e nos sábados até depois do almoço. Me lembro que ainda estava tendo aulas nesse período, era conclusão do curso, mas como eram aulas apenas para discutir o término do projeto, faltei alguns dias para conseguir terminar a parte dos frisos no vidro traseiro e também faltei no dia em que o para-brisa chegou. Sai direto do trabalho e fui sem jantar, para ver o novo para-brisa.
Me arrependi muito, pois tive duas desagradáveis surpresas, a primeira foi com a borracha do para-brisa que estava em muito mal estado e deixaria entrar água no carro, caso fosse colocada e a segunda foi que o novo para-brisa não encaixou no carro, faltando aproximadamente 0,5 centímetros para chegar até as colunas verticais.
O que aconteceu foi que o molde foi feito baseado no antigo vidro estilhaçado, o qual estava junto na caminhonete que trouxe o para-brisa novo e realmente o molde se encaixava perfeitamente no vidro estilhaçado. Conclusão: o molde estava certo, o para-brisa estilhaçado que foi feito antes é que estava errado.
Meu pai acreditava que ainda daria tempo de terminar o carro para viajar e trabalhávamos durante alguns dias da semana até depois do expediente, pedindo para o Paulinho nos deixar ficar para terminar o carro e nos sábados até depois do almoço. Me lembro que ainda estava tendo aulas nesse período, era conclusão do curso, mas como eram aulas apenas para discutir o término do projeto, faltei alguns dias para conseguir terminar a parte dos frisos no vidro traseiro e também faltei no dia em que o para-brisa chegou. Sai direto do trabalho e fui sem jantar, para ver o novo para-brisa.
Me arrependi muito, pois tive duas desagradáveis surpresas, a primeira foi com a borracha do para-brisa que estava em muito mal estado e deixaria entrar água no carro, caso fosse colocada e a segunda foi que o novo para-brisa não encaixou no carro, faltando aproximadamente 0,5 centímetros para chegar até as colunas verticais.
O que aconteceu foi que o molde foi feito baseado no antigo vidro estilhaçado, o qual estava junto na caminhonete que trouxe o para-brisa novo e realmente o molde se encaixava perfeitamente no vidro estilhaçado. Conclusão: o molde estava certo, o para-brisa estilhaçado que foi feito antes é que estava errado.
O problema da
borracha foi de fácil solução, pois o Paulinho tinha uma idêntica em sua
empresa, nem faço idéia de que veículo era, só sei que era vendida por metro e
serviu perfeitamente no carro.
Com isso, desanimado, meu pai admitiu que seria impossível viajar com o carro no final daquele ano, pois o novo para-brisa só ficaria pronto depois do dia 25 de Dezembro e nessa data já estaríamos na praia.
Na semana seguinte, finalmente havia chegado à data da apresentação do meu projeto de conclusão do curso de técnico de segurança do trabalho e durante essa semana havia me dedicado exclusivamente para a apresentação em público que faria.
No mesmo dia em que apresentaria o meu projeto, meu amigo de curso chamado Emerson também iria apresentar o seu e isso me tranquilizava mais, pois só apresentaria depois dele, sobrando um pouco de tempo para refletir sobre o tema que havia escolhido para o projeto e ter uma noção de quais as perguntas que a bancada de professores fariam para ele.
Com isso, desanimado, meu pai admitiu que seria impossível viajar com o carro no final daquele ano, pois o novo para-brisa só ficaria pronto depois do dia 25 de Dezembro e nessa data já estaríamos na praia.
Na semana seguinte, finalmente havia chegado à data da apresentação do meu projeto de conclusão do curso de técnico de segurança do trabalho e durante essa semana havia me dedicado exclusivamente para a apresentação em público que faria.
No mesmo dia em que apresentaria o meu projeto, meu amigo de curso chamado Emerson também iria apresentar o seu e isso me tranquilizava mais, pois só apresentaria depois dele, sobrando um pouco de tempo para refletir sobre o tema que havia escolhido para o projeto e ter uma noção de quais as perguntas que a bancada de professores fariam para ele.
Mas no dia da
apresentação fiquei sabendo que o projeto dele não havia ficado pronto a tempo,
então, seria apresentado somente o meu. Havia mais ou menos umas 50 pessoas na
sala e posso dizer que estava até calmo, pois sabia bem sobre o tema que iria
apresentar, afinal de contas, havia trabalhado nesse tema durante os dois anos
de curso.
Lembro-me que algumas semanas antes cheguei até a pedir a ajuda da minha noiva para digitar o projeto e isso ajudou muito a melhorar seu astral, pois mantinha sua mente ocupada, durante muito tempo.
Nas semanas que antecederam a minha apresentação, tive que esquecer tudo que fosse relacionado ao carro, pois não poderia ter qualquer tipo de distração nesse momento e posso até dizer que fui muito bem na apresentação final, concluindo assim o Curso de Técnico de Segurança do Trabalho, bem numa quinta feira, dia 22 de Dezembro de 2005, exatamente um dia antes de viajar.
Apesar de ser o primeiro a apresentar o projeto, fui o último do ano, as outras apresentações continuariam somente no próximo ano (2006) e mesmo assim eu teria que comparecer, até a última apresentação. Mas só o fato de ter concluído o curso já foi o suficiente para retirar uma preocupação da cabeça, foi como se estivesse carregando um “caminhão nas costas” nesses últimos meses e finalmente havia tirado esse “peso das costas”, agora poderia descansar durante uma semana na praia, sem preocupações.
No trabalho, todos os dias e horas trabalhados a mais geraram mais de uma semana de hora extra, a qual usei para viajar, realmente nesse ano quase havia “me matado” de trabalhar, foram quase todos os dias fazendo hora extra, saindo do trabalho sem conseguir jantar ou mesmo tomar um banho antes de ir para o curso, enfim, trabalhei até alguns sábados, mas valeu a pena fazer todo esse esforço pois poderia viajar tranquilo, sem deixar nenhuma pendência.
Ano novo, problemas antigos.
Pensava que minhas férias seriam para descansar e aproveitar esse período junto de minha noiva, mas não contava com a presença incomoda da já quase esquecida depressão e para acabar de vez com as férias, ela resolveu atacar justamente no segundo dia em que estávamos na praia, mas devo dizer que dessa vez ela serviu para uma decisão, pois, depois de toda esta estafa que havia passado durante o ano, foi à hora de tomar uma decisão final, era como dizem os mais velhos aqui no interior, agora “ou vai ou racha”.
Lembro-me que algumas semanas antes cheguei até a pedir a ajuda da minha noiva para digitar o projeto e isso ajudou muito a melhorar seu astral, pois mantinha sua mente ocupada, durante muito tempo.
Nas semanas que antecederam a minha apresentação, tive que esquecer tudo que fosse relacionado ao carro, pois não poderia ter qualquer tipo de distração nesse momento e posso até dizer que fui muito bem na apresentação final, concluindo assim o Curso de Técnico de Segurança do Trabalho, bem numa quinta feira, dia 22 de Dezembro de 2005, exatamente um dia antes de viajar.
Apesar de ser o primeiro a apresentar o projeto, fui o último do ano, as outras apresentações continuariam somente no próximo ano (2006) e mesmo assim eu teria que comparecer, até a última apresentação. Mas só o fato de ter concluído o curso já foi o suficiente para retirar uma preocupação da cabeça, foi como se estivesse carregando um “caminhão nas costas” nesses últimos meses e finalmente havia tirado esse “peso das costas”, agora poderia descansar durante uma semana na praia, sem preocupações.
No trabalho, todos os dias e horas trabalhados a mais geraram mais de uma semana de hora extra, a qual usei para viajar, realmente nesse ano quase havia “me matado” de trabalhar, foram quase todos os dias fazendo hora extra, saindo do trabalho sem conseguir jantar ou mesmo tomar um banho antes de ir para o curso, enfim, trabalhei até alguns sábados, mas valeu a pena fazer todo esse esforço pois poderia viajar tranquilo, sem deixar nenhuma pendência.
Ano novo, problemas antigos.
Pensava que minhas férias seriam para descansar e aproveitar esse período junto de minha noiva, mas não contava com a presença incomoda da já quase esquecida depressão e para acabar de vez com as férias, ela resolveu atacar justamente no segundo dia em que estávamos na praia, mas devo dizer que dessa vez ela serviu para uma decisão, pois, depois de toda esta estafa que havia passado durante o ano, foi à hora de tomar uma decisão final, era como dizem os mais velhos aqui no interior, agora “ou vai ou racha”.
Um dia saímos para
caminhar na praia, depois de um longo dia de discussão e nos sentamos num pequeno
muro à beira do mar, com uma suave brisa de final de tarde, não havia mais
quase ninguém na areia da praia e ficamos observando todo aquele imenso azul,
com um por do sol um tanto tímido devido algumas nuvens que teimavam em
aparecer quase todos os dias.
Conversei muito com minha noiva, perguntei o que realmente ela pretendia para o futuro? Me lembrei de que há quase dois anos atrás, foi nessa mesma praia de Peruíbe, SP, que havíamos feito nosso noivado, bem na virada de ano, de todas as alegrias e promessas de amor eterno, entre outras coisas boas que aconteceram, e agora, estávamos de volta na mesma praia para uma outra decisão.
Durante a conversa, entre outras coisas, ela me disse que precisava muito de minha ajuda, pois ela sabia que o que estava fazendo era errado, que gostaria de sair dessa depressão e ser feliz ao meu lado.
Pela primeira vez ela não tinha tocado no assunto da restauração do carro, falamos apenas de nós mesmos, pois ela estava convencida de que eu a amava mais que tudo e que meu orgulho apesar de tudo, não me deixava desistir de terminar esse carro.
Anos atrás, estava lavando o carro e comecei a observar suas linhas, seu desenho, sua aerodinâmica e fiquei imaginando como ele ficaria depois de restaurado, pintado de vermelho, com o sol já se pondo, sendo refletido em sua carroceria e ofuscando a vista devido aos seus cromados refletindo a luz do sol, imaginava estar parado em algum lugar com muitas árvores junto da minha noiva, deitados na grama com o rádio ligado, ouvindo Santo & Jhonny, tocando And I Love Her e Perfídia na voz de Nat King Kole, sem nenhuma preocupação, apenas aproveitando o momento.
Já havia comentado com minha noiva sobre isso, sobre visualizar a imagem do Dodge restaurado, brilhando como se tivesse acabado de sair da linha de montagem, a mesma que tive quando o vi pessoalmente pela primeira vez, naquele barracão abandonado, mas agora, tinha dúvidas se isso iria se realizar. Ir para os encontros de carros antigos junto dela, ouvindo Ricthie Valens cantando Come On Let’s Go ou ouvindo Doo Wops como The Viscounts cantando Who Up The Bomp e ela sempre me dizia que tudo que eu quero, eu sempre consigo.
Realmente, não acho que seja sorte, mas força de vontade para conseguir o que realmente quero e lembrando disso, agora conversando com ela a beira do mar, perguntei se no próximo ano, ela gostaria de voltar para essa mesma praia, mas não como minha noiva, e sim como minha esposa? E ela nem pensou para responder que sim.
Conversei muito com minha noiva, perguntei o que realmente ela pretendia para o futuro? Me lembrei de que há quase dois anos atrás, foi nessa mesma praia de Peruíbe, SP, que havíamos feito nosso noivado, bem na virada de ano, de todas as alegrias e promessas de amor eterno, entre outras coisas boas que aconteceram, e agora, estávamos de volta na mesma praia para uma outra decisão.
Durante a conversa, entre outras coisas, ela me disse que precisava muito de minha ajuda, pois ela sabia que o que estava fazendo era errado, que gostaria de sair dessa depressão e ser feliz ao meu lado.
Pela primeira vez ela não tinha tocado no assunto da restauração do carro, falamos apenas de nós mesmos, pois ela estava convencida de que eu a amava mais que tudo e que meu orgulho apesar de tudo, não me deixava desistir de terminar esse carro.
Anos atrás, estava lavando o carro e comecei a observar suas linhas, seu desenho, sua aerodinâmica e fiquei imaginando como ele ficaria depois de restaurado, pintado de vermelho, com o sol já se pondo, sendo refletido em sua carroceria e ofuscando a vista devido aos seus cromados refletindo a luz do sol, imaginava estar parado em algum lugar com muitas árvores junto da minha noiva, deitados na grama com o rádio ligado, ouvindo Santo & Jhonny, tocando And I Love Her e Perfídia na voz de Nat King Kole, sem nenhuma preocupação, apenas aproveitando o momento.
Já havia comentado com minha noiva sobre isso, sobre visualizar a imagem do Dodge restaurado, brilhando como se tivesse acabado de sair da linha de montagem, a mesma que tive quando o vi pessoalmente pela primeira vez, naquele barracão abandonado, mas agora, tinha dúvidas se isso iria se realizar. Ir para os encontros de carros antigos junto dela, ouvindo Ricthie Valens cantando Come On Let’s Go ou ouvindo Doo Wops como The Viscounts cantando Who Up The Bomp e ela sempre me dizia que tudo que eu quero, eu sempre consigo.
Realmente, não acho que seja sorte, mas força de vontade para conseguir o que realmente quero e lembrando disso, agora conversando com ela a beira do mar, perguntei se no próximo ano, ela gostaria de voltar para essa mesma praia, mas não como minha noiva, e sim como minha esposa? E ela nem pensou para responder que sim.
Minha
esposa na praia, mesmo sem o uso de remédios os efeitos da medicação
permaneciam e com ela a depressão.
Tem um ditado popular
que diz que Deus escreve certo por linhas tortas e realmente acredito que isso
seja verdade, pois tudo deu errado para ir com o Dodge para a praia, mas se
tivesse chegado a ir com ele, teria várias “dores de cabeça”. A primeira seria onde
deixá-lo, pois a casa alugada neste ano era a vizinha da que ficamos nos anos
anteriores e somente depois que chegamos na casa é que fui reparar que em sua
garagem, quase não entrava o Gol que tínhamos na época, pois era muito estreita. Agora, imagine o Dodge com
seus quase dois metros de largura! Se chegasse a entrar na garagem, nem abriria a
porta, sendo assim teria que deixá-lo na rua todas as noites e certamente teria
que dormir dentro dele! Imagine a “felicidade” que minha noiva sentiria ao dar
uma noticia dessas para ela:
“Olha querida, vou dormir no carro por que ele não cabe na garagem e você vai dormir sozinha no quarto”.
Outro problema seria à volta, pois no último dia resolvemos voltar por uma rodovia que passava em um trecho da BR 116, conhecida como “rodovia da morte” por seus graves acidentes e pela má conservação de suas pistas, além de também passar por uma serra cheia de curvas, que no dia da volta, estava com muita neblina e chuvisqueiro durante a noite, mas graças a Deus durante a viajem correu tudo bem.
Quando voltamos da praia, anunciamos para os nossos pais que iríamos nos casar e a data pretendida era em Dezembro de 2006, sendo que teríamos um ano todo para organizar tudo o que era preciso e procurar uma casa. Pretendia fazer um financiamento para conseguir comprar uma casa, mas mesmo assim, ainda teria de terminar o carro, pois não consigo deixar um compromisso pela metade e além de tudo eu detesto o fracasso.
Tinha em mente apenas terminar de montar o carro e não fazer mais nada nele por enquanto, pois todo dinheiro que ganharia iria para o casamento.
Depois que voltamos da praia, minha noiva melhorou consideravelmente, tinha seus dias de stress, mas nos dias de hoje, não é necessário ter depressão para ficar stressado, além disso, não demonstrava mais sinais de bulimia, estava até começando a se alimentar e a dormir melhor, mas para isso, foi preciso deixar de vez o acompanhamento com a psicóloga (que mais atrapalhou do que ajudou) e fazer meses de tratamento com um psiquiatra em Piracicaba, SP e muitos remédios contra depressão, ansiedade e insônia. Com essa melhora, veio também o interesse pelo carro.
Ela pediu para ver as fotos do carro que não tinha tido coragem de ver quando estava em crise, pois nessa época, nem mesmo as fotos que fiz da restauração do carro ela queria ver. Até mesmo um quadro que estava no meu quarto com uma foto do carro, (que tive de guardá-lo, pois ela não conseguia olhar para ele), voltei a pendurar novamente no quarto sem que ela reclamasse. Havia chegado a um ponto em que ela acreditava que o carro era como uma minha amante, uma garota que queria tirar o seu lugar e foi difícil colocar na sua cabeça que o carro é apenas um monte de ferro, tinta, vidros, borracha e nada mais e que a coisa mais importante era ela.
Era começo do ano, estava de volta ao trabalho, de volta as aulas do curso, mas agora sem preocupações, estava comparecendo a aula apenas para prestigiar a apresentação dos companheiros de curso e também de volta a restauração do carro.
Todos no curso, perguntavam pelo carro, queriam vê-lo antes do término do curso, que seria o início de fevereiro, mas provavelmente, não conseguiria terminar antes da formatura, não estava mais com pressa para terminá-lo, apenas queria terminá-lo sem preocupações, sem correria e sem stress, pretendia fazê-lo voltar a ser um hobby e não uma obrigação.
Finalmente o novo para-brisa havia chegado e fomos num sábado de manhã para colocá-lo no carro, que ficou desde o dia da viagem até a nossa volta na vidraçaria e dessa vez, havia sido feito três moldes no próprio carro, ficando difícil de sair fora da medida, pois os mesmos foram soldados uns nos outros formando uma única peça.
O Proprietário da empresa de vidros me disse que já fez inúmeros vidros para carros antigos, mas nunca tinha visto um carro igual ao meu e ele mesmo fez questão de colocar o para-brisa no carro, que dessa vez serviu “como uma luva”.
Depois de colocado o para-brisa, comecei a marcar os locais onde teria que furar as colunas para fixar os frisos, mas não daria tempo de fazer isso nesse sábado, pois, apesar de ser amigo o Paulinho também precisava descansar e também, já estava precisando do espaço onde estava o carro, pois nosso acordo era de que o carro ficaria ali até ser colocado o vidro, sendo assim, teria que colocar os frisos em outro lugar.
“Olha querida, vou dormir no carro por que ele não cabe na garagem e você vai dormir sozinha no quarto”.
Outro problema seria à volta, pois no último dia resolvemos voltar por uma rodovia que passava em um trecho da BR 116, conhecida como “rodovia da morte” por seus graves acidentes e pela má conservação de suas pistas, além de também passar por uma serra cheia de curvas, que no dia da volta, estava com muita neblina e chuvisqueiro durante a noite, mas graças a Deus durante a viajem correu tudo bem.
Quando voltamos da praia, anunciamos para os nossos pais que iríamos nos casar e a data pretendida era em Dezembro de 2006, sendo que teríamos um ano todo para organizar tudo o que era preciso e procurar uma casa. Pretendia fazer um financiamento para conseguir comprar uma casa, mas mesmo assim, ainda teria de terminar o carro, pois não consigo deixar um compromisso pela metade e além de tudo eu detesto o fracasso.
Tinha em mente apenas terminar de montar o carro e não fazer mais nada nele por enquanto, pois todo dinheiro que ganharia iria para o casamento.
Depois que voltamos da praia, minha noiva melhorou consideravelmente, tinha seus dias de stress, mas nos dias de hoje, não é necessário ter depressão para ficar stressado, além disso, não demonstrava mais sinais de bulimia, estava até começando a se alimentar e a dormir melhor, mas para isso, foi preciso deixar de vez o acompanhamento com a psicóloga (que mais atrapalhou do que ajudou) e fazer meses de tratamento com um psiquiatra em Piracicaba, SP e muitos remédios contra depressão, ansiedade e insônia. Com essa melhora, veio também o interesse pelo carro.
Ela pediu para ver as fotos do carro que não tinha tido coragem de ver quando estava em crise, pois nessa época, nem mesmo as fotos que fiz da restauração do carro ela queria ver. Até mesmo um quadro que estava no meu quarto com uma foto do carro, (que tive de guardá-lo, pois ela não conseguia olhar para ele), voltei a pendurar novamente no quarto sem que ela reclamasse. Havia chegado a um ponto em que ela acreditava que o carro era como uma minha amante, uma garota que queria tirar o seu lugar e foi difícil colocar na sua cabeça que o carro é apenas um monte de ferro, tinta, vidros, borracha e nada mais e que a coisa mais importante era ela.
Era começo do ano, estava de volta ao trabalho, de volta as aulas do curso, mas agora sem preocupações, estava comparecendo a aula apenas para prestigiar a apresentação dos companheiros de curso e também de volta a restauração do carro.
Todos no curso, perguntavam pelo carro, queriam vê-lo antes do término do curso, que seria o início de fevereiro, mas provavelmente, não conseguiria terminar antes da formatura, não estava mais com pressa para terminá-lo, apenas queria terminá-lo sem preocupações, sem correria e sem stress, pretendia fazê-lo voltar a ser um hobby e não uma obrigação.
Finalmente o novo para-brisa havia chegado e fomos num sábado de manhã para colocá-lo no carro, que ficou desde o dia da viagem até a nossa volta na vidraçaria e dessa vez, havia sido feito três moldes no próprio carro, ficando difícil de sair fora da medida, pois os mesmos foram soldados uns nos outros formando uma única peça.
O Proprietário da empresa de vidros me disse que já fez inúmeros vidros para carros antigos, mas nunca tinha visto um carro igual ao meu e ele mesmo fez questão de colocar o para-brisa no carro, que dessa vez serviu “como uma luva”.
Depois de colocado o para-brisa, comecei a marcar os locais onde teria que furar as colunas para fixar os frisos, mas não daria tempo de fazer isso nesse sábado, pois, apesar de ser amigo o Paulinho também precisava descansar e também, já estava precisando do espaço onde estava o carro, pois nosso acordo era de que o carro ficaria ali até ser colocado o vidro, sendo assim, teria que colocar os frisos em outro lugar.
Também achei
conveniente tirar o carro da vidraçaria, pois não era responsabilidade dele,
caso alguém quebrasse alguma coisa e como ele mesmo disse, toda hora parava
alguém para perguntar sobre o carro e ficava abrindo e fechando as portas,
o porta-malas e o capô para ver o motor. Houve uma pessoa que até chegou a
escrever na poeira da tampa do porta-malas o telefone dele para contato.
Meu pai estava de férias no mês de Janeiro e aproveitando esse tempo livre, ele se propôs a terminar os detalhes que faltavam para colocar os frisos do para-brisa dianteiro e levar o carro para fazer o último polimento na funilaria do Português.
Em dois dias ele fez a calefação dos vidros dianteiros, levando o carro logo em seguida para a funilaria do Português, onde ele colocou os frisos.
Meu pai estava de férias no mês de Janeiro e aproveitando esse tempo livre, ele se propôs a terminar os detalhes que faltavam para colocar os frisos do para-brisa dianteiro e levar o carro para fazer o último polimento na funilaria do Português.
Em dois dias ele fez a calefação dos vidros dianteiros, levando o carro logo em seguida para a funilaria do Português, onde ele colocou os frisos.
Ele lembrou que tinha de fazer os
buracos de vazão de água do interior das portas do carro, pois caso entrasse
água dentro dos vãos das portas ao lavar ou chover, esta não teria saída e
acabaria acumulando sujeira dentro da porta do carro.
Aparentemente era um serviço simples.
Aparentemente era um serviço simples.
Para fazer esses buracos, ele teria que deitar debaixo da
porta com a furadeira para conseguir furar num ângulo onde a água saísse com
facilidade. Porém, num desses buracos, ele acabou enroscando a broca da
furadeira que foi para o lado contrário, furando assim a lateral da porta do
lado direito (porta do acompanhante).
Como se só isso não bastasse, quando o Baixinho estava fazendo o alinhamento das portas e meu pai foi ajudá-lo (depois de colocado as borrachas nas portas elas ficaram um pouco desalinhadas). Com as portas dianteiras e traseiras abertas, ambos estavam dentro do carro quando dois rapazes da oficina do LL (de novo o pessoal da oficina do LL) foram buscar um protetor de caçamba que estava na oficina do Português. Quando os dois rapazes estavam saindo com o protetor de caçamba, o rapaz que estava na frente caminhava de costas, andando para trás, sem ver para onde estava indo e acabou batendo o protetor de caçamba num cilindro de solda, derrubando ele sobre a porta do carro, riscando a amassando a mesma porta que meu pai havia furado, e por questão de dois centímetros, não quebrou o para-brisa novo com o registro do cilindro.
Parecia que não era para o carro sair da oficina, mas felizmente, já estava na reta final, pois isso para o pintor Marcelo e o funileiro Baixinho era um detalhe fácil de refazer, era só retirar o friso, reparar o furo e o amassado e preparar para pintura e por coincidência, ambas as avarias foram na mesma porta, levando apenas mais uma semana para que o carro fosse para casa definitivamente.
No último sábado em que fui até a funilaria para buscar o carro, aproveitei para fazer os últimos furos na lataria para colocar os retrovisores externos e montar alguns detalhes internos, como o retrovisor, acabamento das portas e detalhes do painel e mesmo assim ainda deixei para montar em casa o rádio e a tampa do porta-luvas.
