Se você, assim como eu, já assistiu a algum filme
da franquia Mad Max (o último, lançado em 2015) provavelmente ficou com uma
dúvida: Como depois de um apocalipse nuclear (após o segundo filme da franquia),
ainda conseguem encontrar tanta gasolina para rodarem com carros (na maioria V8
e com blower) se até água é difícil de encontrar? (tudo bem, eu sei que é filme e tudo é possível).
Aí você pode até ficar curioso:
E se isso realmente acontecesse um dia, qual
seria a alternativa para substituir a gasolina ou o álcool como combustível?
Pois bem, saiba que isso já aconteceu e com a falta de combustível fóssil e por não haver na época o GNV (gás
natural veicular), nem álcool como combustível, a alternativa foi usar o gasogênio.
Recentemente "viralizou" no Facebook um vídeo de
um Chevrolet de luxe 1951 quatro portas, aqui do Brasil mesmo, rodando normalmente
com gasogênio e muitos me perguntaram se eu já tinha visto tal aparelhagem
acoplada na parte traseira de um veículo, como foi feito nesse Chevrolet. A
resposta foi sim, principalmente por que um carro com um aparato desses não
passa despercebido em qualquer lugar e vamos, com certeza, assim que ver um
carro montado com um kit de gasogênio, lembrar dos carros adaptados do já
citado filme Mad Max.
Chevrolet de luxe 1951 que está "bombando" nas redes sociais.
Mas o que é gasogênio?
Gasogênio é
um equipamento que produz gás combustível
para alimentar motores de
combustão interna. Convertem matérias primas sólidas e líquidas em gás.
Limitando o fornecimento de ar para a queima, o gasogênio realiza
uma combustão/oxidação incompleta, resultando no processo de gaseificação/gasificação, que produz
uma mistura de gases genericamente conhecida como gás de síntese. Tipicamente, são gerados
CO (monóxido de carbono), N2 (nitrogênio),
CO2 (dióxido de
carbono), H2(hidrogênio) e CH4 (metano).
Dependendo da matéria
prima usada, o gás de síntese
gerado recebe diferentes nomes: gás
de madeira, gás de cidade (gás de carvão), gás
de água e gás
pobre.
Atualmente, a literatura técnica sobre esta tecnologia encontra-se em domínio público. Gasogênios podem ser
fabricados com relativa facilidade, utilizando materiais de baixo custo e fácil aquisição.
A gaseificação/gasificação tinha
sido uma tecnologia importante e comum que foi amplamente usada
para gerar gás de carvão, principalmente para fins
de iluminação pública e residencial durante
o século XIX e início do século XX.
Quando os primeiros motores estacionários de combustão interna
com base no ciclo Otto tornaram-se disponíveis
na década de 1870, começaram a substituir as máquinas a vapor como motores primários em
muitos trabalhos que requerem força motriz estacionária. A adoção foi acelerada
após a patente do motor Otto expirar
em 1886.
O potencial e aplicabilidade prática da gaseificação para motores de combustão
interna foram bem compreendido desde os primeiros dias de seu desenvolvimento.
Na França,
por volta de 1920 o inventor Georges
Imbert criou o "gasogênio
Imbert" e, em 1936, Louis Libault patenteou
o gasogênio para carvão vegetal "Gazauto".
Segunda guerra mundial Durante a Segunda Guerra Mundial, a gasolina era
racionada e escassa. Na Grã-Bretanha, França, Estados
Unidos e Alemanha, um grande número de gasogênios foram construídos ou
improvisados para converter madeira e carvão em
combustível para veículos. Gasogênios comerciais estavam em produção antes e
depois da guerra para uso em circunstâncias especiais ou em economias em
dificuldades.
Mesmo em países não combatentes, como Suécia ou Brasil,
o gasogênio era popular uma vez que o petróleo tornou-se
difícil de obter. No Brasil, o piloto Chico Landi (o
"rei do gasogênio") foi
campeão de automobilismo em 1943, 1944 e 1945, pilotando carros
equipados com gasogênios e movidos a gás de carvão vegetal.