Como se só isso não bastasse, quando o Baixinho estava fazendo o alinhamento das portas e meu pai foi ajudá-lo (depois de colocado as borrachas nas portas elas ficaram um pouco desalinhadas). Com as portas dianteiras e traseiras abertas, ambos estavam dentro do carro quando dois rapazes da oficina do LL (de novo o pessoal da oficina do LL) foram buscar um protetor de caçamba que estava na oficina do Português. Quando os dois rapazes estavam saindo com o protetor de caçamba, o rapaz que estava na frente caminhava de costas, andando para trás, sem ver para onde estava indo e acabou batendo o protetor de caçamba num cilindro de solda, derrubando ele sobre a porta do carro, riscando a amassando a mesma porta que meu pai havia furado, e por questão de dois centímetros, não quebrou o para-brisa novo com o registro do cilindro.
Parecia que não era para o carro sair da oficina, mas felizmente, já estava na reta final, pois isso para o pintor Marcelo e o funileiro Baixinho era um detalhe fácil de refazer, era só retirar o friso, reparar o furo e o amassado e preparar para pintura e por coincidência, ambas as avarias foram na mesma porta, levando apenas mais uma semana para que o carro fosse para casa definitivamente.
No último sábado em que fui até a funilaria para buscar o carro, aproveitei para fazer os últimos furos na lataria para colocar os retrovisores externos e montar alguns detalhes internos, como o retrovisor, acabamento das portas e detalhes do painel e mesmo assim ainda deixei para montar em casa o rádio e a tampa do porta-luvas.
No
detalhe da foto, local onde ocorreram às avarias da porta.
Nesta
foto o carro finalmente montado, polido e pronto para sair da oficina.
Durante a semana que
meu pai havia trabalhado no carro, ele fez muitas coisas como, por exemplo, ter
retirado o banco dianteiro que é inteiriço, junto do banco traseiro, para colocar
o velho carpete que já pertencia ao carro, novamente, colando o mesmo no assoalho do carro. Depois de colocado o carpete ele
voltou os bancos no lugar (isso tudo tendo dores nas costas e sérios problemas
de coluna).
Finalmente era sábado, um sábado ensolarado e o carro já estava montado e pronto para rodar, verifiquei todas as luzes e lanternas do carro e tudo estava funcionando normalmente. Depois de muito tempo de espera, (e uma vida inteira sonhando com esse momento) finalmente girei a chave na partida, vi as luzes de óleo e amperagem se acenderam e apagaram logo em seguida e o carro finalmente funcionou. Dirigi lentamente para fora da funilaria, confesso, um pouco receoso, mas com muita saudade de dirigir esse carro.
Já era quase meio dia quando finalmente, levamos o carro para casa.
Mas antes passamos num posto de gasolina para abastecer e nem preciso dizer, foi a atração no posto.
Mas no caminho até o posto, reparei em algo estranho, o carro parecia que não rendia como antes, parecia que o motor estava mais fraco, lembro-me que quando foi colocado esse motor no carro, ele parecia mais potente.
Um exemplo disso foi numa noite que estava passando com ele (já com sua nova mecânica 6 cilindros de Silverado) em frente à lanchonete Quinta Skina em Rio das Pedras e meu amigo Nilo que trabalha na lanchonete, me chamou com um assobio quando estava descendo a rua ao lado da lanchonete, eu já estava quase no final da rua. Sem pensar duas vezes, engatei a marcha ré e voltei meio quarteirão “fritando” os pneus traseiros. Só ouvi ele dizendo:
"Seu filho da mãe, Você só fez isso para me deixar com inveja! "
Ele queria me dizer que havia comprado uma Chevrolet Brasil 1963 e havia colocado nela a mesma mecânica que eu tinha colocado no Dodge, mas não estava conseguindo fazer a ligação elétrica do motor, então recomendei a ele, a oficina do Tonhão, mas depois de alguns meses, ele acabou desistindo da restauração e acabou vendendo essa caminhonete para um outro amigo meu.
Finalmente era sábado, um sábado ensolarado e o carro já estava montado e pronto para rodar, verifiquei todas as luzes e lanternas do carro e tudo estava funcionando normalmente. Depois de muito tempo de espera, (e uma vida inteira sonhando com esse momento) finalmente girei a chave na partida, vi as luzes de óleo e amperagem se acenderam e apagaram logo em seguida e o carro finalmente funcionou. Dirigi lentamente para fora da funilaria, confesso, um pouco receoso, mas com muita saudade de dirigir esse carro.
Já era quase meio dia quando finalmente, levamos o carro para casa.
Mas antes passamos num posto de gasolina para abastecer e nem preciso dizer, foi a atração no posto.
Mas no caminho até o posto, reparei em algo estranho, o carro parecia que não rendia como antes, parecia que o motor estava mais fraco, lembro-me que quando foi colocado esse motor no carro, ele parecia mais potente.
Um exemplo disso foi numa noite que estava passando com ele (já com sua nova mecânica 6 cilindros de Silverado) em frente à lanchonete Quinta Skina em Rio das Pedras e meu amigo Nilo que trabalha na lanchonete, me chamou com um assobio quando estava descendo a rua ao lado da lanchonete, eu já estava quase no final da rua. Sem pensar duas vezes, engatei a marcha ré e voltei meio quarteirão “fritando” os pneus traseiros. Só ouvi ele dizendo:
"Seu filho da mãe, Você só fez isso para me deixar com inveja! "
Ele queria me dizer que havia comprado uma Chevrolet Brasil 1963 e havia colocado nela a mesma mecânica que eu tinha colocado no Dodge, mas não estava conseguindo fazer a ligação elétrica do motor, então recomendei a ele, a oficina do Tonhão, mas depois de alguns meses, ele acabou desistindo da restauração e acabou vendendo essa caminhonete para um outro amigo meu.
Acima e abaixo, a antiga
caminhonete do Nilo com a mesma mecânica de Silverado que usei no meu Dodge.
Aparentemente o motor
do Dodge não estava rendendo, quando cheguei em casa, não liguei mais o carro,
pois apesar de estar feliz por ele estar em casa, também precisava dar atenção
a Flávia, pois estava com receio de ir até a casa dela com o Dodge e ela ter
uma recaída. No domingo pela manhã liguei o carro, ele demorava muito para
funcionar e depois ficava falhando, resolvi então deixá-lo parado o dia todo,
aproveitei para instalar o rádio e colocar os últimos detalhes de acabamento,
antes de ir até a casa da Flávia.
Na segunda-feira, meu pai e eu, falamos com o Tito para saber se era normal um carro adaptado a álcool se comportar dessa maneira e ele pediu para que no próximo sábado pela manhã, levássemos o carro até a sua oficina para ver o que estava acontecendo.
Durante essa semana, confesso que foi difícil ver aquele carro parado na garagem e não poder sair com ele, estava ansioso para finalmente colocá-lo para rodar, para mostrá-lo para os amigos, mas tive que conter essa ansiedade, até por que ainda não sabia como seria a reação da minha noiva.
No sábado pela manhã, durante o caminho até a oficina, o carro apresentou muitas falhas, muitos cortes, parecia até que estava sem combustível, mas o marcador estava marcando corretamente mais de meio tanque. Quando chegamos na oficina ele pediu para ligar o carro e conectou um pequeno chicote elétrico que estava escondido de baixo do painel, num aparelho que fez toda a leitura do estado e funcionamento do motor.
Com esse aparelho, foi possível verificar que o carro estava com um cabo de vela queimado e estava com o motor muito frio, foi preciso trocar o cabo de vela e assim aproveitei para trocar os seis de uma vez, e para resolver o problema da temperatura do motor, colocamos uma válvula termostática mais forte, para abrir com uma temperatura mais elevada, O Tito me explicou que com o motor frio, a sonda lambda que fica bem na curva do coletor de escapamento ficava molhada devido ao combustível que não era queimado e era liberado do motor junto com os gases pelo escapamento, sendo assim, ela não fazia a leitura correta para um bom funcionamento do motor.
Depois de tudo isso, o carro continuava com falhas, então resolvemos retirar a bomba de gasolina para avaliar seu filtro interno e para nossa surpresa, este filtro estava completamente cheio de terra e havia mais ainda no fundo do tanque.
Não sei como essa terra foi parar dentro do tanque, pois lembro muito bem que no dia em que o colocamos, lavamos ele umas duas vezes antes de colocá-lo para não ficar impurezas. Foi preciso limpar o tanque de combustível por dentro com um pano para conseguir remover todas as impurezas que estavam dentro dele e trocar o pequeno filtro interno, depois disso o carro funcionou perfeitamente.
Na segunda-feira, meu pai e eu, falamos com o Tito para saber se era normal um carro adaptado a álcool se comportar dessa maneira e ele pediu para que no próximo sábado pela manhã, levássemos o carro até a sua oficina para ver o que estava acontecendo.
Durante essa semana, confesso que foi difícil ver aquele carro parado na garagem e não poder sair com ele, estava ansioso para finalmente colocá-lo para rodar, para mostrá-lo para os amigos, mas tive que conter essa ansiedade, até por que ainda não sabia como seria a reação da minha noiva.
No sábado pela manhã, durante o caminho até a oficina, o carro apresentou muitas falhas, muitos cortes, parecia até que estava sem combustível, mas o marcador estava marcando corretamente mais de meio tanque. Quando chegamos na oficina ele pediu para ligar o carro e conectou um pequeno chicote elétrico que estava escondido de baixo do painel, num aparelho que fez toda a leitura do estado e funcionamento do motor.
Com esse aparelho, foi possível verificar que o carro estava com um cabo de vela queimado e estava com o motor muito frio, foi preciso trocar o cabo de vela e assim aproveitei para trocar os seis de uma vez, e para resolver o problema da temperatura do motor, colocamos uma válvula termostática mais forte, para abrir com uma temperatura mais elevada, O Tito me explicou que com o motor frio, a sonda lambda que fica bem na curva do coletor de escapamento ficava molhada devido ao combustível que não era queimado e era liberado do motor junto com os gases pelo escapamento, sendo assim, ela não fazia a leitura correta para um bom funcionamento do motor.
Depois de tudo isso, o carro continuava com falhas, então resolvemos retirar a bomba de gasolina para avaliar seu filtro interno e para nossa surpresa, este filtro estava completamente cheio de terra e havia mais ainda no fundo do tanque.
Não sei como essa terra foi parar dentro do tanque, pois lembro muito bem que no dia em que o colocamos, lavamos ele umas duas vezes antes de colocá-lo para não ficar impurezas. Foi preciso limpar o tanque de combustível por dentro com um pano para conseguir remover todas as impurezas que estavam dentro dele e trocar o pequeno filtro interno, depois disso o carro funcionou perfeitamente.
Encontros.
Depois de limpo, o carro funcionou perfeitamente, para voltar para Rio das Pedras, foi difícil de “segurar o pé”, pois estava com vontade de ver qual o rendimento do motor com o álcool, aproveitando também que a pista que saía de Piracicaba até a pista de acesso a Rio das Pedras havia sido duplicada e estava em perfeito estado, não me contive e levei o Dodge a até 180 Km/h.
Logo atrás vinha meu pai com o Gol, pois como nós não sabíamos se teria que deixar o carro na oficina, ele então resolveu me acompanhar, mas na volta cheguei até a perdê-lo de vista. Não tem como descrever, como era rodar com o carro pronto, com o vidro do motorista abaixado, com o braço esquerdo do lado de fora, o som em alto volume ouvindo Little Richard praticamente berrando Good Golly Miss Molly, vendo aquele enorme capô vermelho à frente com os emblemas e os frisos refletindo o sol no meu rosto, é realmente uma sensação única, não tem como explicar em palavras, havia esperado uma vida inteira para ter essa sensação e quanto mais acelerava o carro, mais vontade me dava de acelerar mais ainda, só para ouvir o giro daquele motor aumentando.
No caminho, muitos carros davam sinal de farol, buzinavam e acenavam, sem falar dos que tentavam emparelhar com o carro para ver sua lateral e seu interior e depois ultrapassar para ver sua frente.
Depois de chegar em casa, (como já era de costume) todos quiseram dar uma volta, levei as minhas tias, minha avó e minha mãe para dar uma volta, depois levei a Michele e a Mônica (filhas do meu tio Zé), junto com a minha tia Jô, esposa do meu tio Zé.
O único que não poder ir dar uma volta foi o Bruno, filho da minha prima Valquiria, mas prometi a ele que um dia o levaria. O motivo foi que quando ia sair com o meu tio Zé e o Bruno para dar uma volta como carro, acabou o álcool (falha minha e não do marcador de combustível) e fui obrigado a guardá-lo usando o injetor de combustível para conseguir entrar na garagem.
O carro, finalmente na garagem de casa, mas
ainda faltavam alguns detalhes para ficar do jeito que queria.
Essa foi à visão que tive quando o vi pela
primeira vez abandonado no barracão em Ourinhos SP.
Não era parecida, era realmente a mesma visão que tive,
com o sol refletido em seus cromados e em sua pintura.
Acho que meu
tio Zé é meio “pé frio” na questão de carros antigos, pois quando tinha
terminado o Impala 1968, fomos dar uma volta pela cidade e quando estávamos
voltando, o carro parou sem explicação, tentava dar a partida, mas não
funcionava, de repente veio o cheiro estonteante de gasolina e sem ter duvidas
de que era o carburador, fomos retirar o filtro de ar. O carburado simplesmente
jogava gasolina sobre o coletor de admissão, que com o motor quente, contribuía
para um grande riso de incêndio.
Quase não conseguimos funcionar o carro, mas depois de um tempo de espera a gasolina que estava no carburador evaporou e o carro funcionou novamente, voltamos com o Impala para casa, e logo depois disso, acabei trocando-o pelo Dodge.
Depois de vários meses de tratamento com um psiquiatra e algumas medicações corretas, a Flávia começava a apresentar significativa melhora, até aceitou comer pizza numa noite de sábado, coisa que ela não fazia há mais de um ano. Estava um pouco receoso de mostrar o carro para ela, pois acreditava que toda aquela conversa da psicóloga ainda estava em sua cabeça, mas, também já havia mais do que provado que a amava, pois depois de tanto tempo em depressão, aguentando seu estado de “loucura”, suas ofensas, as brigas e discussões sem fundamento, (certa vez, ela discutiu uma semana inteira comigo por que queria comprar uma calopsita, e conseguiu, pois chorava o dia todo por conta do tal pássaro) sempre estive ao seu lado e ajudando no que fosse possível. Até havia deixado várias coisas para trás, para ficar com ela, como, por exemplo, ir à casa dos velhos amigos. Nesse período, posso dizer que o único amigo que realmente apareceu de vez em quando em casa foi o Cléber, pois os outros, como já citei antes, casaram, estavam trabalhando e estudando ou mudaram de cidade. Não que o Cléber não estudasse e trabalhasse, mas como a casa da sua mãe era no quarteirão de baixo da minha casa, sempre que ele vinha visitar sua mãe ele dava uma passada em casa para conversarmos.
A primeira vez que a Flávia viu o carro, foi a meu convite. Fui num sábado à tarde até a sua casa com o carro do meu pai e disse que o Dodge já estava em casa, como não sabia qual seria sua reação, perguntei se ela queria ver como ele havia ficado depois de pronto?
Ela pensou um pouco e disse que mais tarde nós iríamos até a minha casa. Isso me deixou até um pouco preocupado, mas depois de uma hora de conversa na casa dela, ela pediu para levá-la até a minha casa.
Era mais do que claro que por dentro eu estava eufórico para lhe mostrar tudo o que foi feito no carro, mas tive que conter meu ânimo, pois não sabia qual seria sua reação.
Na verdade, quando chegamos em casa, ela olhou para o Dodge estacionado na garagem, se aproximou da porta do motorista, deu uma olhada no seu interior, voltou para a parte traseira do carro, me olhou e disse:
É... Ficou bonito! Vamos assistir alguma coisa?
Pelo que percebi, parecia que ela estava tentando ignorar a presença do carro em casa, até pensei em levá-la para casa mais tarde com o Dodge, mas não tentei “forçar a barra”, achei melhor esperar ela se acostumar mais com o carro.
Algumas semanas depois, ela mesma me pediu para ir com o Dodge até sua casa, pois seu pai e sua mãe queriam ver como havia ficado depois de pronto. O Sr Odair (pai da Flávia) ficou admirado, pois ele lembrava de como era o carro antes de restaurá-lo.
Logicamente que tive de levar todos para darem uma volta e essa foi à primeira vez que a Flávia andou nesse carro depois de pronto.
A Flávia agora estava mais feliz, pois estava passando mais tempo comigo, até chegou a assumir as tarefas da casa da minha mãe, pois minha mãe teve que fazer uma cirurgia na coluna, a qual a deixou impossibilitada de trabalhar durante meses, assim ela ocupava mais seu tempo. Já não tinha mais sintomas de bulimia, apesar de ainda ter alguns sintomas de depressão, isso sem falar na correria para o casamento, pois já estávamos marcando a data.
Conversando com ela, perguntei se teria algum problema se fôssemos aos encontros de carros antigos com o Dodge e ela me disse que não tinha com que me preocupar. Isso ao meu ver, era o maior sinal de que ela estava realmente superando sua depressão.
O primeiro encontro de carros antigos que participei com ela e meu pai foi em 04 de março de 2006, na cidade de Americana, onde o Dodge quase ganhou o prêmio de maior carro exposto no evento, perdendo por poucos centímetros para o Rolls Royce que também estava na exposição, mesmo assim, não participava para ganhar prêmios, participava apenas porque gosto de carros antigos.
Quase não conseguimos funcionar o carro, mas depois de um tempo de espera a gasolina que estava no carburador evaporou e o carro funcionou novamente, voltamos com o Impala para casa, e logo depois disso, acabei trocando-o pelo Dodge.
Depois de vários meses de tratamento com um psiquiatra e algumas medicações corretas, a Flávia começava a apresentar significativa melhora, até aceitou comer pizza numa noite de sábado, coisa que ela não fazia há mais de um ano. Estava um pouco receoso de mostrar o carro para ela, pois acreditava que toda aquela conversa da psicóloga ainda estava em sua cabeça, mas, também já havia mais do que provado que a amava, pois depois de tanto tempo em depressão, aguentando seu estado de “loucura”, suas ofensas, as brigas e discussões sem fundamento, (certa vez, ela discutiu uma semana inteira comigo por que queria comprar uma calopsita, e conseguiu, pois chorava o dia todo por conta do tal pássaro) sempre estive ao seu lado e ajudando no que fosse possível. Até havia deixado várias coisas para trás, para ficar com ela, como, por exemplo, ir à casa dos velhos amigos. Nesse período, posso dizer que o único amigo que realmente apareceu de vez em quando em casa foi o Cléber, pois os outros, como já citei antes, casaram, estavam trabalhando e estudando ou mudaram de cidade. Não que o Cléber não estudasse e trabalhasse, mas como a casa da sua mãe era no quarteirão de baixo da minha casa, sempre que ele vinha visitar sua mãe ele dava uma passada em casa para conversarmos.
A primeira vez que a Flávia viu o carro, foi a meu convite. Fui num sábado à tarde até a sua casa com o carro do meu pai e disse que o Dodge já estava em casa, como não sabia qual seria sua reação, perguntei se ela queria ver como ele havia ficado depois de pronto?
Ela pensou um pouco e disse que mais tarde nós iríamos até a minha casa. Isso me deixou até um pouco preocupado, mas depois de uma hora de conversa na casa dela, ela pediu para levá-la até a minha casa.
Era mais do que claro que por dentro eu estava eufórico para lhe mostrar tudo o que foi feito no carro, mas tive que conter meu ânimo, pois não sabia qual seria sua reação.
Na verdade, quando chegamos em casa, ela olhou para o Dodge estacionado na garagem, se aproximou da porta do motorista, deu uma olhada no seu interior, voltou para a parte traseira do carro, me olhou e disse:
É... Ficou bonito! Vamos assistir alguma coisa?
Pelo que percebi, parecia que ela estava tentando ignorar a presença do carro em casa, até pensei em levá-la para casa mais tarde com o Dodge, mas não tentei “forçar a barra”, achei melhor esperar ela se acostumar mais com o carro.
Algumas semanas depois, ela mesma me pediu para ir com o Dodge até sua casa, pois seu pai e sua mãe queriam ver como havia ficado depois de pronto. O Sr Odair (pai da Flávia) ficou admirado, pois ele lembrava de como era o carro antes de restaurá-lo.
Logicamente que tive de levar todos para darem uma volta e essa foi à primeira vez que a Flávia andou nesse carro depois de pronto.
A Flávia agora estava mais feliz, pois estava passando mais tempo comigo, até chegou a assumir as tarefas da casa da minha mãe, pois minha mãe teve que fazer uma cirurgia na coluna, a qual a deixou impossibilitada de trabalhar durante meses, assim ela ocupava mais seu tempo. Já não tinha mais sintomas de bulimia, apesar de ainda ter alguns sintomas de depressão, isso sem falar na correria para o casamento, pois já estávamos marcando a data.
Conversando com ela, perguntei se teria algum problema se fôssemos aos encontros de carros antigos com o Dodge e ela me disse que não tinha com que me preocupar. Isso ao meu ver, era o maior sinal de que ela estava realmente superando sua depressão.
O primeiro encontro de carros antigos que participei com ela e meu pai foi em 04 de março de 2006, na cidade de Americana, onde o Dodge quase ganhou o prêmio de maior carro exposto no evento, perdendo por poucos centímetros para o Rolls Royce que também estava na exposição, mesmo assim, não participava para ganhar prêmios, participava apenas porque gosto de carros antigos.
O Dodge no primeiro encontro de carros
antigos que participei com ele depois de restaurado, em Americana. SP. Reparem
no tamanho do carro se comparado com um Ford 1929!
Depois que o
Dodge voltou para casa, à única mudança radical que fiz nele foi colocar as
faixas brancas nos pneus, o que melhorou muito sua aparência.
Guardando o pouco dinheiro que sobrava para o casamento, não tinha como comprar um jogo de calotas para o carro, pois mesmo usadas, estavam com um preço muito alto, então resolvi deixá-lo como estava e aproveitá-lo o máximo possível durante este ano.
Guardando o pouco dinheiro que sobrava para o casamento, não tinha como comprar um jogo de calotas para o carro, pois mesmo usadas, estavam com um preço muito alto, então resolvi deixá-lo como estava e aproveitá-lo o máximo possível durante este ano.
O carro sem os pneus faixas branca e depois
com as faixas brancas, já com uma aparência mais clássica.
No final do mês de Março, marcamos oficialmente a data do casamento para o dia 09 de Dezembro de 2006, minha noiva estava feliz e radiante, mas ao mesmo tempo preocupada, pois não tínhamos praticamente nada, não tínhamos móveis, terreno e nem casa, e isso me fazia temer que novamente ela voltasse a ter uma recaída e voltasse a ter depressão. Não queria mais isso, não queria passar por tudo novamente, não agora que estávamos tão perto de realizar o sonho do casamento e já havia decidido que faria o que fosse necessário para que isso não acontecesse.
Finalmente ela havia cumprido sua promessa, como eu disse antes, mesmo apresentando todos os problemas que citei até agora (e alguns outros que achei melhor não mencionar) ela esperou o término da restauração do Dodge, agora era chegada a hora de mostrar que não era mais um adolescente e que tudo pelo que havia passado, havia me transformado em um homem.
Sendo assim, pensei durante vários dias, procurei por várias soluções, como empréstimos em banco, mas devido ao meu salário, não seria o suficiente e não tendo nenhuma outra solução, mesmo com um enorme aperto no coração, sabia que a única saída para conseguir dinheiro suficiente para resolver esse problema era colocar o Dodge para venda, pois seria a única maneira rápida de conseguir algum dinheiro. Achava que seria melhor tentar vender o carro agora que ele estava recém restaurado, do que ter de esperar mais um ano, pois não sabia se o carro começaria a dar problemas e nesse caso, não teria dinheiro para arrumá-lo.
Nessa época, os melhores recursos para anunciar um carro ainda eram revistas e a internet, onde também conheci vários comerciantes de carros e peças e também colecionadores.
Para fazer o primeiro anuncio, procurei um site de compra e venda de carros antigos muito conhecido e nesse site, encontrei novamente a maioria das Plymouth 1957 que citei anteriormente ainda para venda, entrei em contato com os proprietários de quase todas novamente e trocamos muita informação, inclusive sobre preço.
Esse site é pago, ou seja, é cobrada uma taxa para divulgar seu produto e os eventuais interessados ou compradores podem fazer perguntas referentes aos produtos que estão sendo vendidos durante um mês.
Não tinha a menor idéia de quanto pedir pelo Dodge, não tinha como fazer uma média dos gastos, pois o preço da restauração mudou muito, como por exemplo, a pintura que havia pago um preço como disse antes, numa espécie de "parcelamento", nessa época, havia praticamente dobrado de valor.
Mas, na internet, descobri um carro igual ao meu em São Paulo (finalmente encontrei um igual ao meu), um Dodge Kingsway Custom 1957 verde e entrei em contato com o proprietário para saber se ele o estava vendendo e qual o seu valor.
Ele me disse que usava esse carro para fazer casamento e que não tinha interesse em vender, o carro já estava com motor adaptado de Dodge nacional, parece até uma velha história que tinha ouvido anos atrás, mas mesmo assim insisti, perguntei se realmente precisasse vender, qual seria aproximadamente o valor de um carro desses?
O carro parecia estar com a pintura e lanternas já opacas pela ação do tempo, mas estava muito bem alinhado e com os cromados em ordem, o proprietário me disse que valia aproximadamente R$50.000.00 reais do jeito que estava.
Sendo assim comecei a avaliar os preços pedidos por alguns carros da década de 50 nesse site de compra e venda, pois não existia uma tabela de classificação para preço de carros antigos, muito menos para hot rod´s e street rod´s, então o valor podia variar muito do estado de conservação, originalidade e do dinheiro gasto em sua restauração.
Acima e abaixo, fotos do Dodge Kingsway 1957
todo original, exceto pelo motor, que usei como referência de preço para poder
anunciar o meu carro.
Em todos os anos que fiquei com o Dodge, esse
foi o único carro realmente igual (em modelo e ano) que encontrei.
Nesse site encontrei carros que você encontrava
com uma certa facilidade (em 2006) por preços bem elevados como, por exemplo: Ford
Maverick 1977 pelo valor de R$75.000,00 reais, Ford Landau 1980 por R$50.000,00
reais, Chevrolet Opala 1975 por R$ 40.000,00, alguns Volkswagen fusca por R$
20.000,00 reais.
Não desmereço nenhum desses carros, nem estou dizendo que o preço pedido não seja realmente o que vale o carro, por exemplo, em Rio das Pedras havia um Ford Galaxie que ficou guardado por mais de 15 anos, em perfeitas condições de uso e foi vendido por R$25.000,00 reais, assim como um Simca dos anos 60 que está em uma fazenda próxima da cidade, quase que zero quilometro e 100% original, que não tem preço. O carro pertence a dois irmãos e ambos só tiram o carro para fora da garagem para lavá-lo e depois o guardam novamente; até seus pneus ainda são originais de fábrica.
Quanto seria o valor de um carro desses? Sendo assim, não tenho como dizer que um carro está muito caro ou muito barato sem avaliá-lo antes, sem saber sua história ou como foi feita sua restauração, se é que foi feita alguma restauração, pois às vezes o carro está todo original, inclusive pintura, como saiu da fábrica.
Certa vez, uns meses antes de comprar o Dodge, quando estava anunciando o Impala 1968, tinha visto numa revista o anúncio de um Chevrolet Bel Air 1957 quatro portas com coluna que me interessou e fui conferir o estado do carro. Na época em que o Sr P. pedia 12 mil dólares do Dodge 1957, esse Bel Air 1957 estava anunciado no valor de 15 mil dólares.
Bem, por esse preço, imaginava que o carro estava restaurado e pelo menos 80% original, mas quando cheguei ao estabelecimento do vendedor, quase “cai de costa”, só não voltei para casa sem ver o carro porque já estava em São Paulo, pois se fosse numa cidade mais próxima nem teria perdido tempo de ver um carro no estado em que aquele estava.
Levei a máquina fotográfica junto, mas devido ao estado do carro, ao amontoado de carros e sucatas que estavam ao seu redor (algumas peças até em cima do carro) e ao meu estado de espírito (furioso, diga-se de passagem), não tirei nenhuma foto desse carro.
Havia perguntado por telefone qual era o estado do carro e o proprietário me disse que faltavam alguns detalhes simples, mas que seria melhor ver o carro antes de fazer negócio e sem a tecnologia digital que temos hoje, ficava difícil dele tirar algumas fotos e me enviar pelo correio, assim como fez o proprietário da Plymouth Belvedere 1958, sendo assim fui pessoalmente avaliar esse carro.
Esses “alguns detalhes” que ele se referia eram todos os frisos do carro, inclusive das borrachas dos vidros, portas e lateral, os emblemas que estavam no carro eram de um Bel Air 1955, assim como o vidro traseiro que estava sobre o teto do carro, que pertencia a um Bel Air 1960 quatro portas, e ele teimava em dizer que era o original do carro.
A lataria do carro estava péssima, cheia de corrosão e massa plástica aparente, muito pior do que do Dodge 1957 que comprei e só tinha um vidro lateral. Já a mecânica que ele também dizia ser original era um motor seis cilindros do Chevrolet Opala.
Para falar a verdade, a única coisa que me agradou nesse carro, foram os bancos, que mesmo rasgados, eram originais do carro.
Nem tentei negociar um preço melhor com o proprietário, pois, depois de ver minha cara de insatisfação ele nem se quer perguntou o que tinha achado desse carro.
Voltando ao preço do Dodge, fiz seu primeiro anuncio no valor de R$ 80.000,00 reais, mas claro que aceitaria negociações, se me oferecessem um valor mais baixo, estudaria as propostas. Na primeira semana só fizeram elogios, sem nenhuma pergunta ou comentário sobre o valor, mas na segunda semana, tive uma oferta de R$30.000,00 reais, a qual não aceitei, pois sabia que o carro valia muito mais que isso, por ser um carro raro. Apesar de ter tido várias visitas e muitos elogios durante o período em que o anúncio estava na internet, as perguntas em relação ao carro, não passaram de quatro.
Talvez estivesse pedindo um pouco caro demais pelo carro e no segundo anuncio, abaixei o valor para R$60.000,00 reais, um preço mais convidativo, já que um Bel Air 1957, não original, com motor de Chevrolet Opala 6 cilindros também quatro portas com coluna estava anunciado nesse mesmo período por R$65.000,00 reais.
Com esse novo anuncio muitas outras propostas surgiram, mas todas por trocas por carros antigos, alguns para restaurar outros já restaurados, mas de menor valor.
Dentre as propostas que tive para troca, a que mais me balançou, foi a de trocar o Dodge por um De Soto 1958 mais um Volkswagen Santana 2000. Esse De Soto era o mesmo que tinha visto há alguns meses para venda na internet, na época, ele estava no Rio Grande do Sul, mas depois de um mês, ele foi vendido e agora estava em São Paulo, numa cidade bem próxima de onde moro.
Caso fosse feito negócio, o Santana seria para venda rápida, mas o De Soto teria que restaurar e a única coisa que me incomodava nesse carro era sua documentação, pois na época ele não tinha documentos.
Fiquei muito tentado por esse carro, pois estava totalmente original, sua carroceria era idêntica a da Plymouth 1958, até as lanternas e frisos eram idênticos, isso sem falar na sua mecânica totalmente original, desde o motor, ar condicionado a até o famoso câmbio por botões no painel conhecidos como “Push Button” muito raro hoje em dia.
Mas teria que restaurar o carro todo e no momento precisava de dinheiro para comprar uma casa e sabia que se aceitasse a troca por outro carro antigo, não conseguiria ficar sem fazer alguma coisa nele, nem o deixaria parado e isso acarretaria em gasto, coisa que no momento não era minha prioridade, sem falar no risco da Flávia voltar a ter depressão.
Conversei muito com meu pai nesse período e ele me aconselhava muito, pois também sabia que se trocasse o carro por outro antigo por restaurar, teria que gastar dinheiro com ele, fosse agora ou futuramente e para quem estava pretendendo casar, não era uma das melhores ideias, pois teria muitos outros gastos que não estava acostumado a manter, como pagamento de água, energia elétrica, compra do mês, gás e IPTU, isso ainda pensando em casa, se comprasse um apartamento, (o que não era minha intenção, mas tinha que pensar em todas as possibilidades) teria que pagar também o condomínio. Sendo assim, ele me aconselhou a não descartar a hipótese de fazer a troca do Dodge com esse De Soto 1958 e o Santana, mas há esperar um pouco mais e tentar vender o carro ou pelo menos trocar por um carro mais novo e que fosse de fácil negociação, para caso fosse necessário, vendê-lo também.
Por mais que ficasse chateado em estar anunciando o carro, pude perceber que meu pai também ficou muito mais chateado do que eu, ele mesmo sempre me dizia que esse carro depois de pronto, era um carro para nunca mais vender, mas mesmo a Flávia tendo passado por todos os problemas que ela passou, como depressão, bulimia e tantas outras coisas, ela conseguiu cumprir sua promessa de que esperaria o tempo que fosse necessário, a restauração do carro para depois nos casarmos, agora teria que cumprir a minha promessa de nos casarmos após a restauração do carro, até mesmo eu já achava que tínhamos esperado tempo demais.
Não desmereço nenhum desses carros, nem estou dizendo que o preço pedido não seja realmente o que vale o carro, por exemplo, em Rio das Pedras havia um Ford Galaxie que ficou guardado por mais de 15 anos, em perfeitas condições de uso e foi vendido por R$25.000,00 reais, assim como um Simca dos anos 60 que está em uma fazenda próxima da cidade, quase que zero quilometro e 100% original, que não tem preço. O carro pertence a dois irmãos e ambos só tiram o carro para fora da garagem para lavá-lo e depois o guardam novamente; até seus pneus ainda são originais de fábrica.
Quanto seria o valor de um carro desses? Sendo assim, não tenho como dizer que um carro está muito caro ou muito barato sem avaliá-lo antes, sem saber sua história ou como foi feita sua restauração, se é que foi feita alguma restauração, pois às vezes o carro está todo original, inclusive pintura, como saiu da fábrica.
Certa vez, uns meses antes de comprar o Dodge, quando estava anunciando o Impala 1968, tinha visto numa revista o anúncio de um Chevrolet Bel Air 1957 quatro portas com coluna que me interessou e fui conferir o estado do carro. Na época em que o Sr P. pedia 12 mil dólares do Dodge 1957, esse Bel Air 1957 estava anunciado no valor de 15 mil dólares.
Bem, por esse preço, imaginava que o carro estava restaurado e pelo menos 80% original, mas quando cheguei ao estabelecimento do vendedor, quase “cai de costa”, só não voltei para casa sem ver o carro porque já estava em São Paulo, pois se fosse numa cidade mais próxima nem teria perdido tempo de ver um carro no estado em que aquele estava.
Levei a máquina fotográfica junto, mas devido ao estado do carro, ao amontoado de carros e sucatas que estavam ao seu redor (algumas peças até em cima do carro) e ao meu estado de espírito (furioso, diga-se de passagem), não tirei nenhuma foto desse carro.
Havia perguntado por telefone qual era o estado do carro e o proprietário me disse que faltavam alguns detalhes simples, mas que seria melhor ver o carro antes de fazer negócio e sem a tecnologia digital que temos hoje, ficava difícil dele tirar algumas fotos e me enviar pelo correio, assim como fez o proprietário da Plymouth Belvedere 1958, sendo assim fui pessoalmente avaliar esse carro.
Esses “alguns detalhes” que ele se referia eram todos os frisos do carro, inclusive das borrachas dos vidros, portas e lateral, os emblemas que estavam no carro eram de um Bel Air 1955, assim como o vidro traseiro que estava sobre o teto do carro, que pertencia a um Bel Air 1960 quatro portas, e ele teimava em dizer que era o original do carro.
A lataria do carro estava péssima, cheia de corrosão e massa plástica aparente, muito pior do que do Dodge 1957 que comprei e só tinha um vidro lateral. Já a mecânica que ele também dizia ser original era um motor seis cilindros do Chevrolet Opala.
Para falar a verdade, a única coisa que me agradou nesse carro, foram os bancos, que mesmo rasgados, eram originais do carro.
Nem tentei negociar um preço melhor com o proprietário, pois, depois de ver minha cara de insatisfação ele nem se quer perguntou o que tinha achado desse carro.
Voltando ao preço do Dodge, fiz seu primeiro anuncio no valor de R$ 80.000,00 reais, mas claro que aceitaria negociações, se me oferecessem um valor mais baixo, estudaria as propostas. Na primeira semana só fizeram elogios, sem nenhuma pergunta ou comentário sobre o valor, mas na segunda semana, tive uma oferta de R$30.000,00 reais, a qual não aceitei, pois sabia que o carro valia muito mais que isso, por ser um carro raro. Apesar de ter tido várias visitas e muitos elogios durante o período em que o anúncio estava na internet, as perguntas em relação ao carro, não passaram de quatro.
Talvez estivesse pedindo um pouco caro demais pelo carro e no segundo anuncio, abaixei o valor para R$60.000,00 reais, um preço mais convidativo, já que um Bel Air 1957, não original, com motor de Chevrolet Opala 6 cilindros também quatro portas com coluna estava anunciado nesse mesmo período por R$65.000,00 reais.
Com esse novo anuncio muitas outras propostas surgiram, mas todas por trocas por carros antigos, alguns para restaurar outros já restaurados, mas de menor valor.
Dentre as propostas que tive para troca, a que mais me balançou, foi a de trocar o Dodge por um De Soto 1958 mais um Volkswagen Santana 2000. Esse De Soto era o mesmo que tinha visto há alguns meses para venda na internet, na época, ele estava no Rio Grande do Sul, mas depois de um mês, ele foi vendido e agora estava em São Paulo, numa cidade bem próxima de onde moro.
Caso fosse feito negócio, o Santana seria para venda rápida, mas o De Soto teria que restaurar e a única coisa que me incomodava nesse carro era sua documentação, pois na época ele não tinha documentos.
Fiquei muito tentado por esse carro, pois estava totalmente original, sua carroceria era idêntica a da Plymouth 1958, até as lanternas e frisos eram idênticos, isso sem falar na sua mecânica totalmente original, desde o motor, ar condicionado a até o famoso câmbio por botões no painel conhecidos como “Push Button” muito raro hoje em dia.
Mas teria que restaurar o carro todo e no momento precisava de dinheiro para comprar uma casa e sabia que se aceitasse a troca por outro carro antigo, não conseguiria ficar sem fazer alguma coisa nele, nem o deixaria parado e isso acarretaria em gasto, coisa que no momento não era minha prioridade, sem falar no risco da Flávia voltar a ter depressão.
Conversei muito com meu pai nesse período e ele me aconselhava muito, pois também sabia que se trocasse o carro por outro antigo por restaurar, teria que gastar dinheiro com ele, fosse agora ou futuramente e para quem estava pretendendo casar, não era uma das melhores ideias, pois teria muitos outros gastos que não estava acostumado a manter, como pagamento de água, energia elétrica, compra do mês, gás e IPTU, isso ainda pensando em casa, se comprasse um apartamento, (o que não era minha intenção, mas tinha que pensar em todas as possibilidades) teria que pagar também o condomínio. Sendo assim, ele me aconselhou a não descartar a hipótese de fazer a troca do Dodge com esse De Soto 1958 e o Santana, mas há esperar um pouco mais e tentar vender o carro ou pelo menos trocar por um carro mais novo e que fosse de fácil negociação, para caso fosse necessário, vendê-lo também.
Por mais que ficasse chateado em estar anunciando o carro, pude perceber que meu pai também ficou muito mais chateado do que eu, ele mesmo sempre me dizia que esse carro depois de pronto, era um carro para nunca mais vender, mas mesmo a Flávia tendo passado por todos os problemas que ela passou, como depressão, bulimia e tantas outras coisas, ela conseguiu cumprir sua promessa de que esperaria o tempo que fosse necessário, a restauração do carro para depois nos casarmos, agora teria que cumprir a minha promessa de nos casarmos após a restauração do carro, até mesmo eu já achava que tínhamos esperado tempo demais.
De Soto 1958 que foi oferecido como troca
pelo Dodge, junto com outro carro atual de menor valor.
Sem nenhum
negócio em vista, continuei anunciando o carro e participando de vários
encontros com ele, mesmo sem seu ar condicionado estar instalado. Fomos aos encontros de Rio Claro,SP,
Campinas,SP, no encontro de carros Hot’s em Águas de Lindóia, SP, em Piracicaba, SP, no
encontro de Pick-up’s e carros antigos de Águas de São Pedro, SP e inclusive num
pequeno encontro realizado na cidade onde moro, Rio das Pedras, interior de São
Paulo.
Nos encontros, geralmente íamos, meu pai, a Flávia e eu, minha mãe nunca gostou muito de participar, embora ela tenha participado de todos os encontros na cidade de Piracicaba junto com meu pai, acredito que isso se deve a proximidade das duas cidades.
Íamos aos encontros com o Dodge rodando, embora tenha visto que muitos carros que frequentavam os encontro de carros antigos, mesmo sendo hot, geralmente eram levados em carretas cegonhas, mas nunca gostei dessa idéia, até por que não tinha dinheiro para ficar levando o carro de um encontro ao outro em carreta. Preferia ir rodando com o carro e isso acabava chamando muito a atenção dos outros carros que encontrávamos na pista, a caminho dos encontros.
Lembro-me que quando estávamos a caminho do segundo encontro de Hot’s na cidade de Águas de Lindóia, vinha logo atrás do Dodge uma caminhonete, mais atual, com um rapaz, com praticamente metade do corpo para fora da caminhonete do lado do passageiro, tentando filmar o Dodge com seu celular, não seria menos arriscado se ele fizesse sinal para encostarmos e ele filmasse o carro parado?
Nesse segundo encontro de Hot’s na cidade de Águas de Lindóia, que fomos, em particular, foi um dos que fiquei mais decepcionado.
Já havia participado do primeiro encontro de Hot’s, mesmo sem carro, somente para apreciar o evento e também havia visto fotos do primeiro encontro numa revista e estava empolgado para participar desse segundo, havia esperado um ano todo para isso, e agora, estava com o carro pronto a caminho do evento, mas o que eu não sabia era que tinha que fazer uma inscrição prévia.
Quando chegamos ao encontro, não pude expor o carro no gramado principal junto dos outros carros, tendo que deixá-lo estacionado na rua. Esse era um dos meus maiores sonhos, expor o carro em Águas de Lindóia, sempre frequentei os encontros de carros antigos que eram realizados nessa cidade, desde sua segunda edição (a primeira foi em Águas de São Pedro, SP) e isso foi uma tremenda decepção. Não tem como explicar esse sentimento, é como se seu filho treinasse o ano todo para um campeonato e na partida mais importante, ele fosse impedido de jogar por que não preencheu um papel antes! era frustrante.
Meu pai percebeu minha frustração por não poder deixar o carro junto com os demais no gramado principal e para tentar me animar ele me disse:
"Não esquenta não filho, ano que vem você se inscreve e a gente volta e quem sabe você até não ganha um prêmio"
Isso me deixou um pouco mais animado (embora isso nunca tenha acontecido), mas valeu a presença, como disse antes, não fiz o carro para ganhar prêmios e sim para realizar meu sonho.
Nesses vários encontros que fomos, aconteceram várias situações engraçadas, Certa vez, fomos a um encontro na cidade de Rio Claro, me preparei todo (calça jeans, gel no cabelo, jaqueta de couro) e coloquei um velho (mas muito bonito) sapato que estava há muito tempo encostado no armário (estilo anos 50). Quando estávamos a caminho do encontro, já sentia algo diferente na sola do sapato! Parecia que ele estava muito duro, era difícil de pisar na embreagem, freio ou acelerador e ao mesmo tempo, parecia que a sola estava grudando nas pastilhas dos pedais do carro, sentia que havia pisado em um chiclete ou algo parecido. Quando finalmente chegamos ao encontro, lá pelas 09:00 hs, estacionamos o carro e começamos a caminhar pelo encontro, mas já ao descer do carro, meu sapato começou a grudar no asfalto e simplesmente começou a se desfazer! A cada passo que dava, saia um pedaço da sola, não foi preciso nem dar dez passos para já estar pisando no asfalto somente com a meia e a parte de cima do sapato. Não teve jeito, tivemos que sair pela cidade procurando um estabelecimento que vendesse sapatos ou tênis, mas num domingo, quase nada estava aberto, não havia nenhuma loja aberta, rodamos pela cidade até as 11:30hs, foi quando meu pai encontrou um mini mercado aberto, onde finalmente encontramos alguma coisa. Na verdade, era um sapatão de boia-fria (desses usados pelos cortadores de cana-de-açúcar) número 42 (e eu uso número 45), mas como não havia mais opções, fiquei com esse mesmo, sem falar que foram uma pechincha, custaram apenas R$10,00 (dez reais). Dá para imaginar? Um rapaz, com estilo de roqueiro, jaqueta de couro, gel no cabelo, topete e costeletas, usando calça jeans no melhor estilo James Dean, usando um sapatão de boia-fria! Num encontro de carros antigos! Sem falar que meus dedos estavam me matando, todos apertados dentro do sapatão.
Quando estávamos saindo do encontro, retirei esse sapatão e quase tive um “orgasmo” de tão aliviado que fiquei e fui dirigindo descalço mesmo.
Outra vez, fomos a um encontro em Limeira, também interior de São Paulo, e fui com uma camisa branca, que havia comprado há vários anos, com um Bel Air 1951 estampado nela. Quando estávamos andando pelo encontro, a Flávia e eu, (meu pai havia saído para procurar churrasquinhos no espeto para comprar) caiu do céu, alguma coisa estranha no meu ombro, era úmida e com uma cor indefinida (não sei explicar que cor aquilo tinha), passei o dedo para ver o que era e o cheiro era insuportável. Olhei para cima e vi no céu dois urubus voando bem próximos de onde estávamos. Não preciso nem falar o que era né? (e ganhar na loteria eu não ganho), precisei procurar um banheiro para lavar meu ombro e comprar outra camisa, pois mesmo lavando a que estava usando o cheiro não saiu.
Tenho que agradecer a Deus que elefante não voa e também que o urubu era rui de mira, pois já pensou se ele acerta minha cabeça?
Em outra ocasião, durante um encontro de carros antigos em Campinas, SP, já estávamos quase indo embora, quando resolvemos tirar algumas fotos nossas junto ao Dodge, pois a maioria dos outros carros já haviam saído, ficando poucos carros dispersos no estacionamento.
A primeira a tirar fotos foi a Flávia, fazendo poses em frente ao Dodge (nem parecia mais que um dia ela teve repulsão por esse carro), depois fomos meu pai e eu.
Mesmo de
baixo de chuva, foi realizado um pequeno encontro na cidade de Rio das Pedras,
o qual não poderia deixar de comparecer com o Dodge.
A cima o Dodge no encontro de Campinas
Acima, o Dodge em Rio Claro.
Acima o Dodge no encontro em Piracicaba
Acima o Dodge no encontro em Águas de Lindóia no segundo encontro de
Hot´s.
Nos encontros, geralmente íamos, meu pai, a Flávia e eu, minha mãe nunca gostou muito de participar, embora ela tenha participado de todos os encontros na cidade de Piracicaba junto com meu pai, acredito que isso se deve a proximidade das duas cidades.
Íamos aos encontros com o Dodge rodando, embora tenha visto que muitos carros que frequentavam os encontro de carros antigos, mesmo sendo hot, geralmente eram levados em carretas cegonhas, mas nunca gostei dessa idéia, até por que não tinha dinheiro para ficar levando o carro de um encontro ao outro em carreta. Preferia ir rodando com o carro e isso acabava chamando muito a atenção dos outros carros que encontrávamos na pista, a caminho dos encontros.
Lembro-me que quando estávamos a caminho do segundo encontro de Hot’s na cidade de Águas de Lindóia, vinha logo atrás do Dodge uma caminhonete, mais atual, com um rapaz, com praticamente metade do corpo para fora da caminhonete do lado do passageiro, tentando filmar o Dodge com seu celular, não seria menos arriscado se ele fizesse sinal para encostarmos e ele filmasse o carro parado?
Nesse segundo encontro de Hot’s na cidade de Águas de Lindóia, que fomos, em particular, foi um dos que fiquei mais decepcionado.
Já havia participado do primeiro encontro de Hot’s, mesmo sem carro, somente para apreciar o evento e também havia visto fotos do primeiro encontro numa revista e estava empolgado para participar desse segundo, havia esperado um ano todo para isso, e agora, estava com o carro pronto a caminho do evento, mas o que eu não sabia era que tinha que fazer uma inscrição prévia.
Quando chegamos ao encontro, não pude expor o carro no gramado principal junto dos outros carros, tendo que deixá-lo estacionado na rua. Esse era um dos meus maiores sonhos, expor o carro em Águas de Lindóia, sempre frequentei os encontros de carros antigos que eram realizados nessa cidade, desde sua segunda edição (a primeira foi em Águas de São Pedro, SP) e isso foi uma tremenda decepção. Não tem como explicar esse sentimento, é como se seu filho treinasse o ano todo para um campeonato e na partida mais importante, ele fosse impedido de jogar por que não preencheu um papel antes! era frustrante.
Meu pai percebeu minha frustração por não poder deixar o carro junto com os demais no gramado principal e para tentar me animar ele me disse:
"Não esquenta não filho, ano que vem você se inscreve e a gente volta e quem sabe você até não ganha um prêmio"
Isso me deixou um pouco mais animado (embora isso nunca tenha acontecido), mas valeu a presença, como disse antes, não fiz o carro para ganhar prêmios e sim para realizar meu sonho.
Nesses vários encontros que fomos, aconteceram várias situações engraçadas, Certa vez, fomos a um encontro na cidade de Rio Claro, me preparei todo (calça jeans, gel no cabelo, jaqueta de couro) e coloquei um velho (mas muito bonito) sapato que estava há muito tempo encostado no armário (estilo anos 50). Quando estávamos a caminho do encontro, já sentia algo diferente na sola do sapato! Parecia que ele estava muito duro, era difícil de pisar na embreagem, freio ou acelerador e ao mesmo tempo, parecia que a sola estava grudando nas pastilhas dos pedais do carro, sentia que havia pisado em um chiclete ou algo parecido. Quando finalmente chegamos ao encontro, lá pelas 09:00 hs, estacionamos o carro e começamos a caminhar pelo encontro, mas já ao descer do carro, meu sapato começou a grudar no asfalto e simplesmente começou a se desfazer! A cada passo que dava, saia um pedaço da sola, não foi preciso nem dar dez passos para já estar pisando no asfalto somente com a meia e a parte de cima do sapato. Não teve jeito, tivemos que sair pela cidade procurando um estabelecimento que vendesse sapatos ou tênis, mas num domingo, quase nada estava aberto, não havia nenhuma loja aberta, rodamos pela cidade até as 11:30hs, foi quando meu pai encontrou um mini mercado aberto, onde finalmente encontramos alguma coisa. Na verdade, era um sapatão de boia-fria (desses usados pelos cortadores de cana-de-açúcar) número 42 (e eu uso número 45), mas como não havia mais opções, fiquei com esse mesmo, sem falar que foram uma pechincha, custaram apenas R$10,00 (dez reais). Dá para imaginar? Um rapaz, com estilo de roqueiro, jaqueta de couro, gel no cabelo, topete e costeletas, usando calça jeans no melhor estilo James Dean, usando um sapatão de boia-fria! Num encontro de carros antigos! Sem falar que meus dedos estavam me matando, todos apertados dentro do sapatão.
Quando estávamos saindo do encontro, retirei esse sapatão e quase tive um “orgasmo” de tão aliviado que fiquei e fui dirigindo descalço mesmo.
Outra vez, fomos a um encontro em Limeira, também interior de São Paulo, e fui com uma camisa branca, que havia comprado há vários anos, com um Bel Air 1951 estampado nela. Quando estávamos andando pelo encontro, a Flávia e eu, (meu pai havia saído para procurar churrasquinhos no espeto para comprar) caiu do céu, alguma coisa estranha no meu ombro, era úmida e com uma cor indefinida (não sei explicar que cor aquilo tinha), passei o dedo para ver o que era e o cheiro era insuportável. Olhei para cima e vi no céu dois urubus voando bem próximos de onde estávamos. Não preciso nem falar o que era né? (e ganhar na loteria eu não ganho), precisei procurar um banheiro para lavar meu ombro e comprar outra camisa, pois mesmo lavando a que estava usando o cheiro não saiu.
Tenho que agradecer a Deus que elefante não voa e também que o urubu era rui de mira, pois já pensou se ele acerta minha cabeça?
Em outra ocasião, durante um encontro de carros antigos em Campinas, SP, já estávamos quase indo embora, quando resolvemos tirar algumas fotos nossas junto ao Dodge, pois a maioria dos outros carros já haviam saído, ficando poucos carros dispersos no estacionamento.
A primeira a tirar fotos foi a Flávia, fazendo poses em frente ao Dodge (nem parecia mais que um dia ela teve repulsão por esse carro), depois fomos meu pai e eu.
Ele
estava com uma latinha de cerveja na mão, mas como não queria aparecer na foto com a latinha na mão, antes de tirara a foto, ele pediu
para a Flávia aguardar um pouco e colocou a latinha de cerveja que ele havia
acabado de abrir, no chão, numa sombra, próximo de onde ela estava parada.
Na hora de bater a foto a Flávia estava tentando enquadrar meu pai, eu e o Dodge num ângulo em que aparecêssemos os três juntos, mas nesse mesmo tempo, um catador de latinhas recicláveis, passou por ali e pegou a latinha de cerveja do meu pai que estava no chão.
Na hora de bater a foto a Flávia estava tentando enquadrar meu pai, eu e o Dodge num ângulo em que aparecêssemos os três juntos, mas nesse mesmo tempo, um catador de latinhas recicláveis, passou por ali e pegou a latinha de cerveja do meu pai que estava no chão.
A Flávia
estava tão compenetrada em acertar a foto, que nem percebeu o catador de
latinhas, jogando a cerveja do meu pai fora, para ficar com a latinha. Meu pai
que estava esperando ela bater a foto, não podia se mexer e mesmo fazendo pose
e sorrindo, ele acabou falando baixinho com o canto da boca:
Olha lá o “cara” jogando minha cerveja fora!
Finalmente quando a Flávia bateu a foto, o catador de latinhas já estava longe e sem ter outra alternativa, meu pai foi comprar outra cerveja. Fiz questão de bater depois uma foto dele com a latinha de cerveja na mão em frente ao Dodge, para registrar o fato.
Também num encontro em Piracicaba SP, estacionamos o Dodge dentro de um barracão, junto de outros carros, bem ao lado de um lindo Bel Air 1957 quatro portas sem coluna e também do mesmo Ford Fairlane 1958 que estava abandonado no ferro velho e foi restaurado por um colecionador de Piracicaba.
Isso me fez recordar a época em que frequentávamos o ferro velho. Quem poderia imaginar que aquele velho Ford Fairlane 1958 um dia sairia daquele amontoado de carros abandonados e estaria brilhando como novo num encontro de carros antigos?
E ainda, quando poderia imaginar que eu estaria com um carro que sempre sonhei ao lado de mesmo Ford? Seria alguma obra do destino?
Depois de passar a manhã e uma parte da tarde no encontro, estávamos nos preparando para sair e vimos que o carro estava cercado por uma multidão, a maioria fotografando o carro. Mesmo assim, já tínhamos decidido ir embora, mas quando fui abrir a porta do motorista, que estava travada, ela não abril. Todos que estavam perto do carro ficaram curiosos para saber o que estava acontecendo, principalmente eu, que tive de abrir e entrar pela porta do lado do acompanhante (carona).
As filhas do meu tio Zé estavam comigo no banco de trás do carro e a Flávia ficou fora para levantar o cordão de isolamento, para depois entrar no carro. Saímos do local de isolamento ouvindo no rádio Clyde McPhatter cantando A Lover’s Question e mesmo depois que a Flávia entrou no carro, ainda havia uma multidão fotografando o carro durante sua saída.
Na saída do evento, encontrei com uma amiga do trabalho junto de sua filha que queria tirar uma foto dela no lugar do motorista, mas por conta da porta estar travada ela deixou para uma outra ocasião. A questão da porta travada foi fácil de resolver, quando chegamos em casa, desmontei a porta e percebi que a porca que segurava o varão no miolo da fechadura havia caído, só precisando ser recolocado no lugar e novamente apertado, depois disso a porta abriu e fechou normalmente.
Mas com certeza um dos encontros mais emocionantes foi o de Iracemápolis, SP, no mesmo dia em que havia um encontro de Hot´s na cidade de Campinas, SP. Isso até me deixou meio que indeciso, pois também queria muito participar desse encontro de Campinas, mas como meu tio Zé me convidou para ir até o encontro de Iracemápolis, acabei decidindo deixar o de Campinas para outra ocasião, até porque já havia participado de um encontro em Campinas nesse mesmo ano e nunca havia participado de nenhum encontro em Iracemápolis, nem mesmo conhecia a cidade.
No domingo pela manhã, conforme combinado, meu Tio Zé, sua Esposa Jô e suas filhas Mônica e Michelle, já estavam esperando enfrente de casa para irmos juntos ao encontro; geralmente quando íamos a algum encontro, como disse antes, só íamos, meu pai, a Flávia e eu, mas dessa vez minha mãe também iria.
Como não conhecia a cidade, meu tio Zé foi à minha frente com seu carro e no caminho, passamos por uma pequena chuva, nada que sujasse muito o Dodge.
Quando chegamos ao evento, já haviam vários carros antigos da região estacionados na praça central da cidade, mesmo assim a organização do encontro deixou o Dodge no local dos destaques do evento, junto de dois veículos totalmente originais, com direito até a placa preta.
Estava um domingo frio e chuvoso, durante o dia todo ficava hora chovendo, hora chuviscando (garoando), mas mesmo assim isso não foi o suficiente para espantar o grande público que compareceu ao evento. Confesso que estava feliz em participar desse encontro, pois, mesmo meu carro sendo um street rod, ficou como destaque do evento junto de dois originais com placa preta, até minha mãe que nunca gostou muito de encontro de carros antigos estava animada, mesmo com o frio e a chuva.
Mesmo com chuva, meu pai e minha mãe se divertiram muito nesse encontro, pareciam até duas crianças, comeram cachorro quente, meu pai enfrentou fila junto de muitas crianças para comprar algodão doce e tiraram até fotos juntos do vigilante rodoviário, Carlos Miranda (do seriado nacional O Vigilante Rodoviário). Depois de sairmos do encontro, no caminho de volta fomos pegos de surpresa por uma forte chuva com vento, nada que nos assustasse e o Dodge se saiu muito bem, vínhamos ouvindo entre outros, Dion DiMucci (o mesmo do Dion and the Belmonts) cantando no rádio Donna the prima Donna e mesmo com muita água na pista e com os fortes ventos, não tivemos nenhum problema.
Antes de sairmos desse encontro, já havíamos combinado de pararmos em uma churrascaria que meu pai conhecia próximo a cidade de Piracicaba, pois apesar de comermos lanches e cachorro quente durante a manhã, todos queriam almoçar e já se passava das 13:00hs quando saímos do encontro.
Esse almoço foi marcado por muitas risadas e uma ótima comida, tanto que quando nos reunimos em família, até hoje ele é lembrado pelo meu pai e pelo meu tio Valdemar (o tio Zé) que fazem questão de contar aos outros tios e tias em detalhes, como comemos e saímos do local satisfeitos, pois na ocasião, só estava nossa família almoçando no local (talvez por já se passar de 15:00hs).
Meu pai brincalhão como sempre, chegou até a jogar pela janela da churrascaria alguns pedaços de ossos para os cachorros que ficavam “de guarda” num posto de gasolina, logo ao lado da churrascaria e os mesmos comeram como se fosse a coisa mais deliciosa do mundo, acredito que nem mesmo eles nunca comeram tanto como nesse dia.
Olha lá o “cara” jogando minha cerveja fora!
Finalmente quando a Flávia bateu a foto, o catador de latinhas já estava longe e sem ter outra alternativa, meu pai foi comprar outra cerveja. Fiz questão de bater depois uma foto dele com a latinha de cerveja na mão em frente ao Dodge, para registrar o fato.
Também num encontro em Piracicaba SP, estacionamos o Dodge dentro de um barracão, junto de outros carros, bem ao lado de um lindo Bel Air 1957 quatro portas sem coluna e também do mesmo Ford Fairlane 1958 que estava abandonado no ferro velho e foi restaurado por um colecionador de Piracicaba.
Isso me fez recordar a época em que frequentávamos o ferro velho. Quem poderia imaginar que aquele velho Ford Fairlane 1958 um dia sairia daquele amontoado de carros abandonados e estaria brilhando como novo num encontro de carros antigos?
E ainda, quando poderia imaginar que eu estaria com um carro que sempre sonhei ao lado de mesmo Ford? Seria alguma obra do destino?
Depois de passar a manhã e uma parte da tarde no encontro, estávamos nos preparando para sair e vimos que o carro estava cercado por uma multidão, a maioria fotografando o carro. Mesmo assim, já tínhamos decidido ir embora, mas quando fui abrir a porta do motorista, que estava travada, ela não abril. Todos que estavam perto do carro ficaram curiosos para saber o que estava acontecendo, principalmente eu, que tive de abrir e entrar pela porta do lado do acompanhante (carona).
As filhas do meu tio Zé estavam comigo no banco de trás do carro e a Flávia ficou fora para levantar o cordão de isolamento, para depois entrar no carro. Saímos do local de isolamento ouvindo no rádio Clyde McPhatter cantando A Lover’s Question e mesmo depois que a Flávia entrou no carro, ainda havia uma multidão fotografando o carro durante sua saída.
Na saída do evento, encontrei com uma amiga do trabalho junto de sua filha que queria tirar uma foto dela no lugar do motorista, mas por conta da porta estar travada ela deixou para uma outra ocasião. A questão da porta travada foi fácil de resolver, quando chegamos em casa, desmontei a porta e percebi que a porca que segurava o varão no miolo da fechadura havia caído, só precisando ser recolocado no lugar e novamente apertado, depois disso a porta abriu e fechou normalmente.
Mas com certeza um dos encontros mais emocionantes foi o de Iracemápolis, SP, no mesmo dia em que havia um encontro de Hot´s na cidade de Campinas, SP. Isso até me deixou meio que indeciso, pois também queria muito participar desse encontro de Campinas, mas como meu tio Zé me convidou para ir até o encontro de Iracemápolis, acabei decidindo deixar o de Campinas para outra ocasião, até porque já havia participado de um encontro em Campinas nesse mesmo ano e nunca havia participado de nenhum encontro em Iracemápolis, nem mesmo conhecia a cidade.
No domingo pela manhã, conforme combinado, meu Tio Zé, sua Esposa Jô e suas filhas Mônica e Michelle, já estavam esperando enfrente de casa para irmos juntos ao encontro; geralmente quando íamos a algum encontro, como disse antes, só íamos, meu pai, a Flávia e eu, mas dessa vez minha mãe também iria.
Como não conhecia a cidade, meu tio Zé foi à minha frente com seu carro e no caminho, passamos por uma pequena chuva, nada que sujasse muito o Dodge.
Quando chegamos ao evento, já haviam vários carros antigos da região estacionados na praça central da cidade, mesmo assim a organização do encontro deixou o Dodge no local dos destaques do evento, junto de dois veículos totalmente originais, com direito até a placa preta.
Estava um domingo frio e chuvoso, durante o dia todo ficava hora chovendo, hora chuviscando (garoando), mas mesmo assim isso não foi o suficiente para espantar o grande público que compareceu ao evento. Confesso que estava feliz em participar desse encontro, pois, mesmo meu carro sendo um street rod, ficou como destaque do evento junto de dois originais com placa preta, até minha mãe que nunca gostou muito de encontro de carros antigos estava animada, mesmo com o frio e a chuva.
Mesmo com chuva, meu pai e minha mãe se divertiram muito nesse encontro, pareciam até duas crianças, comeram cachorro quente, meu pai enfrentou fila junto de muitas crianças para comprar algodão doce e tiraram até fotos juntos do vigilante rodoviário, Carlos Miranda (do seriado nacional O Vigilante Rodoviário). Depois de sairmos do encontro, no caminho de volta fomos pegos de surpresa por uma forte chuva com vento, nada que nos assustasse e o Dodge se saiu muito bem, vínhamos ouvindo entre outros, Dion DiMucci (o mesmo do Dion and the Belmonts) cantando no rádio Donna the prima Donna e mesmo com muita água na pista e com os fortes ventos, não tivemos nenhum problema.
Antes de sairmos desse encontro, já havíamos combinado de pararmos em uma churrascaria que meu pai conhecia próximo a cidade de Piracicaba, pois apesar de comermos lanches e cachorro quente durante a manhã, todos queriam almoçar e já se passava das 13:00hs quando saímos do encontro.
Esse almoço foi marcado por muitas risadas e uma ótima comida, tanto que quando nos reunimos em família, até hoje ele é lembrado pelo meu pai e pelo meu tio Valdemar (o tio Zé) que fazem questão de contar aos outros tios e tias em detalhes, como comemos e saímos do local satisfeitos, pois na ocasião, só estava nossa família almoçando no local (talvez por já se passar de 15:00hs).
Meu pai brincalhão como sempre, chegou até a jogar pela janela da churrascaria alguns pedaços de ossos para os cachorros que ficavam “de guarda” num posto de gasolina, logo ao lado da churrascaria e os mesmos comeram como se fosse a coisa mais deliciosa do mundo, acredito que nem mesmo eles nunca comeram tanto como nesse dia.
O Dodge durante o encontro de Iracemápolis em
30 de julho de 2006, junto com os carros de destaque do evento.
Quando
saímos da churrascaria, todos os garçons e funcionários da mesma foram até a
porta para acompanhar nossa saída, não sei até hoje se foram nos acompanhar
para ver o Dodge que ficou o tempo todo estacionado em frente à churrascaria ou
se porque nunca viram um pessoal tão animado como a nossa família! (gosto de
pensar que foi por conta da primeira opção).
No caminho até chegar em casa, novamente enfrentamos mais chuva e bem na minha frente havia um caminhão que jogava muito barro no Dodge. Isso não foi problema para os limpadores de para-brisas, mas em compensação, a sujeira que ficou o carro foi impressionante. Me senti obrigado a lavar o carro na noite fria e chuvosa desse mesmo domingo.
Um detalhe interessante foi que depois que parei o Dodge para restauração, nunca mais fui aos encontros semanais de carros antigos em Piracicaba, pois, testemunhei e ouvi coisas de pessoas que se diziam apaixonadas por carros antigos (mas que só apareciam nos encontros semanais com carros importados zero Km) que não me agradaram muito e não era nem mesmo a meu respeito e sim aos carros de outros participantes, infelizmente, por conta dessas pessoas (não eram todos, apenas um pequeno grupo que se diziam colecionadores puristas que não admitiam que transformassem um carro em Hot Rod ou Street Rod), muitas outras pessoas também acabaram se afastando do clube, o que realmente foi uma pena, pois com o pessoal do clube pude conhecer vários lugares incríveis relacionados a carros antigos, como a chácara do Sr Og Pozzoli (considerados por muitos como a maior coleção de carros antigos do Brasil até 2006) onde fomos meu pai, o pessoal do clube e eu, muito bem recebidos pelo próprio Sr Og e sua esposa, que nos ofereceu um maravilhoso banquete, o qual incluía além de frutas, um bolo de chocolate feito pela sua esposa, o qual nunca mais comi outro igual, de tão saboroso que estava. Ele nos mostrou todos os seus carros e fez questão de nos contar a história de cada um deles. Passamos uma tarde incrível, mas mesmo ele tendo tantos carros antigos (até mesmo um Cadillac 1959 coupê entre outros únicos no país e alguns de produção baixíssima no mundo) não vi nenhuma Plymouth 1957ou 1958 e nem mesmo um Dodge 1957 em seu acervo, o que só vinha a reforçar minha teoria de que esses modelos de carros são mais raros do que eu imaginava.
Só conseguimos fazer essa visita a chácara (que na verdade mais parecia um museu) do Sr Og, por conta do presidente do clube na época, o Sr Caetano, conhecer o mesmo pessoalmente, pois seu acervo não era aberto à visitação pública.
Confesso que fiquei um pouco chateado em não participar mais dos encontros em Piracicaba, mas enquanto existirem pessoas que preferem ver um carro antigo sendo consumido pela ferrugem ou sendo sucateados em ferro-velho e não admitirem que os mesmos sejam salvos de terminar seus dias servindo de matéria prima para siderúrgicas, sendo transformados em Hot Rods ou mesmo em Street Rods, prefiro continuar participando dos encontros com minha família.
Não tenho nada contra restaurar um carro antigo em estado original, eu mesmo tive o Impala 1968 quase que totalmente original, sendo que só foram retirado os friso, do resto, ele era totalmente original, na verdade, admiro muito os colecionadores que vão em busca de peças para seus carros, pois isso demonstra o “amor” que sentem pelos seus carros antigos.
Mesmo sentimento que possui também, os proprietários de carros modificados, por isso acredito que ambos mereçam o respeito uns dos outros.
Agora que tinha retornado a participar de encontros, não era afiliado a nenhum clube, pesquisava na internet quando e onde os mesmo aconteceriam e comparecia na companhia da Flávia e do meu pai e garanto que me divertia muito mais do que na companhia de falsos amigos que na minha presença davam tapinhas nas costas, me parabenizando pelo carro, mas que quando virava as costas falavam mal do carro, principalmente por conta do mesmo estar transformado em Street Rod.
Posso dizer sinceramente que estava aproveitando muito bem o carro, sempre que podia, saia com ele para qualquer lugar e quando fui até a fazenda onde nasci para fazer uma visita aos meus tios, não foi diferente, fomos a Flávia e eu com o Dodge.
Meu tio Carlos era o responsável pela fazenda e a esposa dele, minha tia Teresinha (apelidada desde criança como Tere) gostava de passar horas conversando com a Flávia. Mas nesse dia, meu tio não estava em casa, estava apenas minha tia, que ficou conversando com a Flávia. Como o assunto das duas não me interessava muito e também não sabia a que horas meu tio iria voltar, resolvi ficar esperando no carro, ouvindo um pouco de música.
Estacionei o carro em baixo da sombra de uma enorme árvore a qual brincava quando era criança e me deitei no banco dianteiro com a porta do motorista aberta e as pernas para fora do carro. Como era um sábado, ninguém passava por ali e podia ouvir até o som do vento balançando as copas das árvores, por conta do silêncio que estava na fazenda, ninguém além do meu tio estava trabalhando.
Fiquei um bom tempo deitado ouvindo The Fleetwoods cantando Come Softly to Me, The Skyliners cantando Since I Don´t Have You e Santo & Johnny tocando, Sleep Walk entre outras. Estava pensando em tudo o que havia acontecido no passado e em como estava acontecendo tudo tão rápido. De repente, deitado no banco do carro ouvindo Buddy Holly cantando Everyday, na sombra da árvore, numa tarde de sábado, parecia que o tempo havia parado. Não sei como explicar, mas parecia que não havia mais nenhuma preocupação no mundo, finalmente havia percebido que estava feliz! Sem medo que a Flávia voltasse a ter depressão ou recaídas, parece que finalmente estava descansando num momento só meu, como se estivesse meditando ou algo parecido.
Não fiquei ali por mais de meia hora e meu tio passou, vindo da cidade. Fomos então até a sua casa para conversarmos e lógico que a primeira coisa que perguntei foi sobre o Bel Air 1951. Onde estava guardado e se podia vê-lo?
Meu tio me disse que o carro estava num barracão, coberto com uma capa de pano, mas ele teria que pedir permissão ao proprietário para que eu pudesse ver como estava o carro.
Entendi, e também, realmente a Flávia não estava nem um pouco a fim de ir até um barracão escuro, com aranhas por todo canto para ver um carro que estava parado a mais de três anos. Sendo assim pedi se ele poderia falar com o proprietário, se poderíamos ver o carro no próximo sábado e ele disse que durante a semana falaria com o proprietário a respeito.
Depois de conversarmos um pouco, chegamos ao motivo da visita, perguntei se meu tio e minha tia gostariam de serem padrinhos do nosso casamento e também se poderiam levar a Flávia até a igreja com seu carro no dia do casamento e ambos aceitaram, depois disso, fomos embora e ao som de Sam Cooke cantando Blue Moon, fui mostrando a Flávia as casa onde morei durante minha infância na fazenda e onde ficava a casa da minha avó, onde fui criado, mas que agora havia sido demolida, pois a estrutura da casa já estava bastante comprometida pela umidade.
Foi muito bom ter voltado àquela fazenda com a Flávia e com o Dodge, senti uma sensação de realização, pois nunca poderia imaginar que um garoto que cortava cana-de-açúcar, filho de pessoas humildes, um dia teria um carro com o qual havia sonhado sua adolescência inteira e estava preste a se casar! Me senti como se tivesse construído meu próprio brinquedo e agora estava usando ele como sempre sonhei, mas também percebi olhando para a fazenda, o quanto meu pai e minha mãe sofreram quando jovens para conseguir me criar com o pouco que ganhavam e isso me fez sentir ainda mais carinho, respeito e orgulho pelos dois.
No caminho até chegar em casa, novamente enfrentamos mais chuva e bem na minha frente havia um caminhão que jogava muito barro no Dodge. Isso não foi problema para os limpadores de para-brisas, mas em compensação, a sujeira que ficou o carro foi impressionante. Me senti obrigado a lavar o carro na noite fria e chuvosa desse mesmo domingo.
O Dodge depois de voltar do encontro de
Iracemápolis, reparem na sujeira em que ele ficou!
Um detalhe interessante foi que depois que parei o Dodge para restauração, nunca mais fui aos encontros semanais de carros antigos em Piracicaba, pois, testemunhei e ouvi coisas de pessoas que se diziam apaixonadas por carros antigos (mas que só apareciam nos encontros semanais com carros importados zero Km) que não me agradaram muito e não era nem mesmo a meu respeito e sim aos carros de outros participantes, infelizmente, por conta dessas pessoas (não eram todos, apenas um pequeno grupo que se diziam colecionadores puristas que não admitiam que transformassem um carro em Hot Rod ou Street Rod), muitas outras pessoas também acabaram se afastando do clube, o que realmente foi uma pena, pois com o pessoal do clube pude conhecer vários lugares incríveis relacionados a carros antigos, como a chácara do Sr Og Pozzoli (considerados por muitos como a maior coleção de carros antigos do Brasil até 2006) onde fomos meu pai, o pessoal do clube e eu, muito bem recebidos pelo próprio Sr Og e sua esposa, que nos ofereceu um maravilhoso banquete, o qual incluía além de frutas, um bolo de chocolate feito pela sua esposa, o qual nunca mais comi outro igual, de tão saboroso que estava. Ele nos mostrou todos os seus carros e fez questão de nos contar a história de cada um deles. Passamos uma tarde incrível, mas mesmo ele tendo tantos carros antigos (até mesmo um Cadillac 1959 coupê entre outros únicos no país e alguns de produção baixíssima no mundo) não vi nenhuma Plymouth 1957ou 1958 e nem mesmo um Dodge 1957 em seu acervo, o que só vinha a reforçar minha teoria de que esses modelos de carros são mais raros do que eu imaginava.