Carros de corrida equipado com gasogênio.
Pós-guerra Em 1979, ocorreu a
segunda crise do petróleo e o uso do gás pobre em
veículos voltou a ser cogitado no Brasil. Dois anos depois, a revista
automotiva brasileira Quatro Rodas avaliou
o desempenho de uma caminhonete Chevrolet C-10 equipada
com gasogênio.
Caminhonete Chevrolet C-10 equipada com gasogênio.
A Agência Federal de Gestão de Emergências (FEMA) dos EUA, publicou um
livro em Março de 1989, descrevendo como
construir um gerador de gás em caso de emergência, quando o petróleo não
estiver disponível.
Tipos de Gasogênios:
Os tipos de gasogênios variam de acordo com alguns
fatores: forma de funcionamento, direção do fluxo do ar e do gás gerado, tipo
de combustível usado (madeira, carvão vegetal/mineral, etc.) e, do tipo de
reação usada (gaseificação, gasificação ou pirólise).
Existem também os denominados gaseificadores de leito arrastado. Vem sendo realizadas
pesquisas com plasma.
O objetivo destas, é produzir combustíveis líquidos e gasosos provocando pirólise pelo
aproveitamento das altas temperaturas do dispositivo conhecido como tocha de plasma
Madeira:
O gasogênio de madeira deve se reunir num
único aparelho uma zona de carbonização e
uma de gaseificação.
O tipo mais comum é o gasogênio de bocal, que é um estreitamento através do
qual os gases são forçados a passar através da zona incandescente causando
a cisão térmica (craqueamento) da maioria dos ácidos e alcatrões.
Na verdade, é importante remover estas substâncias que danificam o motor. O
bocal, nesta configuração, deve suportar temperaturas elevadas.
Em uso veicular:
É criada uma sucção por uma bomba de ar elétrica para iniciar a queima do
combustível. O gasogênio permanece isolado do motor por um regulador de pressão na admissão.
O gás é inflamado à saída da bomba de ar para verificar a sua qualidade; quando
esta é boa, a bomba é desligada e o regulador de isolamento é aberto. Define-se
a riqueza máxima da mistura e o motor de
arranque é acionado.
Tudo isso deve ser feito rapidamente para não sufocar o gasogênio. Depois de ligado o motor, é necessário ajustar constantemente a riqueza, às vezes o
avanço da ignição, e a marcha lenta.
Combustível de partida:
O veículo em que o gasogênio está instalado,
deve estar equipado para operar com outro combustível (gasolina, álcool combustível, etc.). A válvula de mistura
é aberta para criar o vácuo necessário para a ignição do gerador
de gás com o motor ligado.
Manutenção:
Diária:
Abastecimento do reservatório de combustível.
Limpeza das cinzas no queimador.
Esvaziar ventuinhas e filtros (gasogênio a
madeira).
Limpeza do bocal e
do reservatório do queimador, para remover resíduos (gasogênio de carvão).
Semanal:
Esvaziamento e limpeza dos filtros secos e
úmidos
Verificar a estanqueidade do conjunto.
Vantagens e
desvantagens:
O uso de gasogênios apresenta vantagens e
desvantagens sobre o uso de combustíveis derivados do petróleo:
Podem ser utilizados para trabalhar em motores de combustão interna (ou turbinas a
gás, para a máxima eficiência) utilizando madeira, um recurso
renovável, e na ausência de petróleo ou gás natural,
por exemplo, durante carência de combustível.
Tem um ciclo de
carbono fechado,
contribuindo menos para o aquecimento global, são ambientalmente
sustentáveis.
Podem ser fabricados com relativa facilidade em
momentos de crise energética utilizando materiais baratos de fácil aquisição.
Apresentam uma queima mais limpa do que a
madeira a gasolina (sem controles de emissões),
produzindo pouca ou nenhuma fuligem.
Atinge seu seu verdadeiro potencial quando
usado em aplicação estacionária, como é viável para uso
em cogeração de pequena escala (com recuperação de
calor do gerador de gás e, possivelmente, o motor/gerador,
por exemplo). E, para hidrônica (produção de água quente para
aquecimento residencial), mesmo em países industrializados durante períodos de
conjuntura favorável, desde que a oferta de madeira seja suficiente.