Só conseguimos fazer essa visita a chácara (que na verdade mais parecia um museu) do Sr Og, por conta do presidente do clube na época, o Sr Caetano, conhecer o mesmo pessoalmente, pois seu acervo não era aberto à visitação pública.
Confesso que fiquei um pouco chateado em não participar mais dos encontros em Piracicaba, mas enquanto existirem pessoas que preferem ver um carro antigo sendo consumido pela ferrugem ou sendo sucateados em ferro-velho e não admitirem que os mesmos sejam salvos de terminar seus dias servindo de matéria prima para siderúrgicas, sendo transformados em Hot Rods ou mesmo em Street Rods, prefiro continuar participando dos encontros com minha família.
Não tenho nada contra restaurar um carro antigo em estado original, eu mesmo tive o Impala 1968 quase que totalmente original, sendo que só foram retirado os friso, do resto, ele era totalmente original, na verdade, admiro muito os colecionadores que vão em busca de peças para seus carros, pois isso demonstra o “amor” que sentem pelos seus carros antigos.
Mesmo sentimento que possui também, os proprietários de carros modificados, por isso acredito que ambos mereçam o respeito uns dos outros.
Agora que tinha retornado a participar de encontros, não era afiliado a nenhum clube, pesquisava na internet quando e onde os mesmo aconteceriam e comparecia na companhia da Flávia e do meu pai e garanto que me divertia muito mais do que na companhia de falsos amigos que na minha presença davam tapinhas nas costas, me parabenizando pelo carro, mas que quando virava as costas falavam mal do carro, principalmente por conta do mesmo estar transformado em Street Rod.
Posso dizer sinceramente que estava aproveitando muito bem o carro, sempre que podia, saia com ele para qualquer lugar e quando fui até a fazenda onde nasci para fazer uma visita aos meus tios, não foi diferente, fomos a Flávia e eu com o Dodge.
Meu tio Carlos era o responsável pela fazenda e a esposa dele, minha tia Teresinha (apelidada desde criança como Tere) gostava de passar horas conversando com a Flávia. Mas nesse dia, meu tio não estava em casa, estava apenas minha tia, que ficou conversando com a Flávia. Como o assunto das duas não me interessava muito e também não sabia a que horas meu tio iria voltar, resolvi ficar esperando no carro, ouvindo um pouco de música.
Estacionei o carro em baixo da sombra de uma enorme árvore a qual brincava quando era criança e me deitei no banco dianteiro com a porta do motorista aberta e as pernas para fora do carro. Como era um sábado, ninguém passava por ali e podia ouvir até o som do vento balançando as copas das árvores, por conta do silêncio que estava na fazenda, ninguém além do meu tio estava trabalhando.
Fiquei um bom tempo deitado ouvindo The Fleetwoods cantando Come Softly to Me, The Skyliners cantando Since I Don´t Have You e Santo & Johnny tocando, Sleep Walk entre outras. Estava pensando em tudo o que havia acontecido no passado e em como estava acontecendo tudo tão rápido. De repente, deitado no banco do carro ouvindo Buddy Holly cantando Everyday, na sombra da árvore, numa tarde de sábado, parecia que o tempo havia parado. Não sei como explicar, mas parecia que não havia mais nenhuma preocupação no mundo, finalmente havia percebido que estava feliz! Sem medo que a Flávia voltasse a ter depressão ou recaídas, parece que finalmente estava descansando num momento só meu, como se estivesse meditando ou algo parecido.
Não fiquei ali por mais de meia hora e meu tio passou, vindo da cidade. Fomos então até a sua casa para conversarmos e lógico que a primeira coisa que perguntei foi sobre o Bel Air 1951. Onde estava guardado e se podia vê-lo?
Meu tio me disse que o carro estava num barracão, coberto com uma capa de pano, mas ele teria que pedir permissão ao proprietário para que eu pudesse ver como estava o carro.
Entendi, e também, realmente a Flávia não estava nem um pouco a fim de ir até um barracão escuro, com aranhas por todo canto para ver um carro que estava parado a mais de três anos. Sendo assim pedi se ele poderia falar com o proprietário, se poderíamos ver o carro no próximo sábado e ele disse que durante a semana falaria com o proprietário a respeito.
Depois de conversarmos um pouco, chegamos ao motivo da visita, perguntei se meu tio e minha tia gostariam de serem padrinhos do nosso casamento e também se poderiam levar a Flávia até a igreja com seu carro no dia do casamento e ambos aceitaram, depois disso, fomos embora e ao som de Sam Cooke cantando Blue Moon, fui mostrando a Flávia as casa onde morei durante minha infância na fazenda e onde ficava a casa da minha avó, onde fui criado, mas que agora havia sido demolida, pois a estrutura da casa já estava bastante comprometida pela umidade.
Foi muito bom ter voltado àquela fazenda com a Flávia e com o Dodge, senti uma sensação de realização, pois nunca poderia imaginar que um garoto que cortava cana-de-açúcar, filho de pessoas humildes, um dia teria um carro com o qual havia sonhado sua adolescência inteira e estava preste a se casar! Me senti como se tivesse construído meu próprio brinquedo e agora estava usando ele como sempre sonhei, mas também percebi olhando para a fazenda, o quanto meu pai e minha mãe sofreram quando jovens para conseguir me criar com o pouco que ganhavam e isso me fez sentir ainda mais carinho, respeito e orgulho pelos dois.
Acima fotos
do Dodge...
Na fazenda onde nasci...
Acima, interior do carro...
Acima, detalhe do
retrovisor refletindo as árvores da fazenda.
Meu Tio
Carlos conversou com o proprietário do Bel Air 1951 durante a semana e me ligou
para confirmar que poderia ir ver o carro no sábado e dessa vez quem quis ir
junto foi meu pai que já estava mais do que apaixonado por carros antigos.
Quando
chegamos ao barracão onde estava o carro, quase não acreditei no estado em que
ele estava. Embora estivesse coberto por uma capa de pano, ele estava totalmente coberto de palha de cana, que era processada em uma máquina que ficava bem em
frente de onde estava o carro para servir de alimento para o gado, isso sem
falar que o carro embora coberto, estava com a capa completamente úmida, pois o
barracão já era muito antigo e deixava entrar muita água pelas frestas
existentes em suas telhas.
Comecei a
repara bem no barracão e então compreendi por que a Flávia não quis vir junto.
A parte de madeira parecia já estar bem velha e o estado do barracão também não
era dos melhores, isso sem falar nas incontáveis teias de aranhas, por todo os
lados, com aranhas repousando em sua moradia no silêncio escuro do barracão.
Conforme disse meu tio, elas eram inofensivas, são chamadas de aranhas de teias
e parece que não são venenosas, e quem sou eu para duvidar e arriscar
descobrir?
Quando meu
tio puxou a capa de pano para descobrir o carro, pude ver o estado real da
situação de abandono, pois a capa rasgou ao meio de tão podre que estava. Uma parte
saiu do carro enquanto a outra que rasgou, ficou presa ao carro, grudada em sua
lataria devido à umidade e sujeira que se juntou durante o tempo em que ficou
parado.
Acima e abaixo, fotos do Bel Air 1951 na fazenda onde
nasci, dentro de um barracão completamente abandonado.
Até mesmo meu tio não estava acreditando no estado em que estava o carro, ele mesmo se propôs a pedir ao proprietário, autorização para retirar o carro dali e também para lavar o carro (que vontade que eu tive de pedir para me deixarem lavar esse carro).
Fomos embora, mas não sem pedir para meu tio, deixar ver novamente o carro depois de limpo. Fiquei decepcionado em ver um carro tão bonito (e que quase foi meu) abandonado deste jeito, fiquei imaginando se tivesse comprado esse carro, como será que ele estaria? Provavelmente eu nem estaria mais com o carro, acredito que o teria restaurado e depois de pronto teria lhe trocado com o Dodge, como foi o caso do Impala 1968.
Uma semana se passou e encontrei com meu tio na casa da minha avó. Ele me disse que poderia ir ver o carro sem problema, mas ele não estava mais naquele barracão.
Depois de lavado ele foi levado, mesmo sem funcionar, até uma garagem que fica ao lado da casa do meu tio e próximo ao escritório da fazenda.
É claro que meu pai também quis ir até a fazenda para ver o estado do carro e confesso que depois de vê-lo limpo, fiquei até tentado a procurar o proprietário e perguntar se ele não estaria interessado em me deixar restaurar o carro para ele, mas logo essa “tentação” passou, pois estaria restaurando um carro que não me pertencia e também, não tinha tempo para pensar em restauração de carros no momento, meu pensamento agora estava focado totalmente no casamento.
Acima, fotos do Bel Air 1951 depois de lavado e
devidamente guardado em uma garagem na fazenda, abaixo meu pai ao volante do
carro. (que vontade de comprar heim!)
Deixando o Bel Air 1951 devidamente guardado e bem cuidado, voltei minha atenção ao Dodge, pois precisava vendê-lo o quanto antes.
O carro já havia sido matéria de uma revista de carros antigos, onde foi contada um resumo de sua história assim como também foi destaque na intranet do antigo trabalho do meu pai, mostrando que, após ele me ajudar a restaurar esse carro, ele também passou a gostar de carros antigos.
Acima e abaixo, fotos da matérias sobre o Dodge numa revista.
Essa é a foto de Campinas que meu pai tirou com a lata de cerveja na mão.
Acima, foto do Dodge junto de meu pai, na intranet do antigo trabalho dele.
Durante esse período em que procurava casa e tentava vender o Dodge, encontrei uma edícula para venda. Já estávamos no mês de agosto e o proprietário da edícula queria vendê-la, pois ele estava trabalhando e morando numa usina em Rondônia, sendo que a edícula estava alugada para um amigo meu e foi justamente, à própria esposa do meu amigo que me indicou essa edícula.
Essa edícula era bem pequena, devia ter uns 50 metros quadrados de área construída no máximo, mas seu terreno era enorme, com 300 metros quadrado. Para um casal, recém casado e sem filhos, estava ótimo, minha noiva e eu fomos avaliar a edícula e ela adorou.
Fechamos verbalmente negócio com o proprietário, mas não tinha o dinheiro para pagar á vista, sendo que precisaria fazer um financiamento num banco para conseguir pagar. O proprietário aceitou fazer negócio mesmo assim, dizendo que esperaria o financiamento para então assinar a venda do imóvel.
Esse financiamento não era tão simples, pois os tramites e burocracias exigidos pelo banco, mais as dificuldades do proprietário para conseguir os documentos exigidos atrasavam a negociação do imóvel. Mas finalmente em Outubro estava tudo pronto para a assinatura da venda do imóvel, tanto da minha parte, como da parte do vendedor.
Estava ansioso, pois se conseguisse comprar essa edícula com o dinheiro do financiamento, não teria que vender o Dodge (na verdade, essa era minha maior esperança desde que coloquei o carro para venda). Mas como nem tudo na vida são “flores”, o proprietário do imóvel me deu uma má noticia. Mesmo vendendo o imóvel, seu inquilino (meu amigo) havia assinado um contrato de permanência para até Abril de 2007, sendo que mesmo o imóvel sendo meu, teria que esperar o término do contrato para podermos nos mudar.
Conversei com minha noiva sobre o assunto e decidimos que como não haveria outra solução, teríamos que ficar na casa dos meus pais até que o inquilino saísse do imóvel, pois mesmo sendo meu amigo, não teria como tirar ele do imóvel e nem o atual proprietário e nem eu tínhamos o dinheiro necessário para pagar a multa pela "quebra de contrato" .
Também descartamos a idéia de procurar uma casa para alugar nesse período, pois não tínhamos como pagar aluguel.
Mas não contávamos com outra surpresa ainda maior (e pior) do destino.
No Final de Outubro, faltando apenas dois meses para o nosso casamento, já estava tudo preparado para a transferência do imóvel para o meu nome, só precisava que seu proprietário e sua esposa viessem para Rio das Pedras assinarem a venda do mesmo no cartório.
Mas um dia antes disso, a esposa do proprietário me ligou dizendo que havia desistido de vender o imóvel.
Não dava para acreditar, depois de meses de negociação, faltando um dia para assinar a venda do imóvel, a esposa o proprietário desistiu de vender, pois sua família que residia em Rio das Pedras era totalmente contra a venda.
A Justificativa dela foi de que a usina onde seu marido trabalhava estava parada e não era certeza que seu marido iria continuar morando em Rondônia, pois conseguir emprego por lá estava difícil e mais um monte de outras desculpas.
Não podia obrigá-la a vender seu imóvel, nem mesmo condená-la por essa decisão, pois ela só estava pensando em seus filhos e na dificuldade de conseguir estruturar sua vida longe da família, já que seu marido trabalhava durante todo o dia e ela ficava praticamente sozinha com os filhos em casa, numa cidade estranha e um tanto isolada dos grandes centros, mas mesmo assim exigi um ressarcimento de todo dinheiro que havia gasto durante as negociações e o seu marido me pagou corretamente sem reclamar.
Agora faltava pouco mais de um mês para o casamento e não tínhamos nada, nem terreno, nem casa e nem móveis, tínhamos apenas comprado o colchão, em Águas de São Pedro, SP, durante o encontro de Pick-up’s e carros antigos na mesma cidade.
É até estranho dizer que compramos um colchão num encontro de carros antigos, mas, aproveitamos que estava em promoção e compramos, com o combinado para entregarem uma semana antes do casamento e só para constar, o colchão não era antigo ou usado, era realmente novo, tanto que veio com o nome da Flávia e o meu bordado nele. (pois falar que comprou alguma coisa numa exposição de carros antigos dá uma certa impressão de que era um objeto usado ou restaurado).
Fiquei preocupado com minha noiva, temendo que ela voltasse a entrar em depressão, mas isso não tirou nosso entusiasmo pelo casamento, serviu para nos fortalecer ainda mais e assim partimos a procura de uma nova casa para comprar, faltando pouco menos de um mês para o casamento.
Encontramos várias casas, mas a maioria não podia ser financiada devido à falta de regularização de alguns documentos e outras casas misteriosamente não davam certo, até parecia quando estava querendo ir para a praia com o Dodge, uma sucessão de coisas erradas, até mesmo casas para comprar e reformar não davam certo, hora o dono não queria mais vender ou a proprietária estava doente e não podia assinar a venda, entre muitas outras coisas.
Faltando então poucos dias para o casamento, resolvi colocar novamente o Dodge para venda na internet e dessa vez ele foi anunciado em vários sites diferentes, alguns pagos e outros não. Estava aceitando até mesmo veículo atual como parte do pagamento, mas mesmo assim só recebia elogios e ofertas por carros para restaurar, proposta de compra não havia nenhuma.
Como não conseguia encontrar uma casa para comprar, resolvi procurar um terreno, já que estava mesmo decidido que ficaríamos na casa dos meus pais até conseguir comprar uma casa, tínhamos até trocado o meu quarto com o deles, pois a cama que compramos não caberia no meu antigo quarto.
Durante as semanas que antecediam nosso casamento, recebi algumas propostas interessantes de troca do Dodge, mas nenhuma deu certo e ao mesmo tempo, também havíamos vistos vários terrenos, mas também sem sucesso.
Até cheguei a fazer um negócio numa imobiliária com um terreno e levei meu futuro sogro, S. Odair, que era pedreiro para avaliar. Ele me disse que somente para nivelar o terreno e fazer os alicerces da casa, gastaria mais de R$10.000,00 reais (em 2006).
Sem saída e sem outra opção conversei na imobiliária se eles esperariam até eu vender o carro para poder pagar esse terreno e eles concordaram em esperar.
Mas dois dias depois, para minha surpresa (e que surpresa) passei em frente ao mesmo terreno que havia negociado e ele estava com uma placa de vende-se!
Não entendi, pois se já havia negociado que esperariam, como podiam estar vendendo o terreno? Talvez porque eu só poderia pagar depois que conseguisse o valor total do dinheiro? Mas mesmo assim o responsável pela imobiliária havia dito que seguraria esse terreno e poderia pagar somente no próximo ano.
Fui falar com o dono da imobiliária que me contou uma historia “sem pé nem cabeça” de que o dono do terreno estava pedindo para que eu desistisse da compra!
Achei que estava sendo enganado de alguma forma e acabei desistindo da compra sem saber direito o que estava acontecendo, somente depois de uns dias, meu pai ficou sabendo que o dono da imobiliária estava vendendo o terreno sem que o próprio dono do terreno soubesse disso!
Mas vejam só como é o destino! Havia acabado de desistir do terreno e nesse mesmo dia meu futuro cunhado me ligou dizendo que havia um terreno para venda ao lado de sua casa. Como tinha interesse, fomos todos até o tal terreno para avaliá-lo.
Meu futuro cunhado disse que o dono do terreno o havia oferecido para seu pai, mas ele disse que não tinha interesse, nisso ele se lembrou que estávamos procurando um terreno e ligou para o proprietário que depois de pouca conversa disse que seguraria o terreno até que conseguíssemos o dinheiro para comprá-lo. Sinceramente gostei do terreno, com 300 metros quadrados e uma área quase plana.
Como oportunidade assim não aparece todo dia, tínhamos que aproveitar e para isso foi preciso refinanciar o Gol do meu pai em uma empresa especializada em venda de carros, fazendo assim uma dívida de R$15.000,00 reais, ou seja, o valor do Gol, mais um empréstimo de R$10.000,00 reais, que meu pai fez na empresa onde ele trabalhava para totalizar o valor do terreno que era de R$25.000,00 reais.
Numa terça feira à noite, dois representantes da empresa que faria o refinanciamento do Gol do meu pai, vieram até em casa para assinarmos os papéis e ambos ficaram eufóricos ao verem o Dodge na garagem, nunca haviam visto um carro tão chamativo e me fizeram uma proposta de levá-lo para uma inauguração de uma nova sede em Limeira, SP.
No inicio fiquei receoso, pois nunca os tinha visto antes, até a Flávia achou que não era uma boa idéia, pois ela estava comigo e ouviu toda a conversa. Eles disseram que haveria muita gente nessa inauguração, inclusive uma dupla sertaneja muito famosa.
Isso não era nenhum atrativo para me animar a deixar o carro numa outra cidade nas mãos de dois desconhecidos, mas eles disseram que no local, haveria segurança 24 horas e eu levaria e traria o carro de volta e eles ainda iriam mandar lavar, polir e encher o tanque do carro se concordássemos em levá-lo para a inauguração.
Conversei com meu pai e a Flávia e concordamos em levar o carro para a inauguração, pois com uma dupla sertaneja de sucesso participando e muitos convidados do ramo automobilístico, quem sabe não sairia negócio com o Dodge!
Os dois representantes da empresa já sabiam que o carro estava à venda e disseram que ajudariam a divulgar isso na inauguração.
Sendo assim, saímos de casa as 23:00hs, a Flávia ficou preocupada e quis ir junto, mas eu acreditava que não tinha com que se preocupar. No caminho, o Dodge cruzava a escuridão da noite solitário na pista que levava até Limeira, SP.
Não vimos outros carros na pista, além do carro de um dos rapazes da empresa, o qual íamos seguindo, ouvindo Pretty Boy (Don Covay) “berrando no rádio” Rockin´ The Mule.
O outro rapaz da empresa que estava conosco no Dodge não cansava de elogiar o carro, estava maravilhado em ver como ele rodava e mesmo sem as minhas mãos na direção ele mantinha uma estabilidade sem igual na pista.
Quando chegamos a Limeira, vi onde o carro ficaria exposto e conversei com o segurança do local que me confirmou que ali ficariam dois seguranças 24 horas. Marquei o telefone de todos, inclusive da loja que seria inaugurada (questão de segurança) e combinei de voltar para buscá-lo no dia seguinte ao da inauguração.
Para voltar, viemos de carona no carro de um dos rapazes e devo dizer, como fez diferença, pois estávamos em cinco pessoas no carro, todos apertados, enquanto que no Dodge, cabiam cinco pessoas confortavelmente. Chegamos em casa depois da 01:30hs da manhã.
No dia de ir buscar o Dodge, meu pai foi me levar com o Gol, a Flávia foi junto e no caminho, eu tinha a esperança de que o carro até já tivesse sido negociado, mas ao chegar ao local, Um dos rapazes me disse que não apareceu nenhum interessado em comprá-lo, embora um dos cantores da dupla sertaneja tivesse ficado muito interessado. Ele também me disse que as pessoas ficaram admiradas com um carro tão diferente e chamativo (mas negócio que é bom, nada!).
Um dos rapazes da empresa até chegou a me dizer que foi bom que não conseguimos vendê-lo, pois assim eu poderia levar minha noiva para a igreja com ele!
Embora ninguém vá acreditar, confesso (e é verdade) que nem tinha pensado nessa hipótese, mas gostei da idéia e minha noiva que estava comigo não disse nada que contrariasse essa idéia. Isso seria a maior prova de que ela realmente vencera a depressão e que não se incomodava mais com o carro como antigamente, mostraria que ela tinha se convencido de que realmente era apenas um carro e que agora estava servindo como um investimento para nosso futuro.
Nunca havia pensado na idéia de levar noivas
até a igreja com o Dodge, muito menos em levar a “minha noiva” com esse carro, mas seria interessante.
Passei uns dias pensando nisso, mas também pensava na questão do terreno, pois havíamos feito uma dívida muito grande e tinha medo que novamente a negociação não desse certo.
Realmente passei a acreditar em como esse mundo é pequeno, pois o pai do proprietário do terreno era amigo de infância do meu pai e conversando por telefone, ele disse que esperaria até depois do casamento para fazermos o negócio, pois como conhecia meu pai, sabia que não o enganaríamos, nem desistiríamos do negócio.
Isso me fazia lembrar das histórias que meu avô Dito me contava, de como eram feitos negócios antigamente, sem assinar nenhum tipo de contrato, apenas na confiança da palavra dos envolvidos nas negociações. Será que hoje em dia isso ainda seria possível?
Agora estava desesperado, pois precisava de dinheiro, depois de ver tantas casas e terrenos e nenhum negócio ser fechado ou ter dado certo, não podia correr o risco de perder esse terreno.
Um dia antes de terminar o anúncio do Dodge na internet recebi uma última oferta de troca do Dodge por um Buick 1993 no valor de R$30.000.00 reais e os outros R$20.000.00 reais em dinheiro.
Esse Buick estava no Sul do Brasil e pela internet, dava para ver que era um carro espetacular, completo com todos os opcionais de fábrica, motor V6 importado, isso sem falar do acabamento interno todo em couro, tinha até cruise control, uma espécie de piloto automático. Confesso que fiquei empolgado, entrei em contato com o vendedor e por impulso, acabei aceitando a troca.
Mas expliquei para ele que o único problema em fazer a negociação é que estava muito próximo do dia do meu casamento e não tinha tempo de correr atrás de transporte para o carro até o Sul, até porque havíamos combinado de ambos dividirmos os gastos com o transporte de ambos os carros, porém ele preferia que eu procurasse transporte para levar o meu carro até o Sul e trazer o dele na volta.
Minha intenção era de pegar esse Buick na troca e depois vendê-lo, mas não tinha idéia de valor de um carro desses, sendo assim, resolvi pesquisar.
Achei apenas um modelo igual do mesmo ano para venda no Brasil, anunciado na internet também, de cor branca, tinha também todos os opcionais disponíveis, apenas o valor era diferente, R$32.000.00 reais, porém, conversando com o proprietário desse carro descobri que apesar de ser um modelo raro no Brasil e de alto luxo, é muito difícil de mercado, devido ao seu alto valor, mesmo sendo usado e por conta do custo benefício, em relação a manutenção e peças.
Como o proprietário havia concordado em esperar, só pensaria em resolver a troca dos carros após meu casamento, pois minha cabeça estava focada somente nisso, não podia dar nada errado. Já tínhamos procurado um buffet para casamento para cuidar do jantar para os padrinhos e escolhido tudo o que estava relacionado ao casamento (roupas, flores, filmagem, fotos, bebida, comida, aluguel do local do jantar, igreja, etc.).
Finalmente chegara a semana do casamento, não tinha tempo para pensar em carro ou outras coisas que não fossem relacionadas ao casamento, exemplo disso foi que para terminar de arrumar o quarto na casa da minha mãe, onde ficaríamos depois de casados, só terminei de colocar as cortinas, por exemplo, na sexta feira, depois da 01:30hs da manhã, sendo que teria que acordar no dia seguinte as 07:30 hs da manhã para o casamento no civil.
Minha noiva estava eufórica e já estava tudo arrumado e combinado, meu Tio Carlos, iria dirigindo seu carro até a igreja para levar a noiva, depois disso, iríamos fazer uma sessão de fotos em Piracicaba, no gramado da Escola Superior Luiz de Queiroz e voltaríamos para um jantar com os padrinhos.
Um dia antes do casamento, perguntei a minha noiva se ela se importava de chegar à igreja no Dodge e ela disse que não teria o menor problema, acreditava que seria muito mais charmoso chegar à igreja com um carro antigo, mas um dia antes, o carro apresentou um pequeno problema nas portas traseiras que de vez em quando “teimavam” em travar de uma maneira que somente eu conseguia abri-las.
Até mostrei para meu pai qual o “macete” para se abrir, mas eu mesmo achei melhor deixar essa idéia de lado, pois não daria tempo e arrumar as portas antes do casamento.
Agora, dá para imaginar a cena:
Eu esperando no altar a entrada da noiva e ela presa dentro do carro, esperando que eu descesse do altar e fosse abrir a porta, ou meu pai que já estava no altar ao lado dos padrinhos, tivesse que deixar minha mãe sozinha para tentar abrir a porta do carro para que a noiva pudesse descer!
Também havia um outro pequeno inconveniente que era o ar condicionado do carro, que estava desligado, sendo assim, se estivesse muito calor (e estava mesmo!) tanto a noiva quanto meu tio Carlos e minha tia Tere (que também seriam padrinhos) ficariam todos suados e ainda correria o risco de estragar a maquiagem da noiva.
Esse dia teria que ser perfeito e especial e também queria que todas as atenções fossem voltadas para minha noiva, pois esse era o “seu momento”, um momento único e mágico que ela havia sonhado a nos! Não queria que o carro chamasse mais a atenção do que os noivos.
Então resolvi deixar de lado essa idéia de ir à igreja com o Dodge, mas até mesmo no jantar para os padrinhos o Dodge foi mencionado, pois todos acreditavam que a noiva chegaria com ele à igreja.
O casamento foi perfeito (tirando alguns pequenos erros como na troca das alianças onde erramos os dedos e estávamos colocando as mesmas nos dedos de noivado, mas corrigimos rapidamente, nem apareceu nas filmagens) do jeito que a Flávia sempre sonhou. Após, fomos ao jantar para os padrinhos, no qual sinceramente não comemos quase nada, pois mal chegamos ao local e fomos tirar fotos com padrinhos, bolo etc, depois saímos para tirar fotos em Piracicaba, mal voltamos e mais fotos, sendo assim, só conseguimos comer alguma coisa antes de dançarmos a valsa para os noivos que foi oferecida pelo meu amigo que estava como DJ da festa, José Ernesto (obrigado pelo “mico” Zé Ernesto).
Saímos da festa quase 03:30 hs da manhã e fomos para casa apenas para trocar de roupa, para depois sairmos direto para a lua de mel.
Depois da volta da lua de mel, um assunto que teria que ser resolvido era a troca dos carros, mas depois de saber qual o preço do carreto (transporte) do carro até o Sul, e de volta com o Buick, fui obrigado a desistir da negociação, pois mesmo voltando uma parte em dinheiro, o que sobraria (descontando o valor do carreto, seguro, da transferência da documentação, etc) não daria para pagar nem metade das dívidas, sendo assim liguei para o dono do Buick e expliquei minha situação. Precisava de um carro atual, de venda fácil e rápida no mercado e ele entendeu perfeitamente, apenas lamentou por não poder ficar com o Dodge, pois havia gostado muito do modelo.
Estávamos na metade do mês de dezembro e novamente como todo fim de ano, estávamos nos programando para ir para a praia, mas dessa vez, com a promessa que fiz a minha noiva (agora esposa) cumprida.
Não iríamos como namorados e nem como noivos, iríamos casados e também poderia realizar um outro velho desejo meu, ir com o Dodge para a praia. Mas havia um pequeno problema, ou seja, o mesmo problema do ano passado, onde deixar o carro? Já que ríramos na mesma casa e na garagem não caberia o Dodge, teria que deixá-lo na rua ou pagar um estacionamento, o que não era uma boa opção, já que o dinheiro nesse ano, estava limitado.
Mas isso não me preocupava no momento, minha maior preocupação era tentar vender o Dodge e vasculhando na internet, descobri um estacionamento de carros antigos em Piracicaba mesmo.
O mais interessante é que em quanto navegava nos sites pela internet, percebi que a maioria das Plymouth 1957 que estiveram para venda, ainda estavam anunciadas, sendo que apareceram mais três, uma Plymouth Savoy Azul claro quatro portas, uma Plymouth Savoy azul um pouco mais escura, também quatro portas e outra Plymouth Belvedere coupê azul clara, todas no Sul do Brasil.
Ficava imaginando que não era mais tão impossível de um dia, realizar o sonho de ter uma Plymouth 1957, mas ainda teria que esperar um pouco mais, pois agora tinha outras responsabilidades e prioridades.
Como antes de comprar o Dodge, só tinha noticia de uma Plymouth 1958 e muitos anos depois encontrei essas Plymouth 1957, quem sabe agora com a evolução da internet, não encontraria uma Plymouth 1958 para venda?
E a maior prova disso foi à foto que vi numa revista de carros antigos, de uma Plymouth Fury 1958 para restaurar que está guardada a “sete chaves” num barracão em São Paulo junto de muitos outros carros antigos no mesmo estado e uma outra Plymouth Fury 1958 já restaurada que pertence a um acervo de alguns colecionadores.
No fundo mantinha uma esperança de conseguir vender o Dodge por um bom preço, pagar a dívida do terreno e conseguir guardar algum dinheiro para comprar uma das Plymouth 1957 que estavam para venda na internet. Deixaria o carro parado, até fazer um financiamento para a construção de uma casa e somente depois de ter a casa construída, começaria a restaurar a Plymouth.
Mas tinha certeza de que com o casamento, viriam outras responsabilidades e futuramente filhos, sendo assim, tinha que manter minha cabeça focada no que era prioridade, não dava para ficar "sonhando" em comprar outro carro para restaurar nesse momento, mesmo com tantas tentações aparecendo bem diante dos meus olhos e com certeza a maior delas era a Plymouth Belvedere 1957 coupê.
Já tinha visto esse carro numa revista de carros antigos abandonada num ferro velho, e depois de um mês ela apareceu anunciada para venda. Ela estava com a maioria dos frisos, inclusive os do teto, tinha as calotas originais, bancos originais, e todos os emblemas como os V dos para-lamas dianteiros e as letras Belvedere no final da carroceria, Mas o estado do carro não era dos melhores, estava com vários pontos de ferrugem, estava com a lateral traseira e os para-choques traseiros amassados, assim como o para-brisa trincado e faltando o vidro traseiro, juntamente com seus frisos e borracha. O carro não funcionava, embora estivesse com um motor 6 cilindros de outra Plymouth 1957, mesmo assim achei esse carro perfeito (é quase que o mesmo sentimento que tive quando vi pela primeira vez o Dodge no fundo do barracão, não conseguia ver o real estado do carro e sim, já o visualizava pronto) e isso era um perigo, pois precisava pensar na minha família, que tinha acabado de constituir.
Acima ,
Plymouth 1957 quatro portas à venda no Sul do Brasil.
Dê
todas as Plymouth que vi na internet para venda, nem mesmo a Fury 1957 mexeu
tanto comigo quanto essa Belvedere 1957.
Acima, mesmo modelo de
Plymouth Belvedere 1957 já restaurada, mas para deixar a outra igual a essa,
teria que ter muito tempo e dinheiro, sem falar de muita, mas muita paciência.
O fim de um sonho e o começo de outro.
Com o Dodge novamente anunciado num site da internet gratuito, resolvi tentar a sorte com esse estacionamento que havia em Piracicaba. Havia falado por telefone com o Adalberto, que era a pessoa responsável pelo estacionamento de veículos antigos e o mesmo me pediu para levar o carro até o estacionamento para uma avaliação, isso quase no final de dezembro de 2006, dois dias antes de sairmos de viajem.
Não sei se por medo de deixar o carro num estacionamento e sair para viajar ou mesmo por “intervenção Divina”, tive um sentimento estranho, de que ainda não era hora de levá-lo e seguindo essa “intuição” acabei deixando-o em casa. Ficava imaginando se acontecesse alguma coisa com o carro no estacionamento e estivesse em férias na praia não teria como fazer nada. Não queria que nada estragasse essas férias, pois eram especiais para minha esposa e eu, seria nossa primeira viagem depois de casados.
Acredito que o que realmente me impedia de levar o carro até o estacionamento era minha vontade de ir para a praia com ele, mas sabia das limitações que existiam.
Primeiro, iríamos novamente na mesma casa do ano anterior, sendo assim o carro não caberia na garagem, depois o risco de se viajar com um carro desses! Não pela mecânica, mas pelo risco de quebrar alguma coisa e por chamar muita a atenção, sem contar o gasto com manutenção e combustível, dinheiro esse que no momento não dispunha.
Ainda levaria comigo, minha esposa e meus avós, sem falar das malas, então já imaginou se no meio da viagem, uma pedra quebra o para-brisa do carro, o transtorno que causaria, para minha esposa, meus avós e eu, seria o fim da viagem na certa, principalmente pela nova lei que proíbe e multa veículos que transitam com trincas e danos nos para-brisa (lei no ano de 2006).
Mesmo assim, até a véspera da viagem, meus avós não tinham confirmado se iriam ou não para a praia, primeiro pela idade e pelas limitações físicas da minha avó que quase não conseguia mais andar, devido à artrose nos joelhos e segundo por não ter a confirmação do meu primo, se ele iria ou não para a praia com seus pais, caso esse meu primo e sua namorada fossem, não teria lugar para meus avós e isso só aumentava a minha vontade de ir com o Dodge, pois levaria ambos com mais conforto e espaço.
Mas no dia da viagem, durante a tarde veio à confirmação de que meu primo, a namorada e um casal de amigos só iriam no próximo sábado, com o carro do seu amigo, só para passar a virada do ano.
Pensei muito na semana que antecedia a viagem, sobre ir com o Dodge e confesso que pela primeira vez tive medo de ir há algum lugar com esse carro. Ao mesmo tempo em que era tentado e “sonhava acordado” em estacioná-lo a beira do mar ouvindo Surfin´ Safari dos Beach Boys, também tinha um outro lado meu que via a realidade. Agora não era mais um rapaz solteiro e sem compromisso e também dependia da venda do carro para pagar a dívida que havia feito e construir nossa casa.
Ficava pensando no caso de algum acidente ou mesmo alguma batida, como conseguiria recuperar o Dodge sem dinheiro e recém casado, sendo que quase todas as peças teriam que serem importadas?
Para piorar ainda mais essa sensação, na mesma semana que iríamos viajar, passou na TV uma reportagem sobre acidentes e roubos que ocorrem durante os finais de ano no litoral. Claro que acidentes e roubos acontecem a toda hora e em todo lugar, mas não podia arriscar.
Sendo assim, fomos com o Gol do meu pai e meus avós foram com meu tio em outro carro, já que seu filho e a namorada não foram e assim, o Dodge ficou novamente em casa.
Na praia, pensava em uma maneira de conseguir vender o carro e falando com minha esposa, decidi novamente anunciar o carro no site pago especializado em compra e venda de carros antigos.
Posso dizer que aproveitamos muito a semana em que ficamos na praia e também conversei muito com minha esposa sobre nosso futuro, ela sabia que eu gostava o Dodge tanto quanto ela gostava por exemplo, de cachorro e que estava sendo difícil ter que me desfazer de um sonho de uma vida inteira, mas deixei claro que ainda não havia desistido do meu verdadeiro sonho, podia estar vendendo o Dodge, mas ainda sonhava em comprar uma Plymouth 1957 ou 1958.
Já que voltamos da viagem coloquei o anúncio do Dodge novamente na internet e como de costume, só tive elogios e ofertas de troca por outros carros antigos ainda necessitando de restauração, nada que me interessasse.
Coincidentemente aquela Plymouth 1957 Belvedere que me chamou tanto a atenção estava também anunciada nesse mesmo site da internet. Agora você deve estar pensando:
Se meu sonho era ter uma Plymouth 1957 ou 1958 e havia uma de meu interesse anunciada na internet, por que eu não tentei trocá-la pelo meu Dodge e receber o restante do valor em dinheiro?
E vocês acham que não tentei fazer isso? Enviei até fotos do Dodge com toda a descrição do que foi feito nele, mas o proprietário da Plymouth, mesmo interessado, não tinha condição de fazer a volta em dinheiro e o carro estava muito avariado, sem vidro traseiro e sem documentos, isso sem falar que eu estava ciente da minha situação, se ficasse com um carro antigo para restaurar, no momento, não teria nem onde deixá-lo.
Agora vejam (novamente) como esse mundo apesar de enorme, ao mesmo tempo é pequeno! O proprietário dessa Plymouth Belvedere coupê 1957, era também, o antigo proprietário do De Soto 1958 e o mesmo o vendeu para o interior de São Paulo e o novo proprietário também já havia me oferecido o mesmo De Soto 1958, como troca pelo Dodge, junto de um Santana 2000. Quanta coincidência!
Demorou um pouco até que eu percebesse a difícil realidade de que infelizmente, não poderia trocar o Dodge por nenhum outro carro antigo, tinha que tentar vendê-lo pelo valor pedido em dinheiro ou pelo menos metade do valor na troca por um carro atual de fácil revenda e o restante em dinheiro, mas ninguém estava disposto a abrir mão de um carro atual, de uso diário e ainda assim pagar mais uma quantia em dinheiro para comprar um carro antigo, mesmo este estando restaurado, com uma mecânica moderna, confiável e rodando normalmente. Para qualquer pessoa "normal", isso parecia ser uma estupidez, ninguém acreditaria que uma pessoa em sã consciência poderia fazer algo assim, mas para quem ama carro antigo, não há dinheiro que pague o valor de um sonho.
Acima, anuncio
na internet do Dodge, apesar de chamar muita a atenção, só havia propostas de
troca.
Acima, anuncio
da Plymouth Belvedere 1957 que me chamou muito a atenção, o carro ainda estava
para venda.
Agora minha situação
financeira estava ficando preocupante, pois apesar de ter pago o terreno,
estava com a dívida do Gol e o financiamento que meu pai havia feito. E ainda
havia o Dodge, que era um carro que não estava usando devido ao medo que tinha
de alguém bater ou mesmo que ocorresse algum tipo de acidente, pois sabia que
dependia dele para conseguir o dinheiro para pagar a dívida, isso sem falar no
alto gasto de combustível.
Sem muitas alternativas, meu pai
me indicou de colocar o Dodge num estacionamento, mas era um estacionamento onde
eram vendidos caminhões!
A explicação para tal
idéia era de que ele passava sempre em frente desse estacionamento e sempre
havia um ou outro carro para venda na calçada em frente.
Realmente comprovei
que havia alguns carros para venda e a maioria eram vendidos bem rápidos, como
por exemplo, um Volkswagen TL que foi vendido por R$ 3.500,00 reais, um Ford
Landau também vendido por R$ 5.000,00 entre outros.
Mas se era para
colocar o Dodge num estacionamento, então colocaria num em que trabalhasse com
esse tipo de carro, sendo assim falei para meu pai qual o motivo de não querer
colocar o carro nesse estacionamento e ele entendeu que realmente não era o
melhor local para se vender um carro antigo.
Num sábado pela
manhã, sem que eu soubesse, meu pai foi falar
com o Adalberto, que novamente pediu para levar o carro até o estacionamento
para uma avaliação.
Com isso tinha mais
uma semana para aproveitar o Dodge antes de levá-lo para o estacionamento.
Tomando todo cuidado do mundo, saia com o Dodge à noite apenas para levar a
Flávia na casa da minha (agora) sogra e eram apenas de segunda, quarta e
sexta-feira.
Na sexta-feira,
aproveitando que meu pai estava de férias, pedi se
ele poderia dar uma lavada no carro, mas no sábado em que havíamos combinado de
levar o carro até o estacionamento, choveu muito e o próprio Adalberto
nos ligou e nos aconselhou que não levássemos o Dodge nesse dia, pois não tinha uma vaga num lugar
coberto para deixar o carro. Sendo assim combinamos de levar o carro no sábado
da próxima semana, pois fazia questão que ele ficasse em lugar coberto.
No domingo, apesar da
forte chuva do dia anterior, fez um dia ensolarado e como minha esposa e eu não
tínhamos combinado de fazer nada, fomos com o Dodge ao clube de campo da
cidade, mas antes tive de pagar uma velha promessa que havia feito.
Aproveitando que
minha prima Valquiria estava na casa da minha avó com seu filho Bruno, levei-o
para dar uma volta no Dodge, pois já havia prometido isso a ele e juntos foram,
minha esposa, o meu primo Felipe e as minhas primas Mônica e Michele.
Pode
parecer estranho, mas sentia que não
ficaria mais muito tempo com o carro, por isso aproveitei para ver o que o
Dodge podia fazer, Meus primos e primas adoraram, minha esposa não gostou
muito, pois o Bruno havia ficado com um pouco de medo.
Não havia feito nada
de mais, apenas umas “cantadas de pneu” e um pequeno “cavalo de pau” na esquina
de casa, mas acho que o Bruno ficou um pouco traumatizado, com certeza esse
garoto vai odiar carros antigos quando ficar mais velho!
Quando paramos em
frente à casa da minha avó, todos desceram, até a Flávia também foi para a casa
da minha avó (que, diga-se de passagem, é ao lado da casa da minha mãe), para conversar com
minhas tias que estavam por lá. Um pouco depois, a Flávia e eu fomos até o Clube
de Campo de Rio das Pedras, para relaxar um pouco, mas não conseguia relaxar,
pois eu ficava preocupado com o carro no estacionamento, o qual era numa área
de livre acesso e muitos curiosos (inclusive crianças) ficavam rodeando o carro
a toda hora para vê-lo de perto, assim eu ficava receoso de que alguém sem
querer o riscasse ou mesmo quebrasse alguma coisa nele.
Teve um momento em que sai da piscina e fui
até o muro de onde dava para ver o carro no estacionamento e pude ver dois
adolescentes que haviam acabado de sair da piscina, torcendo o retrovisor do
carro do lado do motorista para pentear o cabelo!
Mesmo que dissesse
alguma coisa, eles estavam longe demais para me ouvir, fiquei “P da vida”, pois
no vestiário masculino havia espelho, não precisava ir pentear o cabelo no
retrovisor do meu carro e por falar nisso, porque justamente o meu carro? Sendo
que havia uns vinte carros parados no estacionamento? Parecia que faziam isso
de propósito, apenas por ser um carro antigo.
Minha esposa viu que
eu havia ficado uma fera com isso e me disse que sempre seria assim, em
qualquer lugar que deixasse o carro parado, sempre haveria curiosos rodeando
ele, e que teria que me acostumar com essa situação.
Realmente ela tinha
razão, depois de algumas horas, resolvemos ir embora, pois também, já era quase
hora do almoço.
Voltamos para casa
ouvindo Buddy Holly cantando That’ll Be The Day, parecia que a única coisa que
realmente me relaxava era andar com a Flávia no Dodge ouvindo rock’n roll.
Havia até uma galeria no centro de Rio das Pedras que tinha a frente toda feita
em vidro espelhado, a qual refletia as imagens dos carros que ali passavam. Fazia questão de sempre que possível, passar com o Dodge bem devagar, em frente
dessa galeria, só para admirá-lo rodando na rua.
Durante a semana,
esperava o sábado chegar, para levar o Dodge até o estacionamento para
avaliação, não sabia se ele seria vendido rápido, pois já o estava anunciando
há muito tempo e não havia nenhum negócio em vista.
Na sexta-feira à
noite, a Flávia me pediu para levá-la até a casa da sua mãe e essa era mais uma
oportunidade para sair com o Dodge.
Deixei-a na casa da sua mãe e voltei para
casa, pois só iria buscá-la mais tarde. No caminho de volta para casa, enquanto
ouvia no rádio Billy Vaughn tocando La Paloma, relembrava do tempo em que
sonhava em ter um carro antigo e agora estava atrás do volante do meu próprio
carro. Em casa, depois de guardar o Dodge na garagem, estava fechando os vidros
e começou a tocar no rádio The Danleers cantando One Summer Night. Fiquei
sentado dentro do carro, no escuro, iluminado apenas pela pequena luz verde do
rádio, ouvindo a música até o final, observando aquele painel todo cromado e
lembrando de tudo que havia feito nesse carro. Até então, acho que não havia me
dado conta de todos os pequenos detalhes em que eu havia trabalhado nesse
carro. Depois que a música acabou, senti uma sensação estranha, sai do carro
como um sentimento que não tenho como explicar, parecia uma premonição de que
algo ruim iria acontecer. Resolvi então ir buscar a Flávia com o Gol do meu pai, não
sabia o que era esse sentimento, então resolvi não arriscar.
No sábado conforme combinado,
levamos o carro até o estacionamento um pouco antes de fechar, minha esposa foi
comigo e no caminho fomos ouvindo no rádio Dion and Belmonts com Runaround Sue
e I Wonder Why, entre outras músicas do gênero. Quando chegamos, confesso que
não foi fácil de estacionar o Dodge, pois esse estacionamento ficava bem na rua
principal da cidade de Piracicaba, SP e no sábado pela manhã era quase impossível de trafegar por ali por
conta do trânsito intenso. Imagine parar o trânsito com um carro com mais de cinco metros de comprimento por quase dois metros de
largura e dar ré no mesmo, sem falar que a vaga destinada a ele era bem
em frente ao portão, ficando ele voltado para a rua, e para “ajudar” um pouco
mais, ele não cabia na vaga, tendo de deixá-lo de transversal.
Enquanto minha esposa
e eu aguardávamos a chegada do meu pai, que estava procurando vaga para
estacionar o Gol, fomos admirar alguns carros que ali estavam. Fiquei sabendo
que alguns dias antes o Adalberto havia
vendido uma Plymouth 1955, um dos modelos mais belos que ali estava, depois
fomos conversamos com ele que já de inicio, me disse que acompanhou toda a
restauração do meu carro, sabia de sua procedência e também me perguntou se
caso alguém me oferecesse, se eu aceitaria trocar o Dodge por carro mais atual de
menor valor como parte do pagamento?
Disse a ele que
precisava no mínimo de metade do valor do carro em dinheiro e sendo assim, só
não poderia aceitar outro antigo na troca (infelizmente, nem tudo sai como a
gente espera ou sonha), mas se fosse um carro mais atual de fácil negociação,
eu aceitaria.
No estacionamento
havia vários carros, a maior parte da frota era nacional, alguns Dodge Dart,
Charge R/T, Chevrolet Opala, Ford Maverick, Ford Landau, Kombi da década de 60
entre dois ou três importados da década de 70, o mais antigo no momento era o
meu Dodge 1957.
Depois de acertarmos
todos os tramites da negociação ele novamente me perguntou se aceitaria um
carro atual como, por exemplo, um Gol, na troca? Achei estranho ele me perguntar isso de novo, pois já havia
dito que sim, mas mesmo assim, respondi novamente, sem me lembrar que dias
antes havia visitado a página do estacionamento na internet e tinha visto um
Gol 2002 completo para a venda.
Além dos carros
antigos, havia também outros mais atuais para venda como, por exemplo, uma
Saveiro 2003, um Audi 2001 entre outros, mas esses eram uma minoria.
Acima e abaixo, o Dodge
no estacionamento onde ficou para venda junto de vários outros carros antigos e
alguns novos.
Ao chegar em casa, tentei não deixar transparecer meu sentimento de tristeza, brincando com minha esposa sobre o espaço que havia ficado na garagem e que agora havia onde estender a rede para descansar, entre outras coisas.
Mas ela percebia, mesmo eu tentando esconder, que eu estava triste, embora negasse dizendo que seria bom que vendêssemos o Dodge, pois precisávamos de dinheiro.
Mesmo assim ela tentava me ajudar de várias formas, me agradando e me incentivando.
Depois que chegamos em casa, caiu sobre a cidade uma forte chuva com vento, não estava com vontade de sair de casa, queria apenas ficar deitado descansando um pouco, na verdade, não estava cansado fisicamente, era uma sensação estranha, não consigo descrever e nem compará-la com alguma outra sensação que já senti na vida (talvez depressão?). Para não deixar transparecer minha tristeza, nem para minha mãe nem para meu pai, fomos, a Flávia e eu almoçar, mas na verdade não tinha nem um pouco de fome, a comida me parecia sem gosto.
Após o almoço, minha esposa pediu se poderia levá-la até a casa de sua mãe depois que acalmasse a chuva e isso me fazia novamente lembrar do Dodge, pois sempre que saímos para algum lugar na cidade, íamos com ele e quando aparecia com o Gol do meu pai, na casa da minha sogra, por exemplo, o meu sogro, Sr. Odair, sempre me perguntava:
- Cadê o carrão? Por que não veio com ele?