Instalações de grande escala podem prover benefícios ainda maiores, e são úteis
para o aquecimento urbano.
Desvantagens:
Grande volume.
Velocidade de partida relativamente lenta. O
tempo para aquecer uma quantidade de madeira para o nível de temperatura
necessária pode levar muitos minutos e em plantas maiores até mesmo horas até
que a energia necessária seja atingida.
Em alguns projetos, a velocidade da queima,
pode interromper regularmente o processo de produção de gás.
A operação de paragem é difícil (por exemplo,
na paragem do motor utilizando o gás): o calor residual ainda produzirá gás,
que durante um certo tempo deixa o gaseificador, quer sem controle, ou tem de
ser consumido por um queimador.
O gás combustível primário produzido durante a
gaseificação é o monóxido de carbono: produzido
intencionalmente, e posteriormente queimado em dióxido de carbono pelo motor , juntamente com os gases
combustíveis restantes. No entanto, a exposição contínua ao monóxido de carbono
pode ser fatal para os seres humanos mesmo em pequenas concentrações
moderadas.
A umidade da madeira (geralmente 15 a 20%) e o vapor de água criado pelos átomos de oxigênio e hidrogênio contidos na mesma (cerca de 0,4 litros de água carregada com substâncias
orgânicas, por kg de madeira seca). A condensação do gás, resfriamento e processo de
filtragem produzem alcatrão vegetal, que
necessita tratamento de águas residuais específico. Este tratamento requer
cerca de 25 a 35% da energia do gás criado.
Segurança:
Quando construído e usado de forma descuidada,
existe um considerável potencial para acidentes com ferimentos e mortes pois,
o gás pobre contém
uma grande percentagem de CO (monóxido de carbono) um gás venenoso.
Gasogênios de design comprovado
e construção exaustivamente testados são considerados seguros para uso ao ar
livre, ou em espaços parcialmente fechados, por exemplo, debaixo de um abrigo
aberto pelos lados. Podem também ser considerados relativamente seguros para
uso em áreas internas extremamente bem ventiladas (por exemplo, através
de pressão negativa) áreas internas separadas de
quaisquer áreas cobertas usadas para dormir, equipada com detectores de
gás inspecionados regularmente e alimentados independentemente por baterias.
No entanto, é prudente que qualquer projeto de gaseificação experimental deva
ser exaustivamente testado apenas ao ar livre, com um "amigo" presente
em todos os momentos, com vigilância constante para qualquer sinal de dor de cabeça, sonolência,
ou náusea,
que são os primeiros sintomas de envenenamento por monóxido de carbono.
Além disso, misturas de quantidades excessivas de
ar e gás pobre devem ser evitadas, pois podem levar à explosão do
gás em questão se uma fonte de combustão está
presente. O armazenamento a longo prazo do gás pobre, exceto através do emprego
de gasômetro,
não deve ser feito, devido aos elementos voláteis presentes no gás, o qual, se
deixado precipitar em excesso, irá condensar
no recipiente de armazenamento. Sob nenhuma circunstância deve ser comprimido para
além de 1 bar (15 PSI)
acima da temperatura ambiente, pois isso pode
induzir a condensação de compostos voláteis,
elevando o risco de morte devido a envenenamento por monóxido de carbono e por
vazamentos com risco de explosão.
Na França:
Em 1940, o governo
francês tratou da questão dos gasôgenios criando o Service des
Gazogènes. Subordinado ao Direction des Industries Mécaniques et
Electriques du Secrétariat d’Etat à la Production
Industrielle (Departamento das Indústrias Mecânica e Elétrica da
Secretaria do Estado para a Produção Industrial). Esta organização foi
complementada com a criação, em 28 de Outubro de 1941,
da Commission Technique des Gazogènes.