Sabia que em qualquer lugar que fôssemos todos iriam me perguntar pelo carro e isso era até engraçado, pois até parecia que já o tinha vendido!
Durante a noite desse mesmo sábado, fomos até Piracicaba para fazermos compra e a Flávia propôs de passarmos em frente ao estacionamento, para vermos o carro, claro que topei na hora e embora não tivéssemos parado, deu para ver que a chuva que caíra na parte da tarde não havia sujado nem os pneus do carro, que brilhavam com o produto que havia passado na sexta-feira.
No domingo fomos ao clube de campo e não dissemos nada para ninguém a respeito do carro, também não fomos a Piracicaba nesse domingo, não queria sair de casa, pois estava cansado (novamente aquela sensação estranha).
Na segunda feira, fui trabalhar com o pensamento de que seria difícil de vender o carro, pois já havia anunciado o mesmo durante quase um ano em vários sites da internet, inclusive num deles, o carro chegou a receber num mês 6.800 visitas de internautas de todo o Brasil interessados no carro e mesmo assim, as únicas ofertas que recebia eram de troca por outros antigos.
Nessa mesma segunda feira, quando sai do trabalho, passei em frente ao estacionamento onde o carro estava, só para matar um pouco a saudade e ao passar, vi que o Adalberto estava na calçada, em frente ao estacionamento, junto de algumas outras pessoas.
Quando passei, não tinha como parar para conversar, pois o trânsito estava muito intenso, apenas passei e buzinei, mas pelo retrovisor, pude perceber que o Adalberto fez alguns gestos, do tipo de quem queria falar alguma coisa, mas pensei que provavelmente fosse alguma dúvida a respeito do carro.
Já havíamos combinado de que, qualquer dúvida, ele entraria em contato no meu celular e como até agora ele não havia me ligado, acredito que estava apenas me cumprimentando e eu interpretei de outra maneira.
À noite, minha esposa e eu fomos à casa dos meus avós e acabei deixando o celular dentro do Gol, somente quando voltamos, fui fechar o carro e percebi que haviam duas chamadas não atendidas, uma do estacionamento e outra de uma residência.
Logicamente liguei para a residência, pois no estacionamento as 22:00 horas não teria ninguém para atender. Era da residência do Adalberto, ele tinha uma proposta para me fazer, perguntou se aceitava a troca do Dodge por um Gol, 2002, modelo geração três, completo, no valor de R$ 24.500,00 reais, mais R$25, 000,00 de volta em dinheiro?
Aceitei a proposta, mas pedi para que o proprietário do Gol o levasse no estacionamento no próximo sábado para que pudesse avaliar seu estado e documentos.
Acredito que até esse momento, não havia"caído a ficha" do que havia acontecido, só depois de desligar o telefone, percebi que finalmente, eu havia vendido o Dodge!
Depois de quase um ano tentando vendê-lo, ele ficou apenas dois dias nesse estacionamento e consegui negociá-lo.
Durante a semana que se passou, fiquei receoso quanto à negociação, pensando na hipótese do proprietário do Gol desistir do negocio, (não que não iria gostar, mas estava precisando de dinheiro e a venda iria me ajudar muito). Ficava sempre esperando um telefonema do Adalberto para dizer que o proprietário havia desistido do negócio, pois tudo aconteceu muito rápido, deixei o carro num sábado e na segunda feira, já estava vendido! Mas quando o Adalberto me ligou, foi para confirmar que o Gol já estava no estacionamento e só estava aguardando que eu fosse avaliá-lo.
Desconfiei do preço pedido pelo carro (até por que eu entendo de carros antigos e não de carros usados ou novos) então resolvi fazer uma pesquisa de mercado em vários estacionamentos, mas todos me disseram a mesma coisa, o valor do Gol variava muito para mais ou para menos, conforme os itens colocados a mais no carro, mas o valor de tabela desse modelo era esse mesmo.
No sábado pela manhã, minha esposa, meu pai e eu fomos avaliar o Gol e não preciso nem dizer que minha esposa e meu pai adoraram o carro e não posso negar que também gostei.
Mas minha intenção era vendê-lo (e usar o dinheiro para comprar a minha tão sonhada Plymouth 1957, aquela Belvedere azul clara do Sul), mas minha esposa e meu pai insistiram para que ficasse com o carro, mesmo tendo todas as dívidas que ainda teríamos de pagar. Somente minha esposa sabia da minha intenção de vender o Gol para comprar a Plymouth 1957 para restaurar, (como dizem, a esperança é a última que morre), sentia que estava cada vez mais próximo de realizar o maior sonho da minha adolescência, mas ainda havia a construção da nossa casa que estava por vir e a compra dos móveis que estavam faltando, ou seja, seria melhor ficar com o carro por enquanto e usar o resto do dinheiro para pagar as dívidas.
Depois de avaliarmos o carro, fechamos negócio, mas não trouxe o Gol para casa, deixei no estacionamento para regularizar os documentos, para somente depois poder assinar o recibo de venda do Dodge.
Nesse mesmo sábado, durante a noite, fomos até Piracicaba fazer compras e passamos em frente ao estacionamento, mas Dodge não estava mais lá, minha esposa levou um susto, mas disse a ela que não se preocupasse, pois o Gol ainda estava estacionado no mesmo lugar que o havíamos deixado e era isso que nos importava agora, já que o Dodge já não era mais meu, por tanto, não tínhamos que nos preocupar em onde ele poderia estar (mas mesmo assim, sem ela saber, fiquei preocupado e imaginando, onde o carro estaria?).
Finalmente no sábado seguinte, fomos buscar o Gol e enquanto observava-o, o Adalberto me dizia os planos do futuro proprietário do Dodge, como colocar uma película verde clara nos vidros e colocar as calotas originais desse modelo.
Isso me lembrou muito quando a época em que comprei esse carro, estava cheio de planos e metas que foram com o tempo se desvencilhando do seu rumo e seguindo em outra direção.
Acima e abaixo, fotos
do Gol que aceitei na negociação com o Dodge, sem comparação, em minha opinião,
o Dodge era muito mais carro.
Saímos do estacionamento (lógico que eu estava com o coração apertado, pois achei que ainda veria o Dodge por lá, mas ele não estava e mesmo assim, não perguntei ao Adalberto onde ele estava, queria mostrar para a Flávia e para meu pai que não estava preocupado, mas na verdade estava) e levamos o Gol para casa.
Confesso que gostei do carro, pois sendo de família humilde, só havia tido um velho Ford Del Ray, com vidros elétricos e outros opcionais de fábrica o qual na verdade, mais quebrava os opcionais do que funcionavam e o Gol rodava macio e silencioso, bem diferente do Gol 1.0 do meu pai que usava diariamente para trabalhar (não desmerecendo ele).
Semanas depois. pagamos o refinanciamento que havíamos feito do Gol do meu pai e o seu financiamento do seu antigo trabalho, mas minha esposa e eu ainda estávamos com algumas dividas que também pagamos. No total, as dívidas somadas eram de R$ 4.000,00 reais, mas mesmo assim já pensava em vender o Gol, pois estaria começando uma outra época difícil da nossa vida, a construção de nossa casa.
Posso dizer que a última vez que entrei no Dodge foi quando levei o recibo de venda assinado para o Adalberto, depois de quase duas semanas da sua venda, pois o carro havia voltado para o estacionamento, no mesmo lugar onde o havia deixado e acredito que ficaria um bom tempo por ali, pois quem o comprou foi o próprio dono do estacionamento.
Senti como se fosse uma despedida, abri a porta do motorista e suas luzes de cortesia, tanto do teto como as debaixo do painel se acenderam, entrei no carro e sentei no banco, o qual tinha que ficar com as pernas um pouco abertas, devido ao volante que quase raspava nelas, de tão alto que estava o banco, olhei bem seu painel de instrumentos, o qual eu mesmo havia pintado os números com tinta branca, reparei em todos os detalhes cromados das portas e do painel, os botões do painel que havia limpado quando o comprei e fiquei me lembrando de todas as aventuras que passamos juntos.
Lembrei-me de quando a Flávia e eu fomos buscar o fogão que havíamos ganhado de presente de casamento com o Dodge, e esse coube perfeitamente deitado no banco traseiro do carro, assim como a máquina de lavar roupas que também havíamos ganhado e trouxemos dentro do porta-malas do Dodge, claro que com a tampa do porta-malas semiaberta e amarrada com muito cuidado.
Quando estava saindo do estacionamento para ir embora, reparei que o Dodge já estava com calotas, mesmo essas sendo de outro carro antigo, havia ficado muito bom, com um aspecto bem original, esse era o último item que estava faltando para deixá-lo do jeito que sonhei e confesso que segurei as lágrimas quando o vi completamente pronto, do jeito que havia imaginado há anos atrás, quando o retirei daquele galpão onde ele ficou durante tantos anos.
Devido ao futuro incerto, acabei vendendo o Gol uma semana depois e o dinheiro deixei aplicado na poupança.
Tinha a idéia de futuramente usar esse dinheiro para a construção da garagem da casa, para concretar o quintal e terminar o muro e somente depois de tudo isso realizado, veria o que sobraria para poder comprar uma Plymouth 1957.
Ainda tenho o costume de ficar olhando os carros para venda na internet, procurando pelo meu sonho sobre rodas e vendo isso, certa noite, minha esposa me perguntou se me arrependi de ter vendido um dos meus maiores sonhos já realizados?
Respondi o que realmente sinto, acredito que não sou como um colecionador que restaura vários carros para formar uma coleção, me sinto mais como um restaurador, que tem orgulho de ver sua obra concluída e admirada pelas pessoas, mesmo que quem o restaurou continue no anonimato. O Adalberto me disse que o novo proprietário pretendia levar o Dodge para o encontro de carros antigos em Águas de Lindóia em 2007 e mesmo o carro não sendo mais meu, seria motivo de muito orgulho vê-lo exposto no gramado de um dos maiores encontros de carros antigos do Brasil.
Não posso dizer que me arrependi de tê-lo vendido, pois precisava muito de dinheiro, vejo o Dodge 1957 como um grande amigo, o qual eu “ajudei” primeiro, restaurando-o e depois quando precisei de ajuda, ele me ajudou, com o dinheiro da sua venda.
Posso dizer que depois que terminei de restaurá-lo, aproveitamos muito o carro, fomos a diversos encontros com ele, alguns para expô-lo como o de Piracicaba em 2006 e outros apenas para prestigiar o encontro, como foi o caso do 2º encontro de Hot Rod’s de Águas de Lindóia e o encontro de Pick’up’s e carros antigos de Águas de São Pedro, também em 2006.
Andava com o carro sempre que podia, não importando se já era noite ou se estava chovendo ou não, sempre que aparecia uma oportunidade para sair, saía com o Dodge, sempre com o rádio em alto volume, tocando Elvis Presley, Little Richard, Buddy Holly, Jerry Lee Lewis e outros cantores da década de 50.
E isso foi à realização de um sonho, do meu sonho que virou realidade e já estava na hora de começar a sonhar novamente.
Assim como havia prometido há dez anos atrás para minha esposa, que quando terminasse a restauração do carro, nós nos casaríamos, fiz uma nova promessa para ela.
Não compraria outro carro antigo antes de termos nossa casa própria e de termos também um filho ou filha.
Mas minha esposa está ciente da minha paixão por carros antigos e de que um dia, vou encontrar o carro que sempre sonhei em ter, e quando esse dia chegar, espero estar preparado para colocar novamente em prática tudo o que aprendi com a restauração do Dodge.
Agora tenho outras responsabilidades, pois realizei um outro sonho, o de formar uma família, e mesmo que a psicóloga na qual minha esposa fazia tratamento tenha errando em muitas coisas, concordo com o que ela nos disse um dia.
- Todos temos sonhos, às vezes, temos até mais de um e nunca devemos desistir de nossos sonhos, mas às vezes precisamos adiar um sonho para conseguir realizar outro.
Como diz o velho ditado, um homem deve plantar uma árvore, ter um filho e escrever um livro, e sendo assim, dois desses já realizei, agora ainda falta um filho! Mas eu reformularia esse ditado acrescentando que um homem também deveria restaurar um carro antigo.
De vez em quando, fico pensando se realmente valeria à pena ter outro carro antigo nos dias de hoje?
Digo isso por conta da” guerra” que está o trânsito brasileiro. Todo dia vejo nos jornais e nas rodovias por onde passo, incontáveis acidentes, isso sem contar as “fechadas” quase que diárias que presencio e o preço exorbitante da gasolina, que sobe a cada dia. Isso sem falar das más condições da frota brasileira, onde vemos verdadeiras “bombas” sobre rodas trafegarem normalmente, às vezes em péssimo estado, e não estou falando de carros antigos não! Estou falando de carros velhos mesmo, que teimam em rodar com peças amarradas ou remendadas, às vezes chegando até a cair pedaços por onde passam.
No momento, penso em ter um carro para uso diário e que tenha fácil manutenção, para poder trabalhar com ele todos os dias, mas sem perder o gosto pelos antigos. Estou até pensando em comprar para usar no dia-a-dia um Chevrolet Opala ou um Ford Maverick, que já são considerados verdadeiros clássicos da indústria nacional, tendo até mesmo empresas especializadas em construção de peças, tanto mecânicas como de lataria para esses carros, mas sem me esquecer da nova promessa que fiz a minha esposa!
Hoje penso que uma Plymouth 1957 ou 1958, assim como um Impala 1959 ou um Bel Air 1957 ou qualquer outro carro da década de 50 e 60, não tenham condições de serem usados no dia-a-dia, por motivos como o próprio tamanho do carro, a manutenção e os gastos com combustível. Sem falar do risco de batidas ou mesmo de ter o carro danificado por vândalos que ao invés de admirar este tipo de carros, só pensam em estragar ou danificar o veículo. Sempre criticava as pessoas que possuíam carros antigos, por não usarem seus carros diariamente, até sentir “na pele” o que é ter um carro antigo restaurado e ver que não é a mesma coisa de um carro popular.
Toda vez que ia ao supermercado, minha esposa fazia as compras e eu ficava dentro do Dodge no estacionamento, com receio de que alguém quebrasse alguma peça ou mesmo riscasse o carro com um carrinho de compras e em qualquer lugar que íamos com o Dodge era a mesma coisa, e essa situação às vezes acabava até me incomodando, pois não conseguia relaxar.
Nos dias de hoje, se tivesse condições de comprar um carro antigo, este seria usado apenas para exposições, passeios e encontros de carros antigos. Não colocaria o carro sobre cavaletes na garagem de casa, apenas para dizer “Eu tenho um carro antigo na garagem”, claro que também, não usaria o carro diariamente, mas sim na medida do possível. Usaria o carro um dia ou outro na cidade onde moro, (onde o trânsito ainda é calmo a ponto de até poder ver charretes puxadas por cavalos trafegarem nas ruas do centro da cidade) para ir até a casa da minha sogra ou mesmo para ir ao centro comprar alguma coisa.
Depois de estabilizado financeiramente, vou tentar comprar outro carro antigo, não tenho pressa, pois sei que a pressa é a inimiga da perfeição, pretendo fazer tudo ao seu tempo, encontrar o carro, de preferência para restaurar e mesmo que leve mais dez ou quinze anos, pretendo fazê-lo bem feito, ainda melhor do que fiz o Dodge 1957.
Hoje olho para o passado e me lembro de quando tinha quinze anos de idade e não tinha nada a não ser uma bicicleta, ficava sonhando em ter um carro antigo, folheando aquela velha revista que tinha um Bel Air 1957 quatro portas e ficava me imaginando com um carro igual aquele, depois vejo tudo que consegui fazer durante esses outros quinze anos que se passaram e fico motivado a continuar correndo atrás dos meus sonhos. O que me reservará os próximos anos? Só o tempo poderá dizer, mas isso me faz sempre lembrar de uma frase de Theodore Roosevelt:
"É muito melhor arriscar coisas grandiosas, alcançar triunfos e glórias mesmo se expondo as derrotas, do que formar fila com os pobres de espírito que nem aproveitam muito, nem sofrem muito, porém vivem nessa penumbra cinzenta que não conhece vitórias nem derrotas”.Theodore Roosevelt (1858 - 1919), foi presidente dos Estados Unidos.
No momento tive que deixar meus planos correspondentes a carros antigos de lado, pois estou voltado a outros objetivos e outros problemas pessoais, que requerem mais gastos e mais paciência, mas quem sabe isso não seja motivo para novas histórias futuramente?
Alguns anos depois.
Alguns anos se passaram desde a venda do Dodge e posso dizer que mudei muito, se comparado a quando tinha meus vinte anos.
Já não uso mais as roupas ao estilo anos 50 como antigamente, o topete sumiu, ficando uma pequena lembrança do que um dia ele foi, as costeletas diminuíram um pouco e a barriga cresceu, mas mesmo assim, não abandonei o velho e bom rock dos anos 50, todos os dias vou e volto do trabalho ouvindo Rock´n Roll e Doo Wop´s como Sheriff and the Revels cantando Shombolar, The Cordials cantando Dum Dum, entre outros vários cantores da década de 50 e acredito que esse gosto musical nunca vai mudar.
Antes de vender o Dodge, acreditava que com o dinheiro da sua venda, conseguiria comprar uma casa, depois apareceu o terreno e fizemos a dívida para comprar o mesmo. Então também acreditava que com o dinheiro da venda do Dodge, daria para quitar as dívidas, construir a casa e ainda assim comprar a tão sonhada Plymouth 1957, mas a realidade foi “cruel” e muito diferente. Com o dinheiro da venda do Dodge, mal deu para construir a casa, tendo assim de ser feito um financiamento para o término da construção.
Quanto à tão sonhada Plymouth 1957, ainda mantenho contato com quase todos os proprietários das Plymouth 1957 que aqui citei, algumas ainda estão para venda, outras já foram vendidas, mas depois de algum tempo, percebi que fiquei tão deslumbrado com as Plymouth que iam aparecendo para venda que nem me dei conta de que tinha na minha garagem, o melhor carro do mundo que eu poderia querer, o Dodge Kingsway 1957.
Depois de alguns problemas de saúde, conseguimos a Flávia e eu, realizarmos o sonho de termos filho, no caso hoje, filha! Uma linda menina chamada Maria Eduarda.
Ainda não terminei a construção da casa como prevíamos, faltam algumas coisas, mas estou providenciando isso aos poucos.
Tenho que agradecer ao meu pai, que foi um verdadeiro herói, nos ajudando em tudo que era possível nessa época, tanto financeiramente como fisicamente também.
Quantos aos amigos, aos poucos ia encontrando com um ou outro e conversando com os que moravam em outras cidades. Chegamos até a nos reunir um dia na casa do Lupércio, um grande amigo que também admira carros antigos.
Foi apenas um pequeno churrasco para reunir o pessoal e também não foram todos os antigos amigos, pois alguns estavam trabalhando, inclusive eu, só pude comparecer no churrasco depois das 14:30hs, pois tinha algumas coisas para resolver antes.
Quando cheguei à casa do Lupércio, lá já estavam o Cléber (Japão), o José Eliandro (Zebra), o Alan (Digão) e outros amigos e só então percebi como o tempo passou rápido e nem me dei conta, pois fora o Lupércio, todos já estávamos casados e com filhos. Depois de muita conversa, chegou por lá o Roberto, outro amigo que também gosta de carros antigos e teve um Chevrolet Opala preto, na mesma época em que eu tinha o meu Impala 1968 e o Alan, um Ford Landau.
Por falar no Landau do Alan, me lembrei de quando saíamos juntos nos sábados à noite, em Rio das Pedras mesmo, ele com o seu Landau e eu com o meu Impala 1968.
Às vezes estacionávamos os carros juntos (o que era um pouco difícil, pois nem sempre achávamos uma vaga tão grande que coubesse os dois carros juntos) e sempre chamava muito a atenção, principalmente quando parávamos em frente à Sociedade Cultural Riopedrense, um clube que existe na cidade, bem em frente à praça central, onde os dois carros juntos ocupavam metade do quarteirão.
Perdi as contas das vezes que passava pela manhã em frente à casa do Alan e lá estava ele começando a lavar o Landau, passava novamente lá pela hora do almoço e lá estava ele passando cera no carro e no final da tarde, quando passava por lá, estava passando silicone nos pneus do Landau, só então a noite ele saia com o carro (isso se não tivesse uma nuvem no céu, pois se ameaçasse chover, ele nem tirava o carro da garagem) para aproveitar o trabalho realizado.
Não sei qual o motivo exato (até hoje ele me fala que foi por conta do gasto com manutenção), mas um dia, para espanto de todos, ele simplesmente vendeu o Landau para uma pessoa de uma cidade vizinha, mas até hoje ele mantém contato com o proprietário e de vez em quando ele comenta que viu o carro em algum lugar e que o carro está do mesmo jeito de quando ele o vendeu.
São muitas histórias de um tempo em que os carros e os passeios de sábado à noite eram diferentes dos de hoje em dia, nessa época nossa maior preocupação não era com o consumo de combustível, nem com que horas eram e sim para onde iríamos.
Perdi as contas de quantas vezes fomos até Piracicaba, SP com o Impala 1968 e dávamos quatro, cinco ou mais voltas na Avenida Carlos Botelho (nas noites de sábado dessa época era uma das mais movimentadas de Piracicaba), parecia até um desfile de carros.
Depois de muita conversa, tive de ir embora, porém, já com o compromisso de marcarmos outro churrasco e chamarmos os outros amigos que não puderam comparecer nesse.
Acima
foto do Ford Landau do Alan.
Pude finalmente perceber que na verdade, quando a Flávia entrou em depressão, não foram meus amigos que se afastaram e sim, eu que sem querer, acabei me afastando deles (talvez por conta do trabalho, estudo, restauração do carro e pelo tempo que tinha que me dedicar a Flávia), mas isso já era passado, como deve ser os verdadeiros amigos, isso nunca foi comentado nem cobrado por ninguém.
Em relação ao Dodge, nunca me esqueci dele! Mesmo sem ninguém saber, sempre fiquei observando “ocultamente”, o que estava acontecendo com ele.
Sei que ele ficou um tempo no estacionamento com o Adalberto, depois foi até vendido para um integrante de uma famosa dupla sertaneja (a mesma que foi cantar na inauguração em que o Dodge ficou exposto). Foi até gravado um programa de TV no estacionamento poucos dias depois que eu havia vendido-o e na data em questão, a Flávia achou melhor que eu não assistisse ao programa, devido ao estado que estava com a venda do Dodge, mas depois de um tempo, consegui o vídeo na internet, onde o apresentador até menciona (ao volante do carro e o acelerando) que o carro já estava vendido para o cantor da dupla sertaneja e ainda faz uma brincadeira dizendo que se este cantor não o tivesse comprado, ele o compraria. Mas não sei bem o que aconteceu, pois o carro acabou sumindo do estacionamento por um tempo e acabou voltando para o mesmo estacionamento alguns dias depois.
Depois de alguns meses, esse estacionamento fechou e todos os carros foram levados para outro local. Durante esse tempo, não sabia mais onde estava o Dodge, alguns amigos me diziam que tinham visto o carro rodando aqui ou ali, mas eu mesmo nunca mais o tinha visto.
Não aguentava mais responder para as pessoas, o que havia acontecido com o Dodge, em qualquer lugar que eu fosse eram sempre as mesmas perguntas:
- Cadê aquele carrão vermelho que você tinha? Por que vendeu? Não vai comprar outro para arrumar? etc.
Fiquei conhecido por algum tempo como o “rapaz dos carros antigos” na cidade, por pessoas que eu nem conhecia pessoalmente. Certa vez estava fazendo um eletrocardiograma num paciente da empresa em que trabalhava e ele me perguntou se eu era o “rapaz dos carros antigos”? Nunca havia visto o rapaz na vida, mas ele morava na mesma cidade que eu e não era difícil de ser reconhecido em uma cidade pequena tendo um carro tão chamativo.
Tenho que confessar que depois que vendi o Dodge, entrei numa espécie de “casulo” em relação a carros antigos, não participei ou frequentei mais nenhum encontro de carros antigos, apenas continuei comprando as revistas, relacionadas ao tema, das quais, também deixei de comprar muitas como fazia antigamente e passei a comprar apenas duas, uma especializada em veículos antigos originais e outra especializada em hot rod.
Tentei reprimir ao máximo esse amor por carros antigos e a melhor decisão no momento, foi me afastar de tudo que me fizesse lembrar do Dodge, sendo assim, decidi não procurar saber mais nada sobre o carro, o que estava acontecendo com ele, nem com quem estava, nem onde estava. Guardei todas as fotos dele e as que tinha em arquivo no computador, salvei em CD e apaguei, para não ficar revivendo as lembranças.
Quando algum amigo tentava entrar no assunto do carro eu, de uma maneira sutil, mudava de assunto. Havia realmente decidido que não queria mais saber do Dodge ou de qualquer outro carro antigo.
Meu pai nunca me falou nada a respeito da venda do Dodge, mas percebi que ele também ficou muito sentido, talvez até mais que eu! Pois, ele também nunca mais quis ir a nenhum encontro de carros antigos e nem mesmo as revistas que eu comprava sobre carros antigos ele queria folhear ou ler, como fazia antigamente, enquanto estávamos restaurando o Dodge.
Depois de algum tempo, foi inaugurado em Piracicaba um novo estacionamento de carros antigos, este não tendo nada a ver com o antigo estacionamento onde havia vendido o Dodge.
Por “muita” coincidência tinha que passar todos os dias em frente a esse estacionamento para ir ao trabalho e certo dia, fui envolvido por um sentimento saudosista e resolvi, por curiosidade, parar para ver os carros que estavam para venda no local e adivinhem que carro estava lá?
Isso mesmo, lá estava o meu velho “amigo”, o Dodge Kingsway 1957 para venda. O estacionamento estava fechado, mas da entrada dava para vê-lo entre outros vários carros que ali estavam.
Alguns meses depois, tive que levar minha esposa ao médico em Piracicaba e minha mãe resolveu nos acompanhar também. Na volta do médico, (como estava de folga do trabalho) resolvemos passar no estacionamento para ver os carros que ali estavam para venda.
Quando chegamos, fomos recepcionados por uma funcionária que nos deu permissão para ver todos os carros que ali estavam. Esse estacionamento era dividido por áreas, sendo que havia a área de carros para restauração, a área de restauração, onde eram feitas as partes de funilaria e pintura e outros detalhes e a área de carros prontos para a venda, chamada de showroom.
Apesar de estar “louco” de vontade de ir diretamente ao Dodge, disfarcei essa euforia e fui ver os outros carros.
Minha mãe e a Flávia nem perceberam que o Dodge estava na parte do showroom e também me acompanharam, primeiramente nos carros que estavam do lado de fora do estacionamento, aguardando restauração. Quando chegamos onde estava o Dodge, não deu para vê-lo direito, pois haviam muitos outros carros encostado a sua frente e ao seu lado, dificultando o acesso até ele, (nem sei como fizeram para colocar os carros tão próximos uns dos outros), mas de onde eu estava, dava para notar algo estranho no carro, parecia que estava muito diferente de quando eu o vendi, estava muito empoeirado e um pouco riscado na frente.
Mesmo que eu quisesse, não conseguiria chegar até onde ele estava, pois ele estava estacionado, bem no meio de outros carros, tanto na frente, quanto ao lado e atrás dele, sendo que o espaço para chegar até ele era muito apertado.
Como não dava para ver muita coisa, fomos embora, mas sinceramente essa imagem que havia visto não me saia da cabeça e apesar de estar um pouco receoso, prometi para eu mesmo que um dia voltaria para ver o carro mais detalhadamente.
Depois de alguns meses, estava de férias do trabalho, andando com o Gol do meu pai por Rio das Pedras, SP e o radiador simplesmente furou. Falei com meu pai por telefone e ele me disse para deixar o carro parado durante o resto do dia, pois ele iria falar com um rapaz que possui uma empresa especializada em radiadores em Piracicaba, SP para que eu levasse o carro para avaliação no dia seguinte bem de manhã.
Mais uma vez por acaso do destino (ou coincidência, ou sei lá como chamar isso), a empresa era a mesma que havia feito o radiador do Dodge há muitos anos atrás, só havia mudado de endereço e esse novo endereço era exatamente em frente ao estacionamento de carros antigos. Como combinado, cheguei cedo ao local e depois de uma avaliação, seria preciso retirar o radiador, para trocar sua parte superior, ele não havia furado, mas estava com um vazamento que só era percebido após o aquecimento do liquido do radiador e isso iria demorar quase uma hora.
Não tendo o que fazer por ali, resolvi ir até o estacionamento que havia acabado de abrir para tentar novamente ver o Dodge.
Dessa vez quem me recepcionou foi um senhor muito bem educado que estava limpando o local. Embora agora estivesse mais fácil o acesso até o carro, não fui direto até ele, fiquei conversando um pouco com o senhor na entrada do prédio, antes de ir ver o carro de perto.
Perguntei como quem não quer nada sobre aquele enorme carro vermelho de teto branco parado bem próximo de onde estávamos e sem saber que um dia ele fora meu, ele começou a me contar alguns fatos ocorridos com o carro.
Fiquei sabendo que o Dodge estava ali para venda sob responsabilidade do Adalberto, Esse senhor me disse que o último proprietário do carro bebia "um pouco além da conta" e um dia acabou batendo o Dodge num muro. Quando ele me disse isso quase não acreditei! Fiquei pensando comigo mesmo: levei tanto tempo para restaurar esse carro e o novo proprietário derruba um muro com ele!
Embora tivesse ocorrido esse acidente, nada ocorrera com o proprietário, foram apenas danos materiais e o carro já estava consertado.
Mas depois de algum tempo, o proprietário do carro faleceu. O velho senhor, não sabia me dar os detalhes, apenas disse que fazia algumas semanas que ele havia falecido e a viúva deixou a cargo do Adalberto vender o Dodge, pois ele era amigo da família.
Inclusive, entre outras coisas, ele me falou que o Adalberto também estava trabalhando nesse estacionamento.
Agradeci pela boa conversa e fui até o Dodge para vê-lo de perto, era aproximadamente oito horas da manhã e além desse senhor com quem eu havia conversado, não havia mais ninguém no prédio do estacionamento onde ele estava, apenas eu admirando o Dodge.
Confesso que admirando o carro de frente, senti um arrepio, pois há muito tempo não o via, mas o que vi me deixou decepcionado. O primeiro detalhe que me chamou a atenção foram os para-choques dianteiro desalinhados, depois a parte debaixo do capô do carro estava toda riscada, como se tivesse sido arranhado (acredito que alguém tentou abrir capô por ali, sem sucesso, arranhando toda a sua frente, pois a alavanca para abri-lo fica escondida). Já os retrovisores externos estavam tortos, virados para baixo (até tentei voltá-los no lugar, mas os mesmos não paravam mais na posição correta, era colocá-los no lugar para que eles se voltassem para baixo), quando cheguei à janela do motorista que estava aberta, senti aquele maravilhoso cheiro de carro antigo vindo de dentro do Dodge, do qual há algum tempo já havia me esquecido.
Sentindo esse cheiro fui remetido novamente ao passado, ao meu próprio passado e parece que tudo o que deixei “fechado naquele casulo” para não sofrer tanto com a venda do Dodge voltou a me atormentar com toda força.
Parece que passou um filme na minha cabeça, em poucos minutos, parado ao lado do carro, parece que fui acometido de uma espécie de “transe”. Lembrei da primeira vez que o vi por foto, depois pessoalmente, naquele barracão totalmente abandonado, a imagem que tive dele pronto, quando ainda estava no barracão, como admirei cada detalhe, cada ângulo dele, todas as dificuldades que passei para restaurá-lo, das coisas que deixei de comprar para terminar sua restauração e muitas outras coisas, tudo isso em questão de minutos.
Quando “voltei à realidade”, senti uma forte vontade de abrir a porta e sentar novamente atrás daquele enorme volante branco, com detalhes pintados em vermelho, e o aro de buzina cromado, mas me contive e apenas olhei como estava o interior do carro.
Dentro do carro estava horrível, o rádio estava quebrado, sem seu vidro e os números de estações. Alguém havia trocado o miolo da chave de contato que era cromado por uma cinza, que mais parecia ser de um caminhão e ainda conseguiu riscar e amassar o acabamento cromado que fica bem abaixo dele. Já o carpete ainda era o mesmo que deixei, porém à parte do carpete do lado do motorista estava solto, voltado para cima do banco dianteiro, as luzes de cortesias que ficavam escondidas de baixo do painel estavam penduradas, fora do acabamento do painel, onde deveriam estar fixadas, olhei a parte de trás por dentro do carro e vi que as maçanetas traseiras estavam caídas no assoalho do carro, o descanso de braço do lado direito estava rasgado, o banco traseiro estava solto na parte do assento, deixando um enorme buraco entre o assento e o encosto e os frisos cromados que havia colocado nas portas como acabamentos estavam soltos. Fui olhar a parte traseira fora do carro e o friso da ponta do rabo-de-peixe já estava com sinais de oxidação, até parecia que alguém havia areado este friso com uma lixa, ele também já estava sem as calotas e com as rodas riscadas.
Fiquei novamente olhando para o Dodge e pensando em tudo o que havia feito nesse carro, tudo o que havia passado para deixá-lo quase como havia saído da fabrica em 1957 e vendo o estado dele agora, sai do estacionamento desolado.
O mais interessante é que ainda não havia ninguém no estacionamento, apenas o mesmo senhor que havia me recepcionado, limpando a parte superior do estacionamento, o qual parecia ser um escritório e acredito que ele nem me viu sair.
Quando cheguei em casa, ficava relembrando o estado em que estava o carro, então não me contive e liguei no estacionamento para saber qual o valor pedido pelo carro. Quem me atendeu foi o proprietário do estacionamento, que havia acabado de chegar e após uma breve conversa sobre o carro, ele me disse que estava pedindo R$50.000,00 reais por ele do jeito que estava. Agradeci pela informação e desliguei o telefone com um sentimento de impotência, não podia fazer mais nada pelo carro. Depois desse dia, nunca mais vi ou ouvi falar do Dodge. Se tivesse condições financeiras, compraria o Dodge de volta para deixá-lo como realmente ele merece, com o tão sonhado motor V8, câmbio automático e as calotas originais cromadas, mas infelizmente, como não tenho.
Minha esperança é que algum apaixonado por carros antigos (até mais que eu!), um dia o compre e devolva o glamour que esse carro merece.
Mas no momento, o destino quis que ele voltasse a ficar como quando o encontrei a muitos anos atrás, encostado, empoeirado, com os pneus meio murchos, precisando ser novamente reformado, no fundo de um barracão junto de outros carros antigos, aguardando pacientemente por um novo proprietário.
Quanto a mim, também voltei a participar de encontros de carros antigos e por coincidência, o primeiro que frequentei junto com meu pai, foi exatamente o encontro de carros antigos aqui de Rio das Pedras, SP. Parece que tanto em mim, como em meu pai, aquela velha paixão por carros antigos voltou com toda força, agora vejo que essa “paixão” por carros antigos provavelmente nunca vai me abandonar.
Por mais que me recuse a aceitar, que a contrarie ou que a tente reprimi-la, não adianta, essa “loucura” por carros antigos parece que já estava no meu DNA mesmo antes de eu nascer e depois da venda do Dodge, só aumentou.
Hoje, onde escuto falar que tem um carro antigo abandonado, parado ou encostado, lá vou eu junto de minha máquina fotográfica para verificar se é fato verídico ou apenas mais uma lenda urbana de carros antigos abandonados. Às vezes vou sozinho, as vezes com os amigos e as vezes meu pai me acompanha, sendo assim, certo dia, também fomos juntos ver um “velho” carro já conhecido nosso, o velho Bel Air 1951 da fazenda, que também espera por restauração.
Acima e
abaixo, Chevrolet Bel Air 1951...
Aguardando restauração...
Acima, eu ao lado do Chevrolet Bel Air 1951.
Acima, meu pai e eu. A
paixão por carros antigos voltou.
Posso dizer que depois de tudo isso, o que mais me deixa frustrado, é que mesmo com tantas Plymouth 1957 e 1958 que apareceram, tanto para venda, como as que encontrei na internet e revistas, nunca consegui ver nenhuma pessoalmente! Acredito que estou predestinado a viver “perseguindo” esse sonho.
Já o sonho que um dia foi meu, hoje, provavelmente, já repousa em outra garagem e pertence à outra pessoa, mas isso não me impede de começar a sonhar novamente.
Como já disse antes, quem sabe o que o futuro me reserva?
Observações:
O
principal objetivo que me levou a escrever essa história foi para mostrar que
todos temos sonhos, não importando nem idade, nem condições financeiras, e
principalmente para incentivar a quem tem um sonho e ainda não o realizou, a
nunca desistir e nem deixar de sonhar, sempre lute pelos seus sonhos.
Esse relato começou com um álbum de fotos da restauração do carro, no qual escrevia entre as fotos, detalhes sobre as mesmas, mas cada vez que alguém via as fotos e lia as observações que estavam escritas em baixo, me faziam tantas perguntas que tinha que perder quase uma hora contando a história (bem resumida) do que havia acontecido e por mais que respondesse as perguntas, sempre depois de uma pergunta vinha outra pergunta mais complicada de responder.
Posso afirmar que escrever esse relato, foi uma espécie de “quebra cabeça”, pois tinha algumas fotos espalhadas em álbuns, algumas no computador e as lembranças na minha cabeça, para juntar tudo levou mais de quatro anos. Perdi a conta de quantas vezes foi necessário ler e reler para ver se tudo havia se encaixado perfeitamente, isso sem falar no título, que devo ter trocado umas quinze vezes, mas como o velho álbum de fotos mais parecia um diário da restauração do carro, resolvi chamá-lo de Diário de um sonho, pois, além de contar a história da restauração do carro, também acabou focando um pouco da minha história.
Tudo que foi escrito aqui é verdade, realmente ocorreram todos os fatos descritos e outros que acredito eu, não foram necessários mencionar, pois não acrescentavam nada a história.
Da parte pessoal, minha e de minha esposa, escrevi apenas o necessário e mesmo parecendo muito, posso afirmar que não foi nem metade de tudo que ocorreu, pois mesmo não sendo esse o enfoque principal da história, foi necessário contá-lo, para entender o motivo de meus atos.
Posso dizer que tudo pelo que passei ao lado de minha esposa, me ajudou a me transformar numa pessoa melhor, mais voltada a solidariedade e ao humanismo, pois serviu para abrir meus olhos e me mostrar como realmente me importava com ela e não sabia.
Dizem que uma pessoa só dá valor a alguma coisa quando a perde e foi necessário quase perdê-la para que realmente eu percebesse o que realmente sentia por ela.
Embora não seja apegado a religião, acredito em Deus e acredito também (como diz o ditado popular) que ele escreve certo por linhas tortas. Tinha que passar por tudo o que passei para aprender que a vida não é fácil, mas que também sem batalhas não há a glória da vitória.
Voltado para o assunto de carros antigos, também descobri e senti “na pele” o preconceito com carros transformados em hot rods ou street rods e por mais que digam que o cenário que diz respeito aos carros transformado está mudando, acredito que ainda vai demorar muito para nos igualarmos aos Estados Unidos, onde esse tipo de carro já faz parte da cultura nacional.
Em alguns encontros que participei antes da restauração do Dodge, os organizadores deixavam os hot’s junto dos carros nacionais numa área um pouco afastada do evento, praticamente excluindo ambos os tipos de carros, sem se dar conta de que às vezes esse tipo de carro acaba chamando mais a atenção do que muitos carros originais e importados que estão no evento.
Certo dia um senhor que se diz “colecionador” viu o anuncio do meu carro e me ligou para perguntar a respeito e quando lhe disse que o mesmo estava transformado em street rod, ele simplesmente desligou o telefone na minha cara.
Não quero começar uma discussão entre quem é purista em relação aos carros antigos e quem é fanático por carros modificados, mas sinceramente prefiro ver um carro transformado em hot ou street, do que vê-lo sendo sucateado ou derretido em alguma metalúrgica, como aconteceu na década de 70 com vários clássicos devido ao preço da gasolina ou até mesmo apodrecendo num ferro velho.
Acredito que se um carro tem condições de ser restaurado nos padrões originais e seu proprietário tem condições de assim fazê-lo, fica a seu critério que tipo de restauração ele vai realizar.
Já vi, por exemplo, um empresário comprar um Ford Thunderbird todo original, já restaurado e assim mesmo transformá-lo num dos mais belos hot rod do Brasil.
Então você deve estar se perguntando:
- Mas qual seria o meu tipo preferido de carro, hot rod, street rod, rat rod, custom ou original?
Minha resposta é bem simples, meu tipo preferido de carro é o carro antigo que funcione! E funcione bem por sinal. Quer ouvir um bom exemplo?
Estava certa vez, num encontro de carros e pick-up’s em Águas de São Pedro observando um clássico da década de 50, totalmente original, até mesmo o filtro de combustível era do mesmo modelo original de época, muito bem restaurado em cada detalhe.
Tão bem restaurado que ganhou até um prêmio no evento, mas na hora de ir receber o prêmio, o carro não funcionou e para tentar funcionar o carro, o proprietário ficava girando a chave na partida enquanto uma outra pessoa ficava com uma chave de fenda, dando leves batidas com o cabo da chave no carburador.
Moral da história:
O carro não funcionou e o proprietário teve de ir buscar o prêmio a pé.
Esse mesmo proprietário possui alguns outros veículos, transformado em hot e conversando com ele em outro evento, me disse que prefere muito mais seus hot’s do que esse seu carro original.
Ele me disse que apesar de estar em condições idênticas de quando saiu da fábrica na década de 50, esse carro participa de vários encontros, mas sempre vai até eles rebocado em carreta e isso é muito sem graça, pois o bom de se ter um carro antigo, não é exibi-lo, mas sim aproveitá-lo o máximo possível. Concordo com ele e faço de suas palavras as minhas, se um dia tiver a oportunidade de ter outro carro antigo, espero deixá-la o mais original possível externamente, mas mesmo assim, faço questão de atualizar os itens de segurança como, por exemplo, colocar freios a disco, cintos de segurança de três pontas entre outros e dar uma “apimentada” no seu motor, pois se na época já eram bons, imagine com a nossa tecnologia, como podem ficar. Espero que tenham gostado e deixo uma mensagem final que pode traduzir um pouco do sentimento que muitos têm em relação ao seu carro.
A gente nasce, cresce e nunca deixa de ser criança. O que muda é o tamanho do brinquedo.
Obrigado.
Esse relato começou com um álbum de fotos da restauração do carro, no qual escrevia entre as fotos, detalhes sobre as mesmas, mas cada vez que alguém via as fotos e lia as observações que estavam escritas em baixo, me faziam tantas perguntas que tinha que perder quase uma hora contando a história (bem resumida) do que havia acontecido e por mais que respondesse as perguntas, sempre depois de uma pergunta vinha outra pergunta mais complicada de responder.
Posso afirmar que escrever esse relato, foi uma espécie de “quebra cabeça”, pois tinha algumas fotos espalhadas em álbuns, algumas no computador e as lembranças na minha cabeça, para juntar tudo levou mais de quatro anos. Perdi a conta de quantas vezes foi necessário ler e reler para ver se tudo havia se encaixado perfeitamente, isso sem falar no título, que devo ter trocado umas quinze vezes, mas como o velho álbum de fotos mais parecia um diário da restauração do carro, resolvi chamá-lo de Diário de um sonho, pois, além de contar a história da restauração do carro, também acabou focando um pouco da minha história.
Tudo que foi escrito aqui é verdade, realmente ocorreram todos os fatos descritos e outros que acredito eu, não foram necessários mencionar, pois não acrescentavam nada a história.
Da parte pessoal, minha e de minha esposa, escrevi apenas o necessário e mesmo parecendo muito, posso afirmar que não foi nem metade de tudo que ocorreu, pois mesmo não sendo esse o enfoque principal da história, foi necessário contá-lo, para entender o motivo de meus atos.
Posso dizer que tudo pelo que passei ao lado de minha esposa, me ajudou a me transformar numa pessoa melhor, mais voltada a solidariedade e ao humanismo, pois serviu para abrir meus olhos e me mostrar como realmente me importava com ela e não sabia.
Dizem que uma pessoa só dá valor a alguma coisa quando a perde e foi necessário quase perdê-la para que realmente eu percebesse o que realmente sentia por ela.
Embora não seja apegado a religião, acredito em Deus e acredito também (como diz o ditado popular) que ele escreve certo por linhas tortas. Tinha que passar por tudo o que passei para aprender que a vida não é fácil, mas que também sem batalhas não há a glória da vitória.
Voltado para o assunto de carros antigos, também descobri e senti “na pele” o preconceito com carros transformados em hot rods ou street rods e por mais que digam que o cenário que diz respeito aos carros transformado está mudando, acredito que ainda vai demorar muito para nos igualarmos aos Estados Unidos, onde esse tipo de carro já faz parte da cultura nacional.
Em alguns encontros que participei antes da restauração do Dodge, os organizadores deixavam os hot’s junto dos carros nacionais numa área um pouco afastada do evento, praticamente excluindo ambos os tipos de carros, sem se dar conta de que às vezes esse tipo de carro acaba chamando mais a atenção do que muitos carros originais e importados que estão no evento.
Certo dia um senhor que se diz “colecionador” viu o anuncio do meu carro e me ligou para perguntar a respeito e quando lhe disse que o mesmo estava transformado em street rod, ele simplesmente desligou o telefone na minha cara.
Não quero começar uma discussão entre quem é purista em relação aos carros antigos e quem é fanático por carros modificados, mas sinceramente prefiro ver um carro transformado em hot ou street, do que vê-lo sendo sucateado ou derretido em alguma metalúrgica, como aconteceu na década de 70 com vários clássicos devido ao preço da gasolina ou até mesmo apodrecendo num ferro velho.
Acredito que se um carro tem condições de ser restaurado nos padrões originais e seu proprietário tem condições de assim fazê-lo, fica a seu critério que tipo de restauração ele vai realizar.
Já vi, por exemplo, um empresário comprar um Ford Thunderbird todo original, já restaurado e assim mesmo transformá-lo num dos mais belos hot rod do Brasil.
Então você deve estar se perguntando:
- Mas qual seria o meu tipo preferido de carro, hot rod, street rod, rat rod, custom ou original?
Minha resposta é bem simples, meu tipo preferido de carro é o carro antigo que funcione! E funcione bem por sinal. Quer ouvir um bom exemplo?
Estava certa vez, num encontro de carros e pick-up’s em Águas de São Pedro observando um clássico da década de 50, totalmente original, até mesmo o filtro de combustível era do mesmo modelo original de época, muito bem restaurado em cada detalhe.
Tão bem restaurado que ganhou até um prêmio no evento, mas na hora de ir receber o prêmio, o carro não funcionou e para tentar funcionar o carro, o proprietário ficava girando a chave na partida enquanto uma outra pessoa ficava com uma chave de fenda, dando leves batidas com o cabo da chave no carburador.
Moral da história:
O carro não funcionou e o proprietário teve de ir buscar o prêmio a pé.
Esse mesmo proprietário possui alguns outros veículos, transformado em hot e conversando com ele em outro evento, me disse que prefere muito mais seus hot’s do que esse seu carro original.
Ele me disse que apesar de estar em condições idênticas de quando saiu da fábrica na década de 50, esse carro participa de vários encontros, mas sempre vai até eles rebocado em carreta e isso é muito sem graça, pois o bom de se ter um carro antigo, não é exibi-lo, mas sim aproveitá-lo o máximo possível. Concordo com ele e faço de suas palavras as minhas, se um dia tiver a oportunidade de ter outro carro antigo, espero deixá-la o mais original possível externamente, mas mesmo assim, faço questão de atualizar os itens de segurança como, por exemplo, colocar freios a disco, cintos de segurança de três pontas entre outros e dar uma “apimentada” no seu motor, pois se na época já eram bons, imagine com a nossa tecnologia, como podem ficar. Espero que tenham gostado e deixo uma mensagem final que pode traduzir um pouco do sentimento que muitos têm em relação ao seu carro.
A gente nasce, cresce e nunca deixa de ser criança. O que muda é o tamanho do brinquedo.
Obrigado.
Acima, família
Ortolani (foto de 2007 um dia antes de levar o carro para o estacionamento de carros antigos), da esquerda para direita, meu pai José Luiz junto de minha mãe Vera
Lucia, ao lado, minha esposa Flávia e eu juntos do Dodge Kingsway 1957. Um
sonho realizado.
Dedicatória
Como mencionei no
início, agradeço a todas as pessoas que me ajudaram de forma direta
ou até mesmo indiretamente na restauração desse carro, mesmo quando me chamavam de louco, era como um incentivo para mostrar que minha loucura um dia seria motivo de orgulho, a minha esposa, mãe e
família, mas tenho que deixar um agradecimento mais que especial a um homem que
mesmo sabendo que o que eu estava fazendo algumas vezes era considerado por
muitos como loucura, sempre na medida do possível, me apoiou e me incentivou. Tivemos grandes discussões e passamos grandes momentos juntos.
Para mim ele é mais que um homem, ele é um verdadeiro herói e devo minha vida a ele.
Muito obrigado por tudo Pai, espero que Deus ainda lhe dê muita saúde e paciência para novamente me ajudar, quando eu comprar um “novo” carro antigo.
Para mim ele é mais que um homem, ele é um verdadeiro herói e devo minha vida a ele.
Muito obrigado por tudo Pai, espero que Deus ainda lhe dê muita saúde e paciência para novamente me ajudar, quando eu comprar um “novo” carro antigo.
Você ainda tem o contato de onde você mandou fazer o parabrisas?
ResponderExcluirRespondido por e-mail, obrigado Marcos, espero ver seu carro terminado em breve, me fez voltar ao passado com as fotos que você me enviou...
ExcluirO Plymouth Cury preto e vermelho esta pedido quanto?
ResponderExcluirE bela matéria só apaixonado por carro com rabo de peixe