A fabricação e uso de
gasogênios, que até então não haviam sido regulamentados, o foram por uma lei em 27
de Agosto de 1940, regulando a circulação de automóveis (J.O. - Journal
officiel de la République française, 30 de Agosto de 1940), e por um despacho em 18
de Setembro de 1940, corrigida em 12 de Março de 1941, que
regulamenta as condições de distribuição e equipamento dos veículos motorizados
(J.O. de 19 de Setembro de 1940 e 4 de Abril de 1941).
No Brasil:
O
primeiro uso de gasogênios no Brasil teria ocorrido na década de
1910, nas áreas de fundição e mineração. Em 1925, numa mensagem ao congresso brasileiro, o presidente Artur
Bernardes informou
sobre experiências positivas com gasogênios. No final da década de
1920, era empregado na geração de eletricidade. Para incentivar o
uso do gás pobre,
uma exposição de veículos equipados com gasogênios foi realizada em fins de 1938 e estes fizeram o percurso do Rio de Janeiro a São Paulo a Curitiba.
Em 1944, num esforço de propaganda, o governo produziu o documentário curta-metragem Nosso amigo, o gasogênio. Várias empresas do país fabricaram estes equipamentos, dentre as quais: São Paulo (de propriedade do piloto Chico Landi), Securit, Laminação Nacional de Metais e Lorenzetti. Com o fim do conflito e a normalização nas importações de petróleo, o Brasil abandonou o uso do gás pobre produzido por gasogênios.
Hoje em dia, é muito difícil encontrar um carro que ainda rode com esse tipo de aparelho, alguns estão em exposição em museus pelo mundo, mas aqui no Brasil, ainda temos pelo menos o valente Chevrolet 1951 usando tal recurso.
Abaixo,
alguns carros equipados com o sistema de gasogênio:
Acima, um American Bantam,
modelo 60 Coupé, possivelmente de 1937. Foto pertencente ao
Guilherme Pires.
Gostaria de conseguir um esquema de fácil explicação sobre como fazer um kit de Gasogênio Automotivo obrigado
ResponderExcluir.
Excluirhttps://www.youtube.com/watch?v=wMOO5ndQe0Q&t=2s
ExcluirAlem de fazer o aparelho é preciso aprender a forma de liga-lo e regular a mistura de gás gerado com o ar. Tipo assim: alguém pode te dar um carro com um gasogenio novinho mas se você não souber como liga-lo e fazer a mistura o carro nao vai sair do lugar. Mas não é difícil não. A lenha ou carvão nao podem se de quaisquer tamanhos não, geralmente os pedaços tem que de de certa de 3 a 7 centímetros de tamanho (cerca do taamnho de uma caixa de fosforos normal. A lenha ou carvão devem estar bem secos. Lenha fresca nao funciona e nem começa a pegar fogo para o gasogenio funcionar. Pesquise GASIFIER (EM INGLES) NO YOUTUBE E VOCE VAI VER MUITOS GASOGENIOS FABRICADOS DE FORMA CASEIRA
ExcluirPrecizo fazer um gasogenio para um motor estacionario ...modelo cimplificado se alguem coseguir ficaria muito agradecido
ResponderExcluirhttps://www.youtube.com/watch?v=wMOO5ndQe0Q&t=2s
ExcluirAlem de fazer o aparelho é preciso aprender a forma de liga-lo e regular a mistura de gás gerado com o ar. Tipo assim: alguém pode te dar um carro com um gasogenio novinho mas se você não souber como liga-lo e fazer a mistura o carro nao vai sair do lugar. Mas não é difícil não. A lenha ou carvão nao podem se de quaisquer tamanhos não, geralmente os pedaços tem que de de certa de 3 a 7 centímetros de tamanho (cerca do taamnho de uma caixa de fosforos normal. A lenha ou carvão devem estar bem secos. Lenha fresca nao funciona e nem começa a pegar fogo para o gasogenio funcionar. Pesquise GASIFIER (EM INGLES) NO YOUTUBE E VOCE VAI VER MUITOS GASOGENIOS FABRICADOS DE FORMA CASEIRA E MODO DE INICIAR O FUNCIONAMENTO DO GASOGENIO. D.a.
ExcluirEu fiz um gerador olhando os projetos que tem e deu certo
